Síria observava o homem à sua frente. Ele parecia bem à vontade com o que havia acontecido.
— Suas mãos estão melhor? — perguntou Klaus.
— Nada que o tempo não dê jeito — respondeu ela, olhando para sua mão ainda enfaixada.
— Fiquei preocupado com você.
— Não precisa se preocupar com o que não lhe diz respeito — respondeu ela, ainda com a voz tranquila.
— Não quis aborrecê-la com o que disse.
Síria parou por um momento e encarou Klaus.
— Vamos deixar uma coisa clara, agente. Você me pagar um sorvete não lhe dá o direito de se meter na minha vida. E mais: não sei se percebeu, mas eu não vivo dentro da lei. Então seria melhor se você mantivesse distância de mim.
No fundo, Klaus sabia que ela estava certa, mas, de alguma forma, a ideia de ficar longe dela o incomodava terrivelmente.
— Não quero me meter na sua vida. Eu realmente estava preocupado, principalmente depois que aqueles homens a levaram.
Síria o olhou, surpresa, e então deixou escapar uma gargalhada que irrompeu do seu peito.
— Por que está rindo? — perguntou Klaus, carrancudo.
Ela fez um gesto para ele, indicando que não conseguia falar, e continuou a rir. Apesar de estar chateado, Klaus achou a sua risada linda.
— De todas as pessoas no mundo, você desconfia logo deles? — perguntou ela, ainda rindo.
— O que você queria que eu pensasse?
— Olha, você não me conhece. Não tem por que se preocupar com uma estranha.
Aquilo era verdade, e ela estava certa, mas não daria o braço a torcer tão fácil.
— Qualquer um no meu lugar ficaria preocupado.
Síria balançou a cabeça, incrédula, com sua resposta.
— Com tantas pessoas no mundo, e você está preocupado comigo! Não sei se você sabe, mas minhas mãos estão sujas de sangue. Eu mato pessoas para viver, mas, apesar disso, você está preocupado comigo.
Síria desatou a rir novamente.
— Que bom que te divirto.
— Com certeza. Ri mais agora do que nos últimos anos.
Síria voltou a olhar para Klaus, levantando-se do banco.
— Olha, não vou entrar em detalhes porque isso não lhe diz respeito, mas eu confio a minha vida naqueles caras. Eles são leais, e isso, para mim, é o mais importante.
Klaus pôde perceber o quanto ela gostava deles, e isso o irritou um pouco.
— Bem, obrigada pelo sorvete. Espero nunca mais vê-lo. — disse ela, virando-se e indo embora.
— Boa noite, Síria. Acho que esse seu desejo não vai se realizar — respondeu Klaus, sorrindo.
— Veremos — disse ela, sem se virar, enquanto se afastava.
Quando Síria chegou em casa, encontrou os seus quatro cavaleiros a esperando na sala. Pelos olhares que lançaram em sua direção, estavam zangados.
— Oi — disse ela, sentando-se no sofá à frente deles. — Me digam por que essas caras bravas.
— Onde você foi? — perguntou Ricardo, carrancudo, com os braços cruzados.
— Tomar um sorvete.
— Você deveria estar de repouso — respondeu Xavier.
— Vocês sabem que não consigo ficar parada por muito tempo.
— Podia ter me chamado. Adoro sorvete — disse Nico, atraindo os olhares dos outros.
Nesse momento, Síria desatou a rir, lembrando-se da preocupação de Klaus, ele vise os seus amigos naquele momento duvidava que ele pensasse o mesmo que antes. Os outros a olharam, espantados.
— O que foi? — perguntou ela, ainda rindo.
— Faz tempo que não vemos você rir desse jeito — respondeu Ricardo, com um pequeno sorriso.
— É que me lembrei de algo que o agente me disse.
A sua resposta deixou os outros ainda mais chocados, e os rostos animados foi subitamente substituído por rostos zangados.
— Você se encontrou com aquele cara? — perguntou Charles, levantando-se e sentando-se ao lado dela.
— Foi uma coincidência. Ele esbarrou em mim na rua.
— Aquele filho da mãe! Já disse para ele ficar longe de você! — disse Nico, bravo, passando as mãos pelos cabelos.
— Virou o meu pai agora, foi!?
— Praticamente. Você merece alguém melhor, de preferência do nosso mundo — respondeu ríspido.
— O cara é certinho demais — disse Charles, e Síria revira os olhos.
— Se você quer sair com alguém, eu tenho alguns amigos — sugeriu Ricardo, sorrindo.
— Se depender de mim, você continua solteira. Esses caras não são bons o suficiente para você — emendou Xavier.
— Por acaso vocês me viram falar que estava em um encontro?
— O que queria que pensássemos? — disse Charles.
— Você diz que foi tomar sorvete e estava com aquele babaca. É só juntar dois mais dois — afirmou Nico.
— E ainda chegou sorrindo — completou Xavier.
— O que acham de fazermos uma visitinha para ele de madrugada? — disse Nico, com um sorriso travesso, esfregando as mãos.
— Não é má ideia. Aquele tipo de visita que precisa de sal grosso e vinagre — concordou Charles.
Síria assistiu à conversa, perplexa, perguntando-se quando eles ficaram tão protetores com ela.
— Tá bem! Chega! Vocês não vão esfolar o cara só porque ele me pagou um sorvete — respondeu Síria.
— Filho da p*ta! — exclamou Nico, levantando-se, bravo. — Ele teve a ousadia de te pagar um sorvete?
— Pelo que vejo, ele está jogando pesado — disse Charles.
— Está na hora de uma ofensiva — respondeu Xavier.
— Pode parar! — disse Síria, dando um tapa no braço de Charles. — Ele não fez nada de errado. Só me pagou um sorvete porque derrubou o meu. Então esqueçam essa história.
— Vamos esperar ela dormir. Aí fazemos aquela visita — sugeriu Nico, ignorando o que ela disse.
Os outros acenaram com a cabeça, enquanto Ricardo apenas observava tudo com um sorriso no rosto. Ele tinha muito orgulho dos seus amigos e a forma que eles protegiam Síria.
— Você não vai fazer nada? — perguntou ela a Ricardo.
— Não. Você sabe o quanto eles são protetores com você. E uma conversa não vai matar o cara.
— É isso aí! Estamos liberados, galera! — disse Nico, dando um pulo, sorrindo. — Vou verificar o meu arsenal.
— Eu disse conversar, Nico — interrompeu Ricardo.
— Qual é! Que graça vai ter se eu não puder quebrar alguns ossos?
— Só conversar. Nada mais. Espero estar sendo claro — disse Ricardo, levantando-se e indo para seu quarto.
— Vocês são loucos — disse Síria, levantando-se e indo para o quarto também.
Klaus não sabia, mas naquela noite ele receberia a visita de três homens irados.