O homem na poltrona encarava Klaus com indiferença; os seus olhos negros transmitiam uma frieza inabalável. Pela constituição física, Klaus percebia que ele era alto e forte.
— Sente-se, agente — diz, indicando o sofá à sua frente. — Confesso que estou curioso.
— Obrigado por me receber. Meu nome é Klaus Montovan.
— Eu sei tudo sobre você, não há necessidade de se apresentar. Eu me chamo Ricardo. Ele é Charles — diz, apontando para a pessoa que o recebeu. — E ele é Xavier.
— Já os conheci antes.
— Imaginava que sim. Mas do que precisa? Não acredito que veio até aqui para jogar conversa fora.
— Preciso de ajuda para investigar isso — diz, jogando a pasta em cima da mesa. Ricardo pega a pasta e começa a folheá-la.
— Interessante. Agora entendo por que nos procurou.
— Não posso confiar nas pessoas da agência.
— Realmente não. Afinal, não há como saber quem está envolvido nisso — diz Ricardo, passando a pasta para Xavier.
— Exatamente. Então pensei que poderíamos trabalhar juntos neste caso.
— O que você tem a me oferecer?
— Passo todas as informações relacionadas à sua organização. É o que posso fazer.
— Eu quero mais — diz Ricardo, sério.
— O que você quer em troca da sua ajuda, exatamente?
— Vou precisar de informações sobre outras organizações e pessoas. Se você me der quando eu pedir, então te ajudo.
— Por quanto tempo?
— Até encerrarmos o caso.
Klaus fica pensativo. Só a ideia de ser um espião já o deixava enjoado, mas ele não tinha outra escolha. A Fênix tinha meios e pessoal para investigar, algo que ele não tinha condições de fazer. A única escolha era aceitar.
— Tudo bem, mas só até terminar a investigação. Depois não teremos mais nada um com o outro.
— Isso veremos — diz Ricardo, com um meio sorriso.
Neste momento, alguém entra na sala, e para surpresa de Klaus, era Síria, arrastando Nico, que estava visivelmente bêbado.
— Eu juro que nunca mais bebo com você, Nico.
— Por que está reclamando? Fui eu que paguei — diz ele com a voz arrastada.
— Sim, mas não compensa a dor de cabeça — diz ela, largando-o no sofá. Então percebe os outros na sala. — Oi!
— O que ele aprontou desta vez, Si? — pergunta Charles.
— Fiz ele me pagar uma cerveja e ele resolveu beber demais.
— Vamos sacanear com ele. Não é sempre que temos uma oportunidade dessas — diz Charles.
— Leva ele para o quarto, por favor, Charles.
— Pode deixar, chefe. — Charles pega Nico e sai arrastando-o para o quarto.
— Como foi o trabalho? — pergunta Ricardo. Síria vem e se senta ao lado de Xavier.
— Tudo certo.
— Ótimo.
— Sobre o que estavam falando? — diz ela, olhando para Klaus.
— Formamos uma parceria temporária para resolver algo. Depois te explico melhor — diz Ricardo, levantando-se. — Se era só isso, eu te ligo quando tiver novidades.
— Posso conversar com ela um pouco?
Ricardo hesita por um momento, mas sabia que, por mais que amassem Síria, tinham que deixá-la fazer as suas próprias escolhas.
— Pergunte a ela, não a mim — diz, saindo. Passa por Síria, dá um beijo na sua testa e sobe.
— Nada de gracinhas, agente — diz Xavier, também se retirando.
— O que você quer?
— Conversar um pouco.
Síria suspira. Ela sabia que ele não desistiria tão fácil.
— Me siga — diz, já saindo. Eles sobem as escadas e vão para o terraço.
— Aceita uma bebida?
— Água, por favor.
Ela vai até o bar do terraço, pega duas garrafas de água e passa uma para Klaus.
— Nunca imaginei que sairia vivo daqui — diz ela, sentando-se em uma poltrona.
— Nem eu. — Klaus estava feliz. Apesar da situação, estar perto dela era tudo o que ele precisava naquele momento.
— A vista daqui é linda!
— Sim. Você gosta dessas coisas?
— Muito — diz ela, apontando para um telescópio em um canto. — O céu me fascina.
— Tem muitos mistérios não revelados.
— Nem todos os mistérios precisam ser revelados.
— Será? Posso te fazer uma pergunta?
— Você já fez.
— Como você entrou na organização?
Klaus vê a sua expressão relaxada mudar um pouco.
— Quando eu era bem mais nova, estava indo para casa. Já era noite e eu estava com pressa. Quando passei por uma rua, vi um carro capotado. Fui ver se tinha alguém. Havia um homem desacordado dentro do carro. Com cuidado, o removi de lá. Quando ia levá-lo para o hospital, ele acordou e me disse para não fazer isso. Então coloquei-o no meu carro e o levei até uma rodovia. Ele usou o meu telefone para fazer uma ligação e, depois de algum tempo, um helicóptero veio e o levou. Naquele dia conheci o Ricardo. Tudo que ele sabia de mim na época era meu nome e com o que eu trabalhava.
— Não ficou com medo de ele fazer algo com você?
— Não tive medo. Acho que foi o olhar do Ricardo. Quando o encontrei, ele tinha uma expressão tão serena. É claro que, quando ele disse para não levá-lo ao hospital, eu sabia que havia algo errado, mas, mesmo assim, não poderia deixá-lo ali. Então o ajudei. Antes de ir embora, ele disse que me encontraria. Eu sinceramente não acreditava nisso até ele aparecer um dia no meu trabalho.
— Aposto que você não esperava por isso.
— Eu realmente não esperava. Quando ele chegou na empresa onde eu trabalhava, levei um susto. Então ele me chamou para conversar, e eu fui. Estava curiosa para saber quem ele era. Me lembro do susto que levei quando ele me disse o que fazia, mas então me lembrei de uma história que havia na minha família.
— E que história era essa? Fiquei curioso agora.
Ela leva a sua garrafa de água à boca e toma um longo gole. Um sorriso curva os seus lábios, como se uma memória divertida invadisse a sua mente.
— Dizem que o meu pai era pistoleiro. Isso foi há muitos anos. Foi ele quem me ensinou a atirar.