Sarah já havia mostrado a cafeteria da cidade e praticamente todos que estavam dentro soube que eu estava grávida e casada. Ela não disse que íamos casar ou pensávamos em casar, disse que eu já estava casada.
Isso provou que se eu aparecesse solteira, ela jamais desfilaria orgulhosa. E juro de coração que não a culpo, sua preocupação sempre foi extrema e exagerada, mas no final a sua p******o é enorme.
Porém ela precisava sair dessa bolha e perceber que hoje em dia, mulheres cuidam dos seus filhos sem um pai. O pai que a sociedade tanto exige e fala que é necessário, é o mesmo que abandona uma mulher.
Depois fomos à praça, o céu alaranjado dava início ao final da tarde, o clima ficou fresco.
Sinto os meus ouvidos tamparem enquanto conversamos com uma das amigas dela, minha vista fica turva e tenho a sensação de que vou desmaiar.
Marco contorna minhas costas com seu braço e aperta minha cintura levemente, é a primeira vez que nós nos tocamos depois do quarto.
Seguro em seus dedos e respiro fundo, tentando me livrar da sensação de desmaio.
- Eu também estaria assim depois de andar uma cidade inteira. - Sussurrou no meu ouvido. Inevitavelmente eu ri. - Que tal fugirmos e ir tomar um sorvetinho?
- Eu concordo plenamente.
- Sarah, licença - Marco interrompeu a minha mãe dizendo o quanto estava feliz que seria avó. Ela virou pra ele com um sorriso aberto e orgulhoso.
- Oi querido.
- Vou levar a Amélia para tomar algo refrescante. Sabe como é né, calor com grávida não combina.
- Ah! Que doce! - Sua amiga comentou - Uns dizem que é bobagem, não é?
- Não te falei? Meu genro é um lord! Mas filha, eu fiz você se esforçar demais? - Neguei com a cabeça querendo sair dali. - Vou fazer uma jantinha ótima pra vocês!
Fechei os olhos e o meu estômago revirou.
Pensar em comida não foi uma boa ideia.
- Estou bem, mãe.
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A sorveteria era próxima, graças a Deus!
Não aguentava mais andar e sentir enjoo e tontura a cada passo, e a cada dia parecia piorar.
Não sei ao certo quantas semanas eu estava, não entendia nada sobre gestação, não entendia nada sobre bebês.
Caminhávamos de mãos dadas e recebíamos sorrisinho de quase todos que a minha mãe conhecia, era incrível como a notícia se espalhava.
Marco abre a porta para que eu passasse e o sininho toca anunciando um novo cliente.
Escolhemos uma mesa e logo um moço vem nos atender com um bloquinho e uma caneta nas mãos.
- Hum, eu quero de chocolate. E você? - Marco segurou a minha mão por cima da mesa e acariciou com o indicador.
- Morango. - Respondi e olhei para o atendente.
- Já trago pra vocês. - Avisou e retirou-se.
- Está melhor?
- Sim, aqui está mais fresco. Parece frescura, mas é h******l. - Fiz uma careta e ele sorriu.
- Imagino.
- Desculpa ter surtado com você. - Peço e meus ombros caem.
- Procurei no Google e vi que os hormônios ficam a flor da pele. - Falou naturalmente e eu tive vontade de beija-lo.
Ele realmente procurou no Google o que uma mulher grávida sente?
- Você tem defeitos? - Perguntei e ele riu, mas recuou as mãos.
- Claro que tenho. Meu rostinho bonito engana as pessoas. - Passou a mão no rosto garboso.
- Realmente, engana muito bem.
- Quando eu tinha onze anos, eu vi o meu pai agredir a minha mãe - Abaixou os olhos -, foi a coisa mais h******l que eu já vi em toda minha vida. Começou a ser diário os socos e empurrões, mas ela nunca separava dele, então tentei chamar a atenção de outro jeito: festas, carro, embriaguez e noites fora de casa. Talvez ela preocupada comigo, perceberia que não tem tempo para as agressões dele.
Meu queixo caiu, os azuis escureceram ao meu olhar e percebi que ele estava triste. Molhou os lábios antes de continuar, como se fosse um assunto delicado.
- Prometi que jamais trataria uma mulher assim. Com grosseria, brutalidade, prometi que jamais me tornaria o meu pai. - Respirou fundo e deu um meio sorriso - Mas tenho os meus defeitos, todos nós temos.
- Nossa, - Balanço a cabeça algumas vezes, sem palavras - Que h******l você ter presenciado tudo isso, e ela passar por isso.
- Sim. Eles ainda estão juntos, eu saí de casa aos dezenove. Não aguentava mais assistir aquele show de horrores.
O atendente chegou com os nossos sorvetes e colocou na mesa, disse: bom apetite e se retirou.
- E você? Com o pai do bebê, vai procurá-lo? - Levou a primeira colherada até a sua boca e mastigou com um sorriso brincalhão.
- Não.
- Não acha que ele tem o direito de saber que vai ter um bebê? - Da os ombros e eu cerro os olhos pela sua ousadia. - Não adianta me fuzilar, mocinha.
- E se ele negar? Negar o bebê?
- Vai ser um completo i****a. - Afirmou.
- Onde você estava naquela noite? - Sorri e ele abriu um sorriso de orelha a orelha.
- Não sei, mas se fosse eu, você também não lembraria e me deixaria de lado.
- Hum. - Dei os ombros, era uma possibilidade. - Pode ser.
- Mas tenho minhas dúvidas se você esqueceria. - Piscou s****o - Não deixaria isso acontecer. - Ele pareceu pensar em algo malicioso, mas não falou.
Meu corpo tremeu e o sorvete da minha boca derreteu rapidamente.
- Sobre o presente... - Resolvi trocar de assunto.
- Já sei o que vou dar! - Interrompeu de boca cheia. - Não fala!
- Ok - levanto às mãos em rendição.
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Meu celular começa a vibrar e no visor vejo que é uma ligação da Gabi. Graças a Deus, estava tentando falar com ela desde ontem.
Atendi enquanto saía do quarto, Marco estava no banho e com certeza ele seria o assunto da nossa conversa.
- Alô!! - Gabi da um grito histérico e eu assusto.
- Ta louca!?
- Aí até que enfim! Eduardo cismou de acampar no fim do mundo, não tenho sinal e ontem eu vi ele comendo um inseto, dizendo que era como se vivia na natureza. - Desabafou, ela e seus gostos peculiares para homem.
- Céus! Que horror! E você comeu?
- Óbvio que não! Trouxe minhas barras de cereais escondidas, mas estou quase picando e colocando ele na fogueira. Mas me fala, como tá o Marco!? Comportado?
- Ele é um amor, sério. Meus pais o adoraram.
- E você?
- Óbvio né - andava de um lado para o outro no corredor.
- Vocês transaram? - Direta e reta.
- Gabriela! Eu estou grávida! - Repreendi, mas já pensei nisso também.
- Mas não está morta, meu amor... E...el...gos...Amélia!?
- Gabi? O sinal! - Avisei, tentando escuta-la. Mas a ligação ficou péssima.
- Eu...odeio....o Edu..mato...INFERN...- A ligação caiu.
Voltei rindo para o quarto, mas meu sorriso sumiu ao ver o Marco com a toalha branca amarrada na cintura.
Dos cabelos negros ainda pingavam gotículas de água e seu corpo estava totalmente molhado. Ele virou ao perceber que eu estava ali e sorriu. Ele sempre sorri.
- Esqueci minha roupa, te chamei e não me respondeu.
- Estava telefone...- Balancei a cabeça - Estava falando com a Gabi no telefone.
- Ah é, como ela tá? - Perguntou animado e tudo que eu queria era me concentrar no assunto.
- Ótima. - Respondi sem pensar.
Eu estava ótima. Ela não. Ela estava vendo o ex-futuro-namorado comer inseto.
- Que bom, vou me trocar e descemos para jantar, ok?
Confirmei com a cabeça e ele foi em direção ao banheiro.
- Ah! - Parou no batente e virou o pescoço - Eu percebo quando você baba em mim.
Entrou no banheiro e meu queixo caiu. Todo o meu rosto esquentou e eu quis bater a testa na parede em desespero.
Mas a Gabriela me despertou uma certa dúvida:
Será que eu seria muito errada se me permitisse passar uma noite com o Marco?
Depois eu voltaria para o meu apartamento e trabalho e ele para a mulher dele. Pensar nisso fez com que o ar sumisse dos meus pulmões, mas era a realidade.
Eu precisava ver como o corpo dele se mexia, como as mãos me tocariam, precisava sentir o cheiro do seu pescoço e o gosto dos seus lábios.
Talvez depois do jantar...