Capítulo 4

1229 Words
Pela manhã caminhei até a cozinha com os pés descalços, sentindo o geladinho do chão de mármore. No calor que fazia hoje, era exatamente o que eu precisava. Vejo meu pai com o jornal aberto, e a xícara de café a sua frente na mesa. As fumacinhas dançavam no ar e deixava um aroma maravilhoso. - Bom dia, princesa. - Falou quando abaixou o jornal e dobrou em duas partes. - Dormiram bem?  Lembrei-me do Marco dormindo no pequeno sofá cama do quarto, com o rosto relaxado e as costas nua sendo iluminada pelo Sol. Engoli seco com a vontade de toca-la. - Sim, papai. - Beijei o alto da sua cabeça e ele sorriu. - O que temos para hoje?  - Claro que você sabia que sua mãe faria uma tour pela cidade, não é? - Deu uma risada gostosa. - Sem dúvidas. - Respondi olhando pela janela acima da pia enquanto pegava um copo. Céu azul, brisa boa e o típico maravilhoso dia de verão. Aquela cidade era o paraíso. - Bom dia. - Escuto a voz rouca e minhas costas endurece. A atração que eu estava sentindo por ele parecia intensificar toda vez que ele se mostrava prestativo.  Talvez eu esteja acreditando na minha própria mentira e achando que a vida pode ser um contos de fadas.  Virei com o copo na mão e o segurei firme para não derrubar. Marco está sem camisa e vestindo apenas uma calça de moletom preta. Suas entradas são bem marcadas na ponta da calça, seu abdômen definido e o peitoral desenhado. Seu braço abaixa após coçar os cabelos negros bagunçados e me dá um sorriso preguiçoso.  Ele é muito... - Já tive minha época assim. - Papai falou nostálgico. - Em forma!  - Você está ótimo, Hugo. - Andou até onde eu estava e pegou o copo da minha mão. Nossas mãos se tocaram e eu quis acreditar que não fui só eu que senti o corpo esquentar. - Obrigado. - Agradeceu brincalhão, sabendo que o copo não era pra ele.  - Ah, garoto. Depois do casamento a única coisa que nós ganhamos é quilos e paciência.  - Paciência? - Puxou a cadeira para se sentar. Para de olhar pra ele, Amélia. Pelo amor! Só para. - Claro! Ou acha que com a paciência de hoje em dia você vai conseguir lidar com uma mulher diariamente?  - E é fácil lidar com vocês, não é? - Retruquei, me juntando a eles na mesa.  - Claro que é. Deixa o nosso futebol e a cerveja que não queremos guerra com ninguém, filha. - Ah tá! - Minha mãe entra com sacolas nas mãos. Provavelmente foi às compras - E a casa, filhos, comidas e bem estar da família é com a mulher, não é Hugo?  - Não disse isso, querida. - Abaixou a voz e tomou um gole do seu café. Vejo seus lábios esticarem em um sorriso provocativo. Marco se divertia com a discussão amigável da manhã. Sorria e interagia com eles como se fossem grandes amigos, ele tinha esse poder com as pessoas. Era incrível como parecia se encaixar em qualquer lugar. Ele não se deu ao trabalho de chamar meus pais por senhor ou senhora, ele simplesmente apertou a mão e abraçou. Não tremeu, não se importou de descer sem camisa e da risada com a boca cheia como se fosse da família.  Seus olhos me encontram e o castanho se ilumina, sinto vontade de abraçá-lo e dar um beijo no seu ombro. Mas lembro-me de que tudo isso não passa de uma mentira.  ___•••___ - Está tudo bem? - Marco pergunta ao entrar no nosso quarto, depois de de repente eu subir.  Sai do banheiro após escovar os dentes, um enjoo matinal típico de uma mulher grávida. Ainda preciso me acostumar com essa ideia.  - Enjoos. - Respondi e comecei arrumar a cama de costas pra ele. Não entendia porque não conseguia encara-lo, o conheci ontem e de uma hora pra outra eu não queria estar perto.  Marco fica em silêncio mas eu sei que ele ainda está no quarto, sem camisa.  - Posso fazer alguma coisa? Comprar algum remédio, não sei. - Perguntou sem graça e eu o odiei por ser tão atencioso.  - Estou bem. Minha mãe vai querer desfilar com nós dois pela cidade. - Avisei ainda sem olhá-lo.  - Ótimo. A noite de Natal é amanhã... O que compro pra você? Digo, seus pais acham que eu te conheço e... - E você não conhece. - Virei o corpo pra ele. Parado com as mãos nos bolsos dianteiros e um olhar de menino, não é possível que alguém seja tão perfeito assim. Não posso acreditar nisso. Será que é a atuação dele? Realmente a Gabi fez uma ótima oferta para ele se tornar um príncipe encantado. Mas será que no momento essa era a melhor opção pra mim? - Amélia, eu fiz alguma coisa errada? - Sua voz ficou mais grossa e o olhar foi substituído por um homem sério e preocupado.  - Não, absolutamente nada errado e esse é o problema. - O que? - Indagou confuso. - Não é possível que você seja assim. Meus pais te adoraram! - Gesticulava nervosa - Todos parecem gostar e querer você por perto. Você não fica entediado, você me acolhe na porta da casa como se fôssemos grandes amigos. Você não deixa eu carregar peso e nem dirigir. Você, m***a Marco, você é perfeito! - Desabafei e sentei na cama cobrindo o rosto, falei demais. A cama afunda e sinto seu cheiro. Seu braço encosta no meu.  - Tudo o que você falou, é bom. Então porque está zangada? - Perguntou baixinho, como se perguntasse pra ele mesmo.  Eu precisava perguntar, minha garganta fechava a cada segundo que eu não perguntava.  Faltavam quatro dias para o conto de fadas acabar e a única coisa que eu conseguia pensar era se... - Você tem alguém? - Pergunto de uma vez.  Espero que não, esses olhos me encarando não podem ser fã de outra pessoa.  - Alguém. Como uma namorada?  - Alguém Marco. Qualquer alguém.  - Sim. - Respondeu sincero - Tenho alguém na cidade. - Meu coração se quebra ao meio. - E ela não se importou de você vir? - Tento esconder a minha vontade de se jogar no chão e gritar. - Estamos dando um tempo. - Da os ombros - Não sei o que vai acontecer. - Seus olhos ficam distantes, ele estava magoado. - E você? - Transfere o olhar curioso pra mim. - Não. Somos só eu e o bebê.  Percebo que ele está analisando o meu rosto e deixo. Eu deixo porque também quero olhá-lo e tentar entender de onde vem essa forte atração que sinto, esse sentimento puro que tenho por ele. Quero decorar cada centímetro do seu rosto para quando voltar a realidade ter com o que sonhar.  Ele se aproxima, e eu fico na dúvida se ele realmente se aproximou ou foi coisa da minha cabeça. - Pombinhos! - Minha mãe abre a porta com tudo e nós dois viramos rapidamente. - Vamos, temos bastante lugar pra irmos! - Fechou a porta empolgada.  Marco continua olhando pra onde ela estava. Ele levanta sem me olhar e vai direto para o banheiro, depois de alguns segundos ouço o chuveiro ser ligado.
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