CAPÍTULO 5

2105 Words
Quando desço do táxi eu giro as chaves entre meus dedos, andando para o dormitório, por um segundo minha barriga ronca querendo algo salgado e com um pouco de infarto, sou tomada por uma fome que se torna familiar toda vez que bebo gostas de álcool. O álcool era perigoso. Você comia antes, durante e depois dele. As vezes não era nem o álcool que nos deixava com aquela pancinha no dia seguinte, mas o que vinha no período que ele estava incluso ou pré incluso. Além disso eu precisava comer alguma coisa, ajudaria a aliviar a cena que se reproduzia na minha cabeça de um certo alguém, com uma outra certa pessoa. Ah, que raiva. Balanço a cabeça, evitando o pensamento e colocando na cabeça alguma coisa bem gostosa de comer. Balanço a cabeça quando aquilo se mistura com uma cena aleatória do indivíduo, cujo nome eu me recuso a falar ou pensar. - Nada disso, quarto e cama - Falo pra minha consciência estomacal, que até acho que vai ser uma boa garota, recompensar ela de manhã se faz uma ótima ideia. Bem, essa é uma desvantagem de dormir em dormitórios, claro, se tivesse um frigobar ou algo do tipo ajudaria. Já escutaram o assalto a geladeira? É perfeito. Não agride ninguém, não machuca, um processo natural e uma habilidade que o ser humano adquire com o passar do tempo. Antes que eu chegue nas escadarias do dormitório, eu escuto uma buzina alta e olho por cima dos ombros pra ver o que é. Vejo a caminhonete de Riller e ele desce, ele segura um embrulho grande retangular e caminha na minha direção. Até olho para trás e vejo se é comigo mesmo, se não tem nenhuma outra garota das que ele fica perto ou com San. Mas não tem ninguém. Então era comigo. O que ele fazia aqui? Ele não estava no aniversário com a ruiva? Eu não quero problema, juro. Estava na minha, já bastava eu estar pensando demais em alguém, aí esse alguém vem perturbar? Não, tava errado isso, não era assim que o roteiro funcionava. - Não entre ainda. - O que faz aqui? - Vejam, eu devo estar com uma cara de surpresa quase patética diante o cara de quase dois metros de altura. Mas fazer o que? Eu não esperava, aliás quem espera um garoto como ele, depois de ver ele com outra, aqui, na frente dos dormitórios, nessas horas da noite... Qual o grau ele havia tido pra estar aqui. Viram, não se encaixava ele ali. - Precisava falar com você - Encaro ele, tentando assimilar ou pensar em um assunto que eu tenha pra resolver com ele, mas a resposta é não, não tenho nada pra falar agora. Antes até poderia ter. Mas... - Estava muito ocupado, não é mesmo, Riller? - Mordo a língua e quase dou um grito pelo que sai da minha boca. Aquilo me frustra. Me tira do sério. - Não gosto de San, eu só fiquei chateado pelo que falou pra ela. - Não me deve satisfação alguma, amigo. - Não me chame de amigo - Ele fala tão decidido, quase pergunto o que somos então, mas lembro que Riller é comediante, daquele tipo de comédia suja. Qualquer chave abre a porta pra ele. Queremos isso? Claro que não. - Somos amigos, não somos? - Na verdade eu fiquei chateado também pelo que disse na roda, fui r**m mesmo? Fui tão r**m assim, eu geralmente não escuto reclamação - Noto a calmaria dele ao perguntar Realmente, ele certamente não recebia reclamação. Aquilo era um fato. Mas vou admitir? Não. - Seu ego está ferido? Veio até aqui pra perguntar isso? Sério, Riller?! - Não, não é isso. p***a, eu quero paz. Se quiser estendo uma bandeira branca pra você. Fico parada, encarando ele, analisando o jogo, qual é, no meu lugar vocês teriam que analisar o que já se passou, porque passou e eu não podia omitir isso de mim. Riller já havia feito muita coisa r**m. Querer paz agora era no mínimo uma pretensão maliciosa ou uma mentira pra algo pior. - Qual o jogo? - Ele sorri, um sorriso pacífico. Bem, como ele conseguia deixar toda a marra de lado e virar pacifista de uma hora para outra? Era impossível. - Não tem jogo, só quero fazer o certo. - O certo? - Dou uma risada. - Tarde pra isso. - Pega - Ele ergue o embrulho e eu me aproximo. - Aceite como minhas desculpas pelo que já te fiz passar ou que falei de r**m. - Não quero nada Riller, de verdade. Se você está mesmo falando sério, bem, beleza. Não precisa disso. - Para de ser orgulhosa. Você merece isso também, vai precisar e eu quero ajudar e agradecer pelo que você fez. - Riller? - Ele ergue mais o embrulho e eu pego, abrindo e vendo duas cartilhas e três livros. Fico sem entender, mas percebo se tratar de matérias da universidade. - Isso é? - São algumas coisas que vai precisar para esse semestre. Não são novos, mas vai te servir e não vai ter que comprar, tem alguns rabiscos meus, mas vai ser útil. Sei que seu pai não está muito legal ainda com você. Fico antonita, suspiro fundo. - São seus, não posso aceitar. - Jogue no lixo então, não os quero de volta e não aceito devolutivo. Ainda mais suas de algo que estou dando pra você, por favor, aceite, eu estou insistindo. Analiso tudo. Pelos céus. Esse cara realmente queria paz ou só estava brincando? Eu precisava saber, facilitaria mil vezes a minha vida aqui e minha cabeça. Depois falam que a cabeça de uma mulher que é difícil entender, discordo. - Tá bom, vou aceitar. - Agora vem, quero te levar em um lugar e mostrar algo. Lugar? Que?! - Não, não, vamos com calma, tá bem?! - Ele se aproxima, puxa minha mão livre e beija, eu analiso aquilo. - Uma coisa é eu aceitar paz e o que você propôs, outra é sair por aí com você. - Por favor, eu sei que está agitada ainda e vai demorar pra dormir. Por favor, Analu. Se estivesse aqui iriam ver a cara disfarçada dele de cachorro sem dono. - Onde quer ir? Eu não... - Em prova da sua paz eu quero que confie em mim agora, Analu. Olhei para os livros e depois para o dormitório. Riller me encarava e esperava uma resposta e por um segundo quis ir, por outro um alerta me dizia pra entrar e nunca mais se aproximar. Até passou pela minha cabeça jogar os livros nele e fingir que nada aconteceu. Paz com ele seria a melhor coisa, tínhamos Louise em comum, querendo ou não poderíamos ser ao menos amigos. Sem nós envolver. Apenas bons amigos. Sem nós m***r ou ofender. - Tá bom, mas quero um lanche, preciso de algo salgado Riller, certo? Nada de ser p********o ou contar aquelas piadas sujas também, se não eu não vou confiar em você, vou pegar esses livros e acertar você. - Eu prometo que hoje não farei isso Analu, está bom assim pra você? Bem, pra mim estava ótimo. Ele nem precisou soltar a minha mão, apenas se moveu e caminhamos até a caminhonete, eu entrei e fui olhando sobre meu colo o que ele havia me dado, analisando exatamente o que eu tinha ali comigo e agradecendo ele mentalmente. - Você termina agora no fim do ano, não é? - Sim. - Você já está estagiando, Riller? - Perguntei. - Sim, com meu tio. Louise deve ter comentado. - Bem pouco. Paramos no drive e ele fez o pedido, pedindo duas porção de batatas e dois sucos. O que agradeci. Era perfeito a escolha, embora Riller ali tão perto, era meio suspeito. - Louise começa estágio só no próximo ano, eu entro no escritório também - Suspirei, aquela era uma conversa civilizada? - Vai sair e atuar, isso é ótimo. - Pelo que você disse - Ele faz uma pausa pegando os pedidos e colocando no meu colo. - Seu pai é advogado, vai facilitar pra você ter um campo pra atuar também. - De certa forma - Ele saiu com o carro e começou a ir por uma avenida principal. - Por agora não penso nisso Riller, penso em me estabilizar apenas e terminar meus estudos. - Está brigada com seu pai ainda? - Ele pega uma viela e depois entra numa estrada que eu não faço ideia pra onde seja. Fico atenta. Imagino por alguns segundos maldade da parte dele. - Sim, não estou com raiva em nem nada, estou na minha. Ele pisou na bola comigo quando fez o corte de dispensa pra mim,mensalidade e tudo. - Uma ótima forma de controle - Riller sorriu, mas sorriu com vontade. Um sorriso que eu gostei de ver na boca dele. - Ele só esqueceu que você não tem controle. A caminhonete parou em um estacionamento, quando olhei para o lugar, uma praça no mínimo deserta, do estilo antigo e antiquado fiquei sem saber o que falar. A iluminação era pouca e havia uma boa arborização e bancos espalhados, me esquivando para fora do carro eu vi o lago e depois as mesas próximas com alguns quiosques. -Onde estamos? Ele para ao meu lado e pega as sacolas da minha mão, me fazendo caminhar para o acompanhar até uma das mesas próximas ao lago, ele parece tranquilo, levando em conta que passam das duas da madrugada e estamos aqui. Não vejo uma alma penada, apenas tem latidos de cachorro um tanto distante. Aposto que é um cachorro caramelo típico da noite. - Uma das praças da cidade, não é perigoso, pode ficar tranquila, venho aqui faz tanto tempo que sei cada coisa escrita nessas mesas - Eu deslizo os olhos e ali vejo os rabisco variados, alguns significativos e outros nenhum pouco. Puxo minha batata e encaro o lugar mais um pouco. - Aqui durante o dia deve ser bonito. - Já foi mais, hoje não, pessoal descuidou. Nem a grama é a mesma de antes. - Vem aqui faz muito tempo mesmo? - Pergunto. - Desde garoto com meu pai, a gente arriscava jogar basebol e as vezes basquete, ali pra frente tem a quadra - Rillei come e desliza o copo de suco pra mim. - Era um ritual vir aqui nos domingos de manhã, meu pai fazia questão - Analiso o assunto. A a******a que ele aparentemente faz. - Você era do tipo ligado no seu pai, não é? Louise me disse sobre ele, lamento muito. - Obrigado, e é sim, éramos ligado. - Sabe, minha mãe morreu quando eu era bebê, que usava fraudas, não tenho muito dela no pessoal, só no físico do que me mostraram da mulher incrível. Meu pai depois da deixa ele não foi o mesmo ou talvez aquele sempre foi o jeito dele. - Ficou ausente? - Literalmente, mas ao mesmo tempo não. Era complicado, por algum tempo pensei que era pela perda dela, talvez era r**m olhar pra mim e lembrar dela. - Isso poderia acalentar a perda. Meu pai se foi e eu via muitas coisas dele em Louise, isso me transformou muito, me deixou próximo dela, não me afastou - Ficamos calado por grandes minutos, apenas comendo e aproveitando algo ali, algo que nunca tinha aproveitado dessa forma ou com uma companhia tão inusitada como Riller, se eu contasse sobre isso para alguém me perguntaram o motivo e se realmente aconteceu. - Eu nunca trouxe ninguém aqui, parecia algo muito próximo. Olhei para ele, que encarava o lago e mastigava uma batata. Vi sinceridade no que ele falou e me senti especial, mesmo que talvez ele estivesse me iludindo. - Não sei se acredito - Ele dá uma risada. - Garotinha, talvez devesse começar a confiar em mim, primeiro, fiquei atraído por você, seu jeitinho rebelde e calmo e segundo, gostei de você, como pessoa, pela sua índole que mostrou desde que chegou. - Bem. - Isso nunca me aconteceu, Analu. Peguei uma batata e levei até a boca. Bem, aquilo era novo pra mim. Alguém como Riller se interessar por mim. Bem, as coisas poderiam estar tomando um rumo diferente, eu devia ficar mais esperta. AVISO - Mais um capítulo fresquinho (finalmenteeee), para ficar por dentro adicione o livro na biblioteca, comente sempre nos capítulos para eu poder saber o que vocês acham e deixe o seu voto maravilhoso ou me sigam para receber novidades e atualizações. Até amanhã com mais um capítulo. Att, Amanda Oliveira, amo-te.
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