Capítulo 3

1404 Words
  Conforme fomos entrando na pequena cidade, percebia-se que era bem antiga. As crianças corriam pela praça, as senhoras tricotavam na calçada e todos os moradores se cumprimentavam. Era impossível não se conhecer por ali. Sinto um frio correr pela minha espinha por lembrar de cidade pequena tinha língua grande. - Já estão enfeitando. - Marco observou e eu sorri afirmando. Era normal eles enfeitarem a cidade, levavam bem a sério datas comemorativas e todos os vizinhos se ajudavam para poder ter um ambiente colorido e animado. Nas noites de Natal, após a ceia, todos se reuniam na praça para uma confraternização. - O que vamos dizer aos seus pais? - Ele pergunta quando puxo o freio de mão. - Não sei. Vamos ter que improvisar. - Não sou bom com improviso. - Pude notar seu rosto ficando branco. - Nós nos conhecemos pela Gabi, nos apaixonamos e descobrimos que íamos ser papais. - Apertava o volante, como se ele fosse me tirar dali. - Você está nervosa, não é? - Pousou a mão quente na minha coxa, para me confortar. Sua mão é grande e cobre grande parte dela, e aquece também. Todo o meu corpo aqueceu. Os olhos castanhos encaravam os meus como se quisesse ver o fundo da minha alma, e eu observava cada detalhe do seu rosto, estava curiosa desde que o vi hoje mais cedo para procurar um defeito. Não encontrei. Estava tão bom ali, mas uma coisa roubou toda a minha atenção. Meus pais vestidos de duendes do papai-noel acenando da porta de casa. A única coisa que separava era um gramado bem cuidado, logo como escadas da varanda,  e lá comprados eles ... - Minha menina! - Meu pai me abraçou quando nos aproximamos, senti o cheiro de roupa nova saindo de sua fantasia fofinha e verde, misturado com o cheiro de casa. - Olá, você é o namorado dela? - Mamãe perguntou ao Marco que sorria amável após um abraço. - Diz que sim por favor, todo Natal ela vem sozinha. - Começou a tagarelar antes dele responder. Papai vira os olhos e estica a mão para o Marco. - Hugo. - Cumprimenta com a voz grossa. - Marco, prazer. - Aperta a mão dele. - Está namorando a minha filha? - Cruza os braços, quem vê pensa que ele é durão. Passo a mão no rosto. Até aos vinte e quatro anos eles ainda me envergonhavam. - Graça a Deus, eu estou. - Respondeu e deu uma piscadinha pra mim. Senti todo o ar sumir dos meus pulmões. ____ ••• ____ - Fique à vontade, Marco. - Minha mãe praticamente empurrava ele pelos cômodos empolgada. Não posso culpá-la. Nunca fui de apresentar namorados e desde que me mudei, a sua elevação aumentou. Ela sempre teve meu pai como um porto-seguro, e acha que eu preciso de um homem para isso também. Sarah não é machista, só que nem todos os homens são como o meu pai. - Você sabe que ela vai assustar o garoto, né? - Perguntou zombeteiro e empurrou o meu ombro de leve. E o que eu tenho pra dizer vai assustar vocês dois. Na cozinha o cheiro de bolo estava por toda parte, a casa aquecida e aconchegante. Meus pais conversavam com o Marco enquanto eu viajava nos meus pensamentos: como iria começar essa conversa? Como contaria a eles que estou grávida? Minha mãe já é preocupada, depois dessa novidade vai ter um troço no meio da cozinha. - Precisamos conversar ... - Falei rápido antes de perder a coragem. Eles ficaram em silêncio, após eu atravessar o assunto e me encararam preocupados. Marco respirou fundo, e segurança a minha mão por baixo da mesa. Seu polegar acariciou as costas da minha mão trêmula e de certa forma me deu segurança. Desejei do fundo da minha alma que isso fosse verdade. Que estava com o pai do meu filho, apaixonados e dando a notícia para os meus pais. - Tenho uma coisa para contar a vocês ... -  Nós  temos. - Ele dá ênfase e aperta levemente a minha mão. - Meu Deus, vocês vão casar? - Minha mãe junta as mãos e coloca na altura da boca com os olhos esperançosos. Senti vontade de chorar. Papai ainda me analisa, ele me conhecia tão bem que chegava a me assustar. Ele vira a cabeça como se quisesse me ver de outro ângulo. - Se aquieta, mulher. Não é isso. - Ele advertiu e voltou a me encarar. - Eu estou grávida. - Falei de uma vez. Marco entrelaça como nossas mãos. Sarah fica intacta, os olhos congelados e a boca entreaberta, igual ao meu pai. Ela puxa uma cadeira, levemente e senta ao lado dele, os dois pareciam ter visto um fantasma. - Vocês ... - Papai começou, mas logo parou. Estava sem palavras. - Minha filha, mas vocês só namoram. Nem o pai do meu filho ele é, mãe. Meu peito aperta angustiado e eu luto para não chorar na frente deles. Só quero que esse dia acabe, mas presumo que estraguei o Natal deles. Estraguei o meu também. Na verdade estraguei grande parte da minha vida. - Eu vou me casar com ela. - Marco quebrou o silêncio, meus olhos marejaram. - Não por obrigação, já planejava isso há um tempo. - Garoto - Pela primeira vez meu pai tira os olhos de mim, e transfere para o Marco -, vocês fazem ideia do que estão fazendo? - Papai. - Pedi chorosa. Não queria que ele ouvisse uma bronca que não merecia. - Vocês me batem mais velho! - Bateu na mesa eufórico e gargalhou alto, minha mãe abre um sorriso e percebo que as lágrimas dos seus olhos são de emoção. - Vem cá! - Ele puxa Marco para um abraço. - Ah, minha menininha! - Mamãe abre os braços e nós abraçamos. Eu preciso tanto disso que me desmancho em seu ombro. - Você será uma mãe incrível, eu tenho certeza disso. - Segurou meu rosto, limpando as minhas lágrimas enquanto as dela escorria. - Vocês vão formar uma família maravilhosa. Eu te amo, tá bom? - Vem aqui minha garota! - Papai brutalmente me puxa para um abraço. - É bom ele ser maravilhoso pra vocês, se não eu pego minha espingarda. - Sussurrou, mas pude notar sua voz embargada. - Estou tão assustada, pai. - Eu sei. Eu sei, filha. - Beija o alto da minha cabeça e sorri emocionado. ___ ••• ___ Depois da janta com risadas altas e nomes para o bebê, levei uma bronca enorme da minha mãe por não ter começado o pré-natal. E ela toda orgulhosa falou que iria falar com uma médica-amiga para tentar fazer um ultrassom. Não foi a reação que eu imaginava, mas também não é a verdade. O Marco, eu e família feliz, não é a minha realidade. E ele foi tão bem, meus pais o adoraram. Era impossível não gostar dele, o sorriso cativante era de agradar qualquer um. Ouço a porta abrir enquanto estou sentada no degrau da varanda, a noite está quente e a rua completamente enfeitada e natalina. - Seu pai me convenceu de fumar um charuto. - Marco comenta enquanto senta ao meu lado. - Estou com dor no peito até agora. Traguei tanto que ele teve que bater nas minhas costas. Você o conhece melhor do que eu, né? Minhas costas estão doloridas. Dei uma risada e encarei ele. Os olhos castanhos observavam os enfeites e brilhavam a cada casa. Gabi tinha razão, Marco ainda carregava com ele um espírito de criança. Eu não estou bem. Meu mundo está uma confusão e eu nem sei por onde vou começar a arrumar. Desejo nunca mais ir embora e ter a vida que eu criei aqui. Desejo essas luzes para sempre e esse clima agradável. Desejo que eu seja feliz com esse bebê, e que saiba ser uma boa mãe, que eu dê conta sozinha. Sinto o corpo do Marco encostar no meu, e ele delicadamente me puxar pra perto, contornando minhas costas com seu braço longo, e me segurar pelo ombro. Não luto para deitar minha cabeça em seu ombro. O cheiro agradável exala da sua pele e eu fecho os olhos sentindo seu ombro subir e descer com a respiração calma. Ficamos em silêncio, eu não queria dizer nada e ele sabia exatamente o que fazer. .
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