Nunca pensei que um dia teria a oportunidade de almoçar em um cômodo tão chique.
A sala de jantar parece ter saído de uma revista de decoração. A mesa de madeira clara – mesma tom dos pés das cadeiras – é imensa. Ao seu redor, doze cadeiras brancas e acolchoadas agrupam-se. Um lustre de cristal pende do teto, e eu imagino que teria que assaltar um banco para poder pagar por ele.
Estou acomodada entre Frederico e Ariana, bem no centro da mesa. Ninguém consegue disfarçar o desejo de devorar as fumegantes lasanhas. O cheirinho está tão bom! Modéstia à parte, Ariana, Pietro e eu arrasamos.
Depois de nos agradecer pelo almoço e brindar mais uma vez, a galera finalmente se serve. É então que Thayná, que está sentada em uma das pontas da mesa, pede para Benjamin colocar um pedaço em seu prato. Ele o faz, só que, quando Thayná vai pegá-lo de volta, acaba esbarrando no garfo que Maya leva à boca. Um pouco da lasanha para na toalha de mesa.
– Vai derrubar minha comida toda ou só este pouquinho mesmo? – Maya não parece nada feliz.
– Desculpa, foi sem querer – Thayná responde, mais concentrada na delícia à sua frente.
– E o fato de você entrar na casa para roubar nossos homens e deixar uma garota solteira foi sem querer também? – A cólera no rosto de Maya denuncia sua vontade de arrancar o couro de Thayná e fazer um casaco.
– Maya, relaxa. Ela não escolheu vir para cá nessas circunstâncias – tento amenizar o climão. – Além do mais, ela já se desculpou.
Maya abandona o garfo e me encara, a cólera estampada em sua face.
– Não é como se ela fosse a única a não jogar limpo por aqui.
Franzo a sobrancelha, confusa. De quem Maya está falando? De mim? Mas eu nem fiz nada! Aliás, furar o olho alheio não é minha intenção. Não estou desesperada a ponto de dar mole para Deus e o mundo. Para ser sincera, nem adiantaria muito. Daqui a pouquinho, minha passagem pelo Ilha será apenas uma recordação.
Com a face mais rubra do que seu cabelo, Thayná fita Maya, desejando dar na cara dela. Céus, quando foi que tudo começou a desandar dessa maneira? É só o primeiro dia!
– Queridinha, se você não é capaz de segurar o seu homem, o azar é seu. Eu me garanto, mas, pelo visto, não é seu caso, não é mesmo?
A paciência de Maya vai para o limbo, levando-a a puxar as madeixas da ruiva. Entre gritos e ordens para elas pararem com a palhaçada, Benjamin e Pietro apressam-se para separá-las. Elas debatem-se, mas os caras são mais fortes e conseguem contê-las.
– Meninas, por favor. Será que dá para termos um primeiro almoço em paz? – Hellen pede. – Depois sentamos e conversamos como adultos.
– Não tenho nada para conversar com essa daí! – Maya finalmente desvia do contato com Benjamin. – Perdi a fome.
Em seguida, sai do cômodo, a passos firmes. Os rapazes voltam a sentar-se, absorvendo o ocorrido. Quebrando o silêncio sepulcral, Akemi pega seu prato e anuncia que conversará com Maya. Otávio, então, estica o olhar para o resto de comida da morena.
– Se a Maya não quer, tem quem queira – puxa o prato para si.
A refeição segue silenciosa por alguns minutos. A real é que ninguém quer verbalizar o ocorrido. Quem acompanhou as outras temporadas do reality sabe que desentendimentos acabam causando consequências inimagináveis. Drama é o que move o programa e, claro, leva a audiência às alturas.
– Enfim o Ilha começou – Hellen murmura, reflexiva.
– Pois é. Não sei vocês, mas não estou nem um pouco animado para vivenciar quinze de brigas. Se eu quisesse ver barraco, assistiria àqueles programas sensacionalistas de fim de tarde! – Pietro mastiga.
Otávio suspira.
– Isso é natural aqui. Dividir uma casa com pessoas de temperamentos diferentes não é fácil. Ainda mais quando envolve interesses tão diversificados.
– Mas você não acha um pouco desnecessário? – Benjamin pontua. – Quero dizer, estamos aqui porque queremos relaxar e viver um romance. Para que tanta confusão?
Ariana dá de ombros.
– O Ilha do Amor não é só um reality show de confinamento; é, acima de tudo, um jogo. Quem não estiver pronto para jogar vai acabar perdendo a cabeça, igualzinho à Maya. Acho que ela não está preparada para esta loucura. Se está pirando agora, imagina quando as festas e os amassos começarem. A verdade é que não viemos aqui para fazer amigos. Podemos estar bem agora, mas aposto que ninguém vai hesitar em atirar o outro na fogueira se isso ajudar a salvar a própria pele.
A discussão arrasta-se por tempo suficiente para terminarmos o almoço. Pietro e eu vamos à geladeira pegar o tiramisu e a banana caramelizada que preparamos para a sobremesa. Nossas mãos tocam por um instante, nos fazendo a sorrir, sem jeito. Por algum motivo, meu rosto queima e tenho certeza de que o de Pietro também, afinal sua pele branquinha enrubesce. Ficamos longos segundos nos encarando até finalmente fecharmos a porta.
Caramba, o que deu em mim? Tudo bem, o Pietro tem o tipo físico dos caras com quem costumo me relacionar (tirando o fato de ele ser musculoso e eu adorar um magrelo), mas não tenho motivo para ficar esquisita desse jeito. m*l conheço o sujeito! Além do mais, não faz sentido deixar alguém mexer comigo, afinal irei embora na primeira oportunidade. Nenhum colírio tatuado estragará meu plano.
Colocamos os recipientes na mesa e voltamos para a cozinha para pegar potinhos e colheres de sobremesa. O povo já está devorando as delícias quando retornamos. Que gente esfomeada! Até parece eu!
– Tá muito bom! – Hellen pontua. – Já podem casar.
Fico com vergonha mais uma vez, porém acabo focando em devorar o tiramisu. Nossa, o Pietro sabe mesmo cozinhar. A nonna dele deve estar orgulhosa. A garota que ficar com ele terá uma sorte...
Só no momento em que ambos acabam de comer lembro de algo importante:
– Pietro, o que você achou da lasanha vegana?
Ele torce o rosto.
– Não achei nada demais. A minha estava bem melhor.
Pelo sorrisinho de canto de boca, sei que está fingindo. Em seguida, é a vez de o resto do pessoal ficar indignado.
– Tinha lasanha vegana? Para mim estava tudo ótimo – Thayná experimenta um pouco de banana caramelizada.
O resto do pessoal concorda, alguns até pedem a receita.
– Parece que alguém vai rebolar a b***a – Ariana e eu batemos nossas mãos.
Pietro revira os olhos. Ele já vai pedindo para cantarmos um funk, mas digo para esperar até a primeira festa do programa. Se é para passar vergonha, que seja em grande estilo.