Vivendo sob tortura.( Pietro)

1185 Words
"O pior de uma tortura, emocional, física ou psicológica. Não é a intensidade, é a duração." Por: Pietro. Estou aqui em frente ao espelho do banheiro, vendo o meu sangue tingir a água que sai da torneira e ir embora pelo ralo. Meu corpo treme de ódio. _ Que diabos, aquela garota... Caramba! - brado entre dentes. A dor que sinto nos ferimentos é menor do que presenciar alguém tentando invadir o santuário que guarda o meu passado. Pego uma toalha e envolvo a minha mão castigada pela minha fúria desenfreada. Estou há dois dias sem conseguir fechar os olhos. Mais uma vez, virei a noite vagando pela madrugada como uma alma penada, à procura de uma vítima para assombrar. Desta vez fiquei no solário, contemplei a noite fria e tudo o que ela me trouxe. As lembranças dos jantares românticos que muitas vezes fiz naquele lugar, tendo as estrelas como testemunhas do meu amor por ela. Lembranças das vezes que provei do seu corpo em cima do capô do meu carro, sendo escondidos pelo manto do breu. Tudo tão sublime, coroado com tanta ternura e entrega. E de tudo isso o que restou foi o vazio e o frio. Me sinto preso na escuridão, onde sequer consigo enxergar meu próprio corpo. Estou sofrendo a pior das torturas de que já fui alvo na vida. Abro a gaveta do armário e pego o material necessário para fazer um curativo na mão. Estou aplicando uma dose generosa de pomada quando, do nada, lembro dos olhos assustados da garota abelhuda. Vi nas duas esmeraldas que carrega na face a névoa do medo dominando as suas íris verdes. Hoje, mais cedo, quando fui em busca de uma xícara de cappuccino na cozinha, vi a pequena com o seu olhar perdido na paisagem lá fora. Ela estava iluminada, vestindo roupas em tons claros. No entanto, algo me incomodou quando, alheia à minha ávida observação, ela arrumou os fios ondulados de um lado só, agrupando-os em cima do seu ombro esquerdo. A pele alva do seu pescoço ficou à mostra, vi sua jugular pulsando, seus lábios rosados abriram uma pequena fresta e seus cílios fartos piscaram lentamente. Algo em mim ferveu. O susto foi grande; me vi ali, torpe diante da sensação inusitada que despertou em meu corpo. "Que p***a é essa agora?"- perguntei- me. Pensei em sair dali, mas algo me impelia a continuar olhando a fedelha, até que ela virou-se e me flagrou. Sustentei a máscara fria que tenho no rosto; ela ficou desconcertada com minha presença. Apressiei o rubor tomar sua face clara e a ponta do seu delicado nariz. Olhei com minúncia seu rosto miúdo, seus lábios bem desenhados e queixo pequeno. "Perfeita!", o pensamento que reverberou em minha mente foi o suficiente para eu saber que deveria sair logo da presença da garota. Agora, com seus traços físicos bem vívidos em minha mente, sinto meu corpo aquecer. "c*****o, Pietro, o que está acontecendo, c****e? t***o por uma ninfeta, ela nem faz o seu tipo? p***a!"- ralho comigo mesmo. Fato é que estou precisando me aliviar. Faz quase uma semana que não faço sexo, então atribuo essas sensações abrasadoras que acometem meu corpo a esse motivo. Rio ao pensar que nenhuma mulher, deste lugar ficaria inteira em minhas mãos. Quando sinto a necessidade de satisfazer as necessidades do meu corpo, procuro mulheres com a aparência da Pâmela. Tem sido apenas isso: sexo, prazer carnal. Às vezes, causo dor nas minhas parceiras durante o ato s****l, como uma forma de descontar a raiva que sinto por ter visto a mulher que amo partir desta vida tão precocemente. Procuro nelas o alívio para o meu desejo e nem me importo se estão sentindo prazer. Meu foco durante o ato é apenas a liberação do meu g**o e de mais ninguém. Não tenho piedade, transo como um animal selvagem. Algumas ficam com hematomas espalhados pelo corpo e rosto. Descarrego nelas as minhas frustrações por não poder mais fazer amor com a minha esposa, por não poder ser pai, pela vida de merda que agora levo. Algumas desavisadas tentam de todas as formas me agradar, achando que assim conseguirão me "prender" junto a elas. Bando de acéfalas. Meu coração tornou-se um órgão zumbi, cuja função é apenas pulsar para me manter respirando. Há muito tempo ele não sente mais nada, muito menos se rende aos encantos fajutos que as pessoas lançam para cima de mim. Seus joguinhos de sedução são um fiasco. As pobres coitadas nem sabem que a pessoa que tem a chave do cadeado que tranca a fortaleza pulsante em meu peito está enclausurada dentro de um caixão e tem seu nome gravado numa lápide. - Darei um jeito nisso ainda hoje. - falo comigo mesmo. Buscarei por uma casa de prazeres e, se nesse fim de mundo não houver uma, terei que encontrar alguma outra forma de me aliviar. Termino de envolver minha mão com a atadura. Sigo para o escritório, onde uma reunião online me aguarda com o gerente do conglomerado de importação que possuímos. Estou desconfiado de que está ocorrendo um desvio financeiro e estou investigando minuciosamente tudo com os meus hackers. Se isso se confirmar, literalmente, cabeças rolarão. Só saio do local para almoçar e depois retorno, ficando por lá até às cinco horas. Depois retorno para meu quarto, precisando urgentemente de um banho para aliviar o cansaço. É início da noite quando Violeta me liga dando notícias de que Gerardo tinha saído da cirurgia, no entanto foi encaminhado para a UTI. Segundo ela, a médica disse que é só uma precaução. _ Quer que eu passe a noite no hospital?- perguntei. _ Não precisa querido, eu ficarei aqui. Almoçou? _ Sim, não se preocupe. _ Pietro, você mudou muito filho, está mais.... _ Aquele Pietro que a senhora um dia conheceu não existe mais. Morreu. _ Para de dizer isso, filho. Não se feche nesse mundo sombrio em que você se recolheu, não se condene por algo que aconteceu e estava totalmente fora do seu alcance impedir. _ Não quero comentar sobre o meu passado ,mãe. _ Também não quero, Pietro, mas quero o meu filho amável, doce e gentil de volta. - escuto sua respiração pesada - Fiquei sabendo do que fez com a Larissa hoje. " Como não saberia, os Grecco tem olhos e ouvidos em todos os cantos que lhes interessam." _ Ela fez o que não devia! _ A menina nem sabe o que tem por trás daquela porta, meu filho. Sequer imagina o que aconteceu com você há anos atrás. Contudo, nada justifica a truculência com a qual tratou a Lari! Pietro, você a assustou! A sombra de um sorriso cruza o meus lábios. _ Não se preocupe, minhas facas estão guardadas. Não pretendo torturar a menina com elas. _Que droga, Pietro, não repita uma merda dessas de novo! - vocifera. _Tenho que desligar, vou dar uma saída. _Certo, tenha cuidado, mio figlio. Encerro a chamada, entro no closet para pegar preservativos e a minha pistola. "Hoje a noite vai ferver" - penso, deixando o quarto para trás.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD