Capítulo 3 - Helena

1310 Words
Helena O jeito que ele me olhava, me hipnotizava… Algo naquele olhar me unia a ele e eu queria desesperadamente que ele sobrevivesse. Eu acreditava nele, acreditava que ele tinha sido enganado… que ele não era o vilão. — Tenho medo de não conseguir e você morrer… — Você consegue, menina… você me salvou quando apareceu. Faça o que puder, eu confio em você… e se eu morrer não foi você quem me matou, porque eu já estou morto. Ele sussurrava gemendo e o olhar dele estava ainda mais intenso, mas estava carregado de dor e eu ainda consegui ver um lampejo frágil e suplicante de esperança. — Tá certo, mas você vai me prometer que não vai morrer… tô falando que você vai lutar pra viver, mesmo estando todo quebrado por dentro também… Promete? — Menina… eu vou viver pra me vingar… — O olhar dele endureceu nesse momentos ficou mais intenso ainda… — E prometo que vou viver por você também… — Aí meu Deus… Tá, depois você pensa em se vingar, mas agora viva por mim, eu sou uma boa pessoa, sempre fui obediente ou quase sempre, e não mereço me sentir culpada se você morrer. — Eu vou viver… — Ele sussurra gemendo. — Então, eu não tenho outra saída, tenho que lembrar do treinamento… — Respirei fundo e falei pra mim mesma: — Ok, você é esperta e inteligente, você consegue lembrar de tudo. Comecei desinfetando com soro fisiológico e álcool, enquanto ele gemia, os olhos semicerrados e mordendo os lábios. — Vai doer, Gabriel, desculpa. Mas prometo que vou fazer tudo que eu puder e você vai viver. — Eu disse, mais para mim, do que para ele. Cobri com gaze esterilizada, pressionei e depois, usei uma atadura para envolver o abdômen dele. — Eu ainda não acredito que comprei tudo isso e trouxe pra cá. Tudo por causa da Isa. Fui cuidando de cada ferimento com cuidado e enquanto minhas mãos passavam pelo corpo dele, não tive como não perceber o quanto ele era forte, malhado, viril… Um arrepio percorreu meu corpo. — Está indo tudo bem, agora coragem menina. — Fui conversando comigo mesma em voz alta e ele fez um esforço para me olhar. Peguei uma ampola de anti-inflamatório injetável, uma seringa, e um medidor térmico. Enchi a seringa com cuidado, fiz um esforço enorme para lembrar dos passos ensinados: tirar o ar, limpar com álcool, não tremer. Gabriel gemeu. — Eu sei… Eu sei, tá quase no final. — Respirei fundo mais uma vez e: — É só não tremer… Virei ele um pouco de lado, afastei a cueca um pouco, medi a distância correta com os dedos e fui com firmeza. Ele estremeceu, os músculos contraíram-se. — Pronto. Já passou. — murmurei, tentando não gritar e ajeitei ele com delicadeza. Depois disso, coloquei ele numa posição confortável e fui buscar todas as toalhas do chalé e pegar água morna. Comecei a passar a toalha molhada com água morna no seu rosto para limpar, tirar o sangue… — Que homem bonito é você, Gabriel… — Sussurrei em voz alta. Depois troquei a toalha e fiz a mesma coisa pelo corpo dele, já que ele estava bem suado, sujo de lama, e com cheiro forte. Ele gemeu e murmurou: — Estou com frio… — Sussurrou tremendo, com os olhos fechados. — É a febre… e a toalha molhada também. Preciso limpar você, e deixar seu corpo mais frio, Gabriel. Por horas limpei todo seu corpo com as toalhas molhadas, até a última sair limpa e depois o cobri com um cobertor limpinho e cheiroso. — Agora, descanse, Gabriel. Você está o mais limpo possível, medicado e precisa descansar para a medicação fazer efeito. — Falei com carinho, passando a mão no rosto dele, mas ele estava dormindo. Fiquei ali por alguns minutos olhando pra ele e desejando que todos seus ferimentos fossem realmente superficiais e que a febre cedesse. Arrumei o travesseiro na cabeça dele e fui limpar a bagunça que eu tinha feito e colocar algumas toalhas que daria para limpar na máquina… mas a maioria eu joguei fora, porque estavam encharcadas de sangue e sujeira. Em seguida, sentei no chão ao lado dele e fiquei olhando pra ele que dormia tranquilo… acho que por causa do efeito da injecção, dos remédios e do cansaço. Meu coração estava acelerado, com a sensação de que eu estava dentro de um sonho… louco, mas um sonho… enquanto ele com certeza estava dentro de um pesadelo! Mesmo sem saber dos detalhes do que aconteceu naquela floresta, dá pra ver que a vida dele foi destruída… Fiquei olhando aquele homem tão bonito, tranquilo na minha cama e mesmo coberto eu sabia que ele estava apenas de cueca. Meus pensamentos foram para a beleza e virilidade daquele corpo… Nunca estive tão perto e tão íntima de um homem antes… — Nossa Gabriel, como você é um pecado… — Sussurrei e meu corpo tremeu. — Ok, Helena… Mente vazia, oficina do di@bo! Vamos pra cozinha preparar uma canja para o nosso hóspede. Ou seria paciente? Sorri com a pergunta boba que fiz a mim mesma e fiquei imaginando o que Isa vai dizer quando souber do que eu fui capaz de fazer. — “O que um homem gostosão num é capaz em, Helena?” Fiquei tentando me animar e tirar meus pensamentos daquele “pecado de homem”... *** No outro dia… — Sophia, Sophia… não vá por aí… — ele começa a se debater e gritar, tendo um pesadelo e eu que estava cochilando sentada na cadeira, levantei assustada e fui tentar acordá-lo. — Calma, Calma, Gabriel…. Você está bem, aqui comigo. Vai passar. — Falei e fui passar a mão na testa dele e mais uma vez ele segurou meu pulso com força. — Se você apertar de novo, você vai quebrar. — Falei com medo e com raiva dessa mania feia dele. Seus olhos arregalaram e com a respiração ofegante, ele me encarou, tentando controlar a respiração e acho que também tentando entender o que estava acontecendo… — Solte meu pulso, assim você vai quebrar… sou eu, lembra? Eu ajudei você. Está tudo bem. — Falei com a voz calma. Ele soltou meu pulso, com uma expressão no rosto de que não estava entendendo muita coisa. Tentou sentar e com os movimentos que fez, gemeu por sentir dor. — Eu já vi você antes? — Sim. Você não se lembra de mim? — Então não foi um sonho? Sonhei que uma menina tinha me tirado daquele buraco. Foi real e foi você? — Ele perguntou com a voz bem rouca e visivelmente confuso. — Não foi sonho e nem pesadelo, mas acho que te salvei sim e você quase quebrou meu pulso… duas vezes. — Falei fazendo um bico de menina manhosa. — Desculpe. Mas quem é você, menina? — Um anjo salvador? — Respondi com essa pergunta, tentando quebrar o clima. — Anjo? — Ele pergunta com a voz amarga. — Acho que você está mais pra outra coisa… Anjos são traiçoeiros. — Sério? A maioria dos anjos são bons… — Os que conheço são todos traiçoeiros. — Tá certo, Gabriel. Você está se sentindo melhor? Está com fome? posso colocar a mão na sua testa para ver se a febre continua? — Pode. Mas estou com muita dor, enjoado, mas acho que já estive bem pior. Quanto tempo eu estou aqui? — Um pouco mais de 36 horas… Você passou a noite com muita febre, tendo pesadelos, mas agora está demonstrando que está melhorando, mas ainda não está fora de perigo de infecção, e… Coloquei a mão na testa dele e ele me surpreende prendendo a minha mão com a sua… me encarando com um olhar intenso que fez meu coração acelerar e meu corpo esquentar na hora… ***
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD