∞ Prólogo ∞
Manuelle
_ No três... _ Ouço um sussurro.
_ 1..
_ 2..
_ 3!
_ Boooom diaaaa! _ Gritam e pulam em cima de mim.
Me desperto com um susto e ouço gargalhadas.
_ Aish, vocês não tem jeito. _ Falo para as menininhas a minha volta que continuam rindo. _ É melhor vocês saírem antes que eu faça um grande ataque de cócegas em vocês!
_ NÃO!!! _ Elas gritam e saem correndo.
_ Tchau Manu! _ Todas se despedem.
_ Tchau meninas, boa aula!
Elas batem à porta com força.
_ Ainda me impressiono delas não quebrarem essa porta.
Ah! Oi, sou Manuelle. Moro aqui no orfanato para meninas Cantinho do Sol. É tão bonitinho quando perguntam para as meninas de onde elas são, e elas falam “do Cantinho do Sol”. Mas quando se tem quase 18 anos, dizer do "Cantinho do Sol" não tem o mesmo efeito. Sou uma das mais velhas por aqui. Isso se deve pelo fato de que daqui a 2 meses completo meus 18 anos. Nossa como o tempo passa rápido parece que foi ontem que vim parar aqui.
Vim para o orfanato com meus 7 anos, sou Mineira, vim pra São Paulo com minha mãe e meu pai. Meu pai nos abandonou depois de uns 5 meses aqui em São Paulo. E desde esse dia minha mãe passou a cuidar de mim sozinha, eu era muito pequena tinha apenas 3 aninhos. Éramos bem pobres, tínhamos vindo para tentar melhores condições, mas sem meu pai, minha mãe batalhou muito pra cuidar de mim. Minha infância foi sofrida. Sempre correndo de uma casa pra outra. Minha mãe era faxineira e sempre me levava para os seus trabalhos, já que não tínhamos ninguém de confiança por perto. Minha mãe trabalhava de manhã até noite, dava faxina em umas 3 casa por dia, e com o trabalho excessivo, acabou falecendo.
Perdi minha mãe com 7 anos, era muito pequena, mas ainda me lembro de cada detalhe de seu rosto, do seu cheiro, do seu sorriso. Eu sempre vou admirar o jeito que ela levava as coisas, podia está tudo de pernas para o ar, tudo difícil, mas ela sempre mantinha um sorriso no rosto. Que saudade daquele sorriso.
Bom 11 anos passaram desde que vim para o orfanato, não tenho do que reclamar, as meninas daqui são adoráveis. As responsáveis pelo orfanato também. Aqui é tudo bem simples, mas único e especial. Sentirei falta disso tudo.
Já me formei no ensino médio, mas ainda não tenho uma profissão que desejo mesmo seguir. Sei lá, é que tem tantas opções que gosto. Mas sei que envolverá crianças. Sou apaixonada por crianças. Acho que deve ser pelo fato deu viver em um orfanato cercado por elas. Trato todas com carinho e respeito, é como se elas fossem minhas irmãs mais novas. Sei que quando somos bons para as crianças ficamos de certa forma marcados na memória delas. Sei disso por causa de Sofia e Ricardo.
Sofia e Ricardo, ou como costumo chamar, Vó e vô. Eles são meus avós adotivos. Foram com certeza anjos enviados por Deus. Não sei o que seria de mim sem eles. Eles ajudaram a socorrer a minha mãe, minutos antes de falecer. A lembrança daquele dia ainda está clara na minha memória... Eu e ela estávamos na rua, apenas com algumas bolsas e um cobertor, estava muito frio, minha mãe tossia muito, mas preferiu deixar o cobertor comigo. Eu pedia para ela ficar com uma parte do cobertor, mas ela apenas sorria, e dizia que se eu estivesse bem, ela também estaria. Mas então ela ficou pior, e começou a tremer, eu coloquei o cobertor nela desesperada, mas de nada adiantava. Eu estava tão apavorada, mas ela mesmo tossindo e tremendo, abriu mais um daqueles sorrisos, só que esse estava um pouco fraco, e então me disse: "Eu te amo, prometa cuidar de si e não ter medo de encarar o mundo, eu vou sempre olhar por você!". Ela começou a tossir ainda mais, e eu comecei a gritar e a balança-la, Vó Sofia e Vô Ricardo ouviram meus gritos e correram até mim, eles colocaram nos duas no carro e correram para o hospital, mas não adiantava mais, antes de chegar no hospital minha mãe já havia ido.
Crise de pneumonia. Foi isso que o médico disse que causou a morte de minha mãe. E a parti daquele dia, estava sem minha mãe, mas havia ganhado uma avó e um avô. Eles me levaram na delegacia, para tentar achar um parente por perto, mas lá confirmaram o que eu já havia dito, eu não tinha ninguém. Os policiais me levaram para o orfanato Cantinho do Sol. Um orfanato só para meninas, e para minha alegria era do lado da casa daquele bondoso casal que me ajudou. Me tornei muito próxima deles. Eles sempre iam me visitar, e como eram amigos da diretora eles conseguiam me levar para passar algumas tarde em sua casa. Eu amava a casa deles. Eles tentaram me adotar, mas infelizmente por ter uma idade avançada, não puderam. Mas sempre me trataram com um amor imenso.
Bom, eu agora com meus quase 18 anos, estava à procura de um trabalho, já que completando a maior idade teria que sair do orfanato, também né Manuelle, você não poderia ficar as custas do orfanato até seus 30 anos. Eu quero apenas um salário bom que dê para eu alugar uma casinha e me alimentar bem. Sendo que alugueis estavam bem caros e nunca havia trabalhado então o salário para pessoas inexperientes não eram tão bons assim. Eu poderia ficar na casa dos meus avós, mas não queria causar tanto trabalho a eles, e também queria ser mais independente. Bom tenho 2 meses para achar um emprego, Deus vai me ajudar!
Por falar em Deus, preciso ir na casa do meu pai. Peguei umas folhas e uns desenhos para colorir que havia separado para as crianças. Sou líder do ministério infantil da minha igreja, e sou apaixonada pelas minhas crianças de lá. Inclusive pela pequena Luz, ela é tão fofa, ela e sua mãe Marisa foram anjos quando cheguei na igreja a 2 anos atrás, elas me incentivaram a continuar na igreja, Marisa sempre me pedia pra ir nos cultos e me explicava as palavras, enquanto Luz de apenas 4 anos na época, ficava me divertindo e me fazendo prometer que iria em todos os cultos, e como dizer não para aqueles olhinhos? E com o passar do tempo, fiquei dependente de Deus. E agora não posso viver sem Ele. Não posso e nem quero.
Leon
Acordo com o despertador tocando, passo minha mão na frente dele e ele se silencia. Levanto e vou tomar um banho, e de lá já sio completamente vestido e é claro com meus óculos escuros. Evitei tomar café da manhã e apenas seguir para o meu trabalho.
Sou Leon Clark, CEO da Tech Luminous. Uma das maiores empresa de tecnologia de no total 3 países. E meu império cresce cada dia mais. Para um jovem de 20 anos posso dizer que possuo tudo o que posso querer. Meu apartamento é um dos mais caros do país. Meus carros são todos importados, digo todos porque possuo 5. E há quem diga que dinheiro não traz felicidade, quem disse isso não me viu contando o meu dinheiro, porque se visse, veria a minha expressão de pura felicidade.
Hoje o dia seria perfeito se eu ainda não estivesse com essa porcaria de ressaca. Ontem, a noite foi longa, muita bebida, muitas garotas e som alto. Mas daqui a um tempo o remédio fará efeito.
Chego na empresa e subo para a minha sala que fica no 10° andar. Me sento confortavelmente na minha cadeira, mas então meu celular toca. Vejo no visor que é a minha mãe.
Ligação on
_ Oi Dona Marisa.
_ Oi filho desnaturado, quando vai vim ver sua mãe?
_ Ah mãe foi m*l, é que estou bem ocupado ultimamente.
_ Ocupado, sei. Clarisse me contou de suas festas.
Clarisse e sua língua.
_ Clarisse exagera, nem estou saindo tanto assim.
_ Ham ram. É o Leon? Eu quero falar com ele! (Ouço a voz da minha irmãzinha). Leon, Luz quer falar com você!
_ Oi princesinha.
_ Oi irmão! Você vai vim aqui hoje?
_ Hoje não princesa, mas vou poder ir na semana que vem, vou ficar o fim de semana todo com vocês.
_ EEEEEEH. Vai ser legal, podemos ir na igreja juntos, vou te apresentar a minha tia da escolinha.
_ Hum, vamos ver isso direitinho semana que vem, agora tenho que trabalhar princesa, passa para mamãe.
_ Ah, ta bom, tchau irmão.
_ Tchau minha linda.
_ Eu ouvi certo Leon? Vai vim semana que vem aqui?
_ Sim senhora bisbilhoteira.
_ Não posso fazer nada se o celular é alto. Mas fico feliz que venha, tem.. algo que preciso falar com você!
_ O que?
_ Semana que vem conversamos, agora vai trabalhar, não quero te atrapalhar filho.
_ Ok, mãe, semana que vem nos vemos. tchau.
_ Tchau.
Ligação off
Desligo o celular e volto ao meu trabalho, mas fiquei com uma ponta de curiosidade sobre o que minha mãe queria falar. Dona Marisa e seus mistérios. Vai ser bom passar o fim de semana lá, assim fico um pouco com Luz. Elas moram a meia hora de mim, mas é como se fosse bem outro pais considerando que quase não vou lá. Bem volto a minha atenção a pilha de documentos em cima de minha mesa. Hoje tudo estava saindo como o de costume e assim ficaria.
...