Capítulo I - Anthony
- P.orra Antony, como você vai se sair dessa?
Olhei para meu melhor amigo respirei fundo.
- Não tem saída Caio, eu estou ferrado.
Caio caiu no sofá do meu escritório e recusou mais uma chamada no seu Iphone 14, que eu fiz malabarismo para trazer na minha última viagem dos Estados Unidos.
- Junior, me explica só uma coisa: porque você tem que obedecer ao seu pai? você tem trinta anos, c*****o!
Chutei as pernas dele esticadas na minha frente.
- Não me chame de Junior, você sabe que eu odeio. E quem é que consegue dizer não ao todo poderoso Anthony pai? Você conseguiu?
Ele abriu um sorriso de orelha a orelha.
- E eu sou louco de dispensar sua irmã? Eu adorei ele ter me forçado a casar com ela.
Bufei sentando na minha cadeira.
- Porque ele não sabia que o cara que ela se trancava no motel dias seguidos era você. Ele fez isso para que a Gabriela sossegasse e acabou juntando o útil ao agradável, seu m***a.
Ele fechou a cara.
- Fala baixo! Se ele souber ele cancela esse casamento e me demite da empresa!
Eu bati na mesa.
- Eu sou o responsável por demitir nessa empresa e vou te jogar na rua se você não me ajudar.
Caio passou a mão pelo cabelo, recusando mais uma ligação.
- Atende a p***a desse telefone!
- É sua irmã, ela ta me deixando doido com esse negócio do apartamento. Eu não quero falar com ela agora não.
- Provoca a onça que vai ser ela mesma a cancelar esse casamento.
Caio fingiu não me ouvir.
- O que quer eu faça mesmo? Você já disse que aceita ficar noivo da Lavínia e a festa vai ser amanhã.
Batuquei os dedos na mesa.
- Eu preciso arrumar uma desculpa para não ir nessa festa.
Caio b.ufou.
- Ah não, vai abandonar a noiva no altar?
- Que altar o quê homem? É só um noivado, um jantar entre nossas famílias.
- Mesmo assim, ela vai surtar.
Encolhi os ombros.
- Ela surta toda hora mesmo, que diferença faz.
Caio apoiou os braços nos joelhos.
- O que seu pai quer com esse casamento mesmo? Não entendi.
- Ele não quer nada. Quer controlar a mim e a Gabriela. Quer escolher a linhagem da família, quer juntar nossas riquezas, quer atazanar o meu juízo etc...
- Eu não sou rico!
- Mas é da família, ele pressentiu que a Gabriela poderia escolher um pé rapado qualquer para torrar o dinheiro dela. Você está debaixo do pé dele.
Caio se ofendeu.
- Eu não sou um b****a, Anthony, eu não estou debaixo do pé do meu tio não.
Ele me olhou cético.
- Caio, você é o maior puxa saco do meu pai, não negue.
Ele encolheu os ombros.
- Sou mesmo, ele me criou depois que meus pais morreram.
A voz do meu irmão e amigo mudou ao falar dos pais. Aquela tragédia já tinha mais de vinte anos e ainda nos atingia quando falávamos dela.
- Desculpa, não queria que você lembrasse disso agora.
Ele levantou e se aproximou da janela.
- Esquece, vamos focar no seu problema.
Eu queria trazer o sorriso de volta para o rosto dele.
- Eu convenço a Gabriela a desistir do apartamento.
Ele virou rápido.
- Promete?
Cruzei os dedos.
- Prometo.
Ele já era de novo o Caio de sempre.
- O que iremos fazer para te livrar da teia da aranha?
Gargalhei alto.
- A Lavínia te mata se souber que você a chamou de aranha.
- E não é o que ela é? Ela fica em volta de você só esperando a hora de te prender pra sempre.
Fiz o sinal da cruz.
- Credo! Isso nunca.
A porta abriu sem que a pessoa sequer batesse.
Nos olhamos sorrindo baixinho.
- Oi meninos, o que estão aprontando?
A mulher baixinha, gorducha e de cabelos brancos nos encarou por baixo dos óculos de grau de armação fina.
- Nada Beta, estamos só pensando numa forma de me livrar desse casamento que meu pai arrumou com a Lavínia.
Ela me olhou confusa.
- Você não quer casar com ela?
Cheguei perto dela e a abracei beijando a bochecha dela.
- Claro que não Beta! Você me ver casado com a Lavínia?
Ela fingiu pensar com o dedo na boca.
- Não. Não vejo o senhor casado com nenhuma das suas últimas mulheres.
Caio sorriu divertido.
- Últimas mulheres? Não entendi essa Beta.
Betânia era minha secretária. Escolhida por quem? Por meu pai é logico. Ele tomou essa decisão quando me flagrou comendo a secretaria anterior em cima da minha mesa. Desde então não entrava nenhuma mulher ali com menos de quarenta anos e que não fosse casada. Betânia estava na casa dos sessenta e era avó do meu segurança. Oh! velho tirano dos infernos!
Betânia riu e sentou na minha frente.
- E aquela moça que você levou na minha casa, ela parecia até simpática.
- A Larissa? Não. Ela mentiu pra mim dizendo que era solteira. O marido dela quase atirou em mim.
Betânia arregalou os olhos.
- Meu Deus! Que horror! E aquela loirinha baixinha, a bem novinha?
Sacudi a cabeça.
- Ela furou todas as minhas camisinhas, queria era dar o golpe da barriga.
Betânia riu.
- E a outra, a jornalista?
Pensei um pouco.
- Parecia bem legal, mas é ninfomaníaca. Ela queria t*****r o tempo todo. Não tem p.au que aguente subir tanto.
Betânia ficou vermelha.
- Menino! Me respeite!
Joguei a caneta nela.
- Relaxa Beta, você já se acostumou.
- Bom, o que tem a Lavínia afinal? Por que não quer casar com ela?
Encarei bem a senhora em minha frente.
- Você consegue ver a Lavínia lavando um prato ou amamentando um bebê? Casamento é coisa séria Beta. Eu posso parecer um galinha, mas eu quero formar uma família quando eu resolver aposentar a chuteira.
- Verdade, eu não vejo a Lavínia casada e com filhos não.
Caio se meteu na conversa.
- Aposentar o p.au, você quer dizer.
Sorri sonhador.
- O p.au é quem mais vai trabalhar meu caro, eu quero t****r muito com a minha mulher e eu não me vejo comendo a Lavínia todos os dias.
Betânia levantou e bateu a agenda na minha perna.
- Parem de ficar falando de p.au e de trepada na minha frente. Seu pai mandou chamar para uma reunião.
- Agora?! Mas são quase 17:00 horas!
Ela foi saindo rebolando.
- Ele disse que é agora, vão ou não?
Levantamos as mãos impaciente.
- Vamos, né.
***
Anthony Benete Aragão estava sentado como se fosse um rei na cadeira alta de estofado vermelho no cabeceira da enorme mesa de carvalho escura rodeada de cadeiras, propícia para ele fuzilar todos ao mesmo tempo nas intermináveis reuniões que ele fazia.
Meu pai era um homem jovem. Jovem demais para ser tão carrancudo. Acho que a posição social dele e os inúmeros compromisso que ele tinha como sócio majoritário da maior rede de supermercados do Nordeste o faziam parecer ter mais do que os cinquenta e cinco anos que ele tinha acabado de completar. Meu pai vivia para o trabalho. Ele controlava todos com mãos de ferro e olhos que viam tudo.
Eu e o Caio bem sabíamos disso. Eu sou o responsável pelo setor pessoal e o Caio pelo setor de compras. Abaixo de Anthony Benete, todos se reportam a mim e ao Caio. Ele nos dar autonomia? Pouca. Mas nós temos nosso jogo de cintura para dobrar o chefão e tudo corre ás mil maravilhas.
- Oi pai, cadê o restante do pessoal?
Ele apontou as duas cadeiras ao lado dele sem levantar os olhos dos papeis que ele analisava com atenção.
- Sentem-se. Seremos só nós três.
Engolimos em seco.
- Só... nós três? Porque?
Ele levantou os olhos e nos encarou.
- Porque hoje é assunto de família.
Sentamos com a coluna tão ereta que depois com certeza iriamos precisar de uma fisioterapeuta.
- Pode falar.
Ele tirou os óculos de grau e esfregou os olhos.
- Vocês adoram me desafiar não é?
Nos fingimos de desentendidos.
- Como? O que o senhor quer dizer?
Ele olhou para o Caio.
- Você gosta de mim Caio?
Ele torceu as mãos.
- Claro tio, eu o amo como se fosse meu pai.
Ele arqueou a sobrancelha.
- Sério? E porque você mentiu pra mim?
O caio ficou branco e me olhou .
- Menti para o senhor?... quando?
Anthony riu e sacudiu a cabeça.
- É muita cara de p*u! Você me ajudando a encontrar o “caso” da Gabriela e era VOCÊ que estava comendo SUA prima e SUA quase irmã!
Ele terminou quase gritando. O Caio o encarou de volta sério, apesar de eu ver suas pernas tremendo.
- Ela não é minha irmã, e não é proibido namorar primas e eu não estava “comendo” ela. A gente se ama.
Meu pai levantou e bateu na mesa com tanta força que o celular dele caiu no chão.
- Cala a boca seu i****a! Por que me escondeu isso? E eu nem posso te forçar a casar com ela, por que já VAI casar com ela!
- Pai...
Ele me fuzilou com o olhar.
- Não chegou sua vez ainda Junior, cala a boca.
- Não me chame de Junior...
- Cala a boca JUNIOR!
Revirei os olhos e esperei ele terminar de crucificar o Caio. Não sei pra que tanto alvoroço. Ele era um tirano dos infernos, mas no final das contas acabava nos defendendo até a morte. Ele só queria que a gente fingisse que o obedecia.
- Tio, se eu falasse o senhor ia aceitar?
Ele cruzou os braços.
- Claro que não, Caio.
- Então eu não falei. O que o senhor ia fazer? Aposto que ia mandar a Gabi para fora do pais e ia me deserdar, não era?
- Era.
Ele espalmou as mãos na mesa.
- Agora é tarde, por que a Gabi está grávida e eu preciso assumir meu erro. O senhor não vai querer que sua filha seja mãe solteira não é?
Merda! O Caio ficou maluco.
Meu pai arregalou os olhos e sentou de novo.
- Ela... está... o quê?
Chutei a perna dele por baixo da mesa.
Ele nem olhou pra mim.
- Ela está grávida. Nós íamos contar amanhã no jantar, mas já que o senhor fez essa reunião de famil.....
- Eu. Vou. Te. m***r!!!
Ele vou no pescoço do Caio por cima da mesa e os dois se embolaram jogando tudo no chão.
Tentei separar os dois e o Caio o imobilizou em baixo dele.
- Não posso deixar o senhor me m***r. Sua filha ficaria viúva antes de casar.
- Moleque atrevido! Me solte!
Ele apertava Anthony Benete com uma chave de perna sobre a mesa.
A porta foi aberta em um solavanco.
- Caio! Solta meu pai!
Desgraça! Agora a coisa ia pro ralo mesmo.
Os dois rolaram para o lado e ficaram de pé. Eu sabia o próximo passo e corri para proteger a Gabriela. Nosso pai avançou cego na direção dela.
- Sua... sua... irresponsável, sua mãe vai te m***r!
Ela se escondeu atrás das minhas costas.
- A mamãe já sabe!
Anthony estancou.
- O que? sua mãe escondeu isso de mim?
Perdi minha paciência de vez.
- Chega! Parem todos vocês? Que inferno!
Todos emudeceram e me olharam. Eu me virei para o todo poderoso Anthony Benete Aragão Pai.
- A culpa disso tudo é sua, pai! Todo mundo tem medo de você a acabamos escondendo as coisas!
Ele andava nervosos de um lado para outro falando sozinho.
- Todos vocês são um traíras. Filhos, filha, mulher, empregados. Eu sou um o****o que só presto para pagar contas.
Esperamos ele desabafar a raiva, calados.
- Quando iam me contar? Não. Não respondam. Não iam me contar.
- Pai...
Ele se aproximou da Gabriela.
- Você mentiu pra mim, filha.
Ele agora iria pela linha da chantagem emocional.
- Eu confiava em você, minha única filha!
- Pai, eu não roubei e nem matei ninguém. Eu só me apaixonei.
Ele olhou acusadoramente para o Caio. Ele já estava perdoando. Engoli o riso.
- Se apaixonou por outro mentiroso, bem se ver que se merecem.
Ele caiu sentado fingindo um ataque. Desabotoou o nó da gravata e respirou fundo.
- O que eu fiz pra merecer uma família dessas?
A Gabriel chegou por trás dele e o abraçou pelo pescoço.
- Pai, que diferença faz isso agora? Você não obrigou o Caio a se casar comigo? pronto. Nós vamos casar.
O Caio se aproximou silenciosamente e parou na frente dele, tentando ficar sério.
- Afinal de contas poderia ser pior. Ainda bem que foi comigo que a Gabriela estava. Já pensou se ela tivesse engravidado de qualquer um por ai?
Gabriela olhou f**o pra ele.
- Eu não saio por ai transando com qualquer um não, tá lembrado que você tirou minha virgindade quando eu tinha dezesseis anos?
Jesus!
- Cala a boca Gabriela! – O Caio falou entredentes.
Anthony levantou o dedo vermelho de raiva.
- Sumam da minha frente! Agora!
O Caio nem se abalou.
O senhor disse que ia falar com o Junior também. Quer falar com ele a sós?
Eu ia m***r o Caio.
- Não, meu assunto pode ficar pra outro dia.
Me virei para a porta.
- Pare!
Travei no lugar.
- Podem ir seus traidores, agora meu negócio é com o Anthony Benete Aragão JUNIOR!
Girei devagar e voltei sentando em frente à mesa dele.
Os dois traíras saíram rapidamente batendo a porta.
Ele deu a volta na mesa e me encarou.
- E agora, vamos nós mocinho.
Levantei a mão demonstrando uma coragem que eu não tinha.
- Se for falar sobre o casamento saiba que eu não vou casar com a Lavínia.
Ele arqueou uma sobrancelha.
- Ah não? e vai fazer o que? vai engravidar a primeira Maria da Silva Oliveira, que encontrar por ai?
- Eu não engravido mulheres por ai. E se eu gostar de uma MARIA DA SILVA OLIVEIRA eu vou casar com ela.
- Junior...
- Anthony, por favor. No máximo, Tony.
- Meu filho...
Agora vinha o golpe de misericórdia.
- Fala pai.
- Você é meu substituto. A Lavínia é filha do meu único sócio. Se vocês não casarem vai ser uma catástrofe.
- Eu. Não. Amo. A. Lavínia.
Ele fez pouco caso.
- Que amor nada! Isso é besteira.
- Ah é? Então você não ama a mamãe?
Ele respirou fundo.
- Não coloque sua mãe no meio.
- Ama ou não ama?
- Amo, mas a questão aqui é outra.
Sorri cinicamente.
- Outra porque o pescoço é o meu e não o seu.
- Quer parar de frescura Anthony! Que homem não ia querer casar com a Lavínia? Ela é tão linda que nem parece real.
- Falou tudo. Nem parece real. Eu quero uma mulher de verdade e não uma Barbie que dorme e acorda maquiada.
- E que tem milhões na conta.
- Milhões que o senhor também tem.
- E que uma qualquer pode te dar uma chave de perna e arrancar metade da minha riqueza.
Respirei fundo cansado daquela conversa.
- Posso ir pra casa? Eu tenho um compromisso daqui a pouco.
Ele me olhou irritado.
- Compromisso com quem? Está saindo com alguém? Quem é?
Levantei calmamente e apoiei as mãos na mesa.
- Com MARIA DA SILVA OLIVEIRA...
- Anthony!
Virei para a porta girando a chave do carro no dedo.
- Tchau pai.
- Esteja amanhã naquele jantar, ou eu não respondo por mim! JUNIOR!
Bati a porta com força.