Uma Dor de Cabeça Chamada Maitê

799 Words
Rael A sacola de feira da Maitê estava jogada no canto do meu quarto. Tinha esquecido de mandar algum dos "crias" entregar na casa dela. Eu deveria ter feito isso no momento em que a peguei, mas meus pensamentos estavam naquela figura petulante que polo visto, não tinha medo de me enfrentar. Acabei esquecendo o que precisava fazer. O cheiro de sabão em pó e um leve aroma floral saía da sacola, invadindo meu espaço. Irritante. Tudo nela era irritante. Os olhos, a teimosia, o jeito de me encarar sem baixar a guarda. Ela era um verdadeiro tormento para os meus pensamentos. A menina m*l saiu das fraldas, infern@. Preciso parar com isso. Sentei na ponta da cama, o fuzil encostado na parede ao lado, enquanto o Cabeça e o Jhow discutiam sobre a distribuição de um novo carregamento. Minha mente, no entanto, estava em outro lugar. Na boca atrevida dela, nas garras que ela tinha mostrado. — Chefe, tá ouvindo? O que fazemos com o carregamento do morro vizinho? Eles estão querendo mais do que o combinado — Cabeça perguntou, me tirando dos meus devaneios. — A gente dá o que combinou. Nem um grama a mais. E se reclamarem, vocês sabem o que fazer — respondi, a voz seca. No meu mundo, as regras eram claras. Negociação era uma coisa, vacilo era outra. Mas mesmo enquanto eu falava de negócios, meus pensamentos voltavam para ela. Eu não conseguia entender por que a garota do interior estava me afetando tanto. Já tive dezenas de mulheres, todas mais bonitas, mais "interessantes" para o meu estilo de vida. Tinha uma fila de put@ na porta da minha casa se eu quisesse. Todas prontas para abrir as perdas. Elas só queriam uma chance com o Dono do morro. Algumas até achavam que podiam ter mais de mim do que só uma fod@ de algumas horas. Iludidas. Não que seja minha culpa. Passa pela porta quem quer, eu não obrigo ninguém. Mas todas sabem que não tem chances de virarem fiel. Maitê, por outro lado, parecia me odiar e me desafiar na mesma medida. Ela não mostrava medo. Nem interesse. Ela não se insinuava e tentava uma aproximação. Pelo contrário. Ontem, quando levei a sacola dela – uma ideia i****a, eu sei, mas algo me impeliu a fazer – ela nem agradeceu direito. Me olhou como se eu fosse um alienígena. E o pior: eu achei graça. Eu, Rael, rindo de uma mulher me desafiando. Isso não era normal. — A gente podia mandar uma flor pra essa Maitê aí, chefe. Quem sabe ela amolece? — Jhow soltou, rindo. Lancei um olhar tão mortal que o Jhow engoliu a risada na hora. — É bom que vocês se concentrem no trabalho de vocês e parem de falar besteira. Se eu vir algum de vocês incomodando a moça, vão ter que se resolver comigo. Entenderam? Os dois assentiram rapidamente, sem questionar. Sabiam que eu não estava brincando. Mas por dentro, eu me xingava. Por que eu estava protegendo aquela mulher? Ela não era ninguém para mim. Era só uma moradora. Mais uma. Mas cada vez mais, uma parte de mim sabia que ela não era "só mais uma". E isso era um problema. Um grande problema. Quando os assuntos importantes acabaram, Jhow saiu a procura de Binho. Eles tinham ordens a seguir. Cabeça por outro lado, permaneceu na sala. Agora com uma postura bem mais relaxada. Ele me olhava e eu tentava ignorar. — Que foi porr@? — perguntei quando não aguentava mais. — Tá interessado na garota? — questionou sem rodeios? — Por que você não vai pro infern@? — Não posso, sou seu irmão e seu braço direito. Você precisa de mim — diz dando de ombros. O olho sem paciência. — Diz ai, a garota é casca grossa em um corpo miúdo e olhar de inocente. Não concorda. — Cabeça... — Qual é cara. Você nunca defendeu ninguém. Admita que a mina mexeu com você. — Não, não mexeu. — Sei — diz se levantando. O vejo seguir em direção a sacola, que nem deveria estar aqui — Vou levar as compras. Elas devem estar precisando. Tudo bem para você? — Por que quer levar? — Porque é dela e você é orgulhoso demais para assumir que queria fazer isso você mesmo. Vou facilitar seu lado. — Tanto faz — finjo indiferença. Mas put@ por dentro. — Beleza. Volto mais tarde. Observo enquanto cabeça pega a sacola e me dando as costas sai pela porta sem olhar para trás. Tenho certeza de que ele estava rindo. Mas resolvo ignorar. Preciso parar com essa merda. Ninguém entra, porque o foco na minha vida é manter o controlo desse lugar. Essa menina é só uma dor de cabeça que logo vai passar.
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