Lívia Se havia algo que Micael não compreendia, uma falha crucial em sua percepção que ditaria seu fim: cada ordem que ele me impunha não me submetia — pelo contrário, me incitava. Longe de me transformar em uma marionete, suas tentativas de controle acendiam em mim um pavio, uma chama de rebeldia que ardia com mais intensidade a cada esforço dele. Isso me impelia a morder a coleira até sangrar, a sentir o gosto ferroso da liberdade na ponta da língua. Motivava-me a cuspir na mão que afagava, a rejeitar a falsa gentileza que mascarava sua tirania. E, acima de tudo, fazia-me desejar incendiar a casa que ele julgava controlar, reduzir a cinzas o império ilusório que construíra sobre minhas costas. Foi por essa razão que, naquela manhã cinzenta, decidi transgredir uma regra. Não por fraquez

