– E o primeiro macho escroto da casa é... Frederico!
Solto uma risadinha quando Ariana pronuncia essas palavras. Ela e Pietro estavam conversando na cozinha quando cheguei, batendo pé. Perguntaram o que aconteceu, e acabei desabafando. Ariana ficou revoltada, desatando a falar m*l até do xampu de Frederico. Pietro também se indignou e pediu desculpas em nome da ala masculina, o que só fez eu ficar mais revoltada por ele ter escolhido a Akemi ao invés de mim. Ok, a concorrência era grande, mas custava o Universo reservar um cara bacana para mim?
Decido comer queijo quente com orégano. É fácil e rápido de fazer. Procuro os ingredientes e os deposito na ilha. Sim, temos uma ilha. E eu que achava que isso só existia naqueles programas de reforma gringos!
A infraestrutura da cozinha americana não deixa a desejar. Estilos rústicos e modernos combinam-se, evidenciados pelo branco dos móveis e o tom escuro presente nas madeiras do chão e dos bancos da ilha. Os lustres esféricos cinzas pendem sobre a bancada. A enorme porta de vidro que dá para a área externa completa o visual.
Do outro lado, dá para ver a sala de estar. Ela é toda branquinha e tem três sofás creme, uma mesa de centro e uma lareira. Também há uma porta imensa que dá para o exterior da casa e, em uma das paredes, uma televisão. Não me perguntei o motivo. A gente nem pode assisti-la!
Enquanto meu lanchinho esquenta na sanduicheira, Pietro, Ariana e eu conversamos sobre o que faremos para o almoço (sim, teremos que preparar nosso próprio rango. Como se a produção fosse deixar a gente queimar a b***a no sol o dia inteiro!). Decidimos preparar lasanha. Pietro contou aprendeu a cozinhar esse prato com a avó italiana, ou nonna como ele a chama. Também discursou sobre como adora reunir sua gigante família no domingo para almoçar e conversar. Cara prendado, familiar... Gosto disso.
– Pronto – Pietro olha para os ingredientes, assim que os dispõe na bancada. – Agora só falta a carne moída e... – Só então nota o meu desconforto. – Ué, o que foi?
– Então, eu sou vegetariana – sorrio amarelo.
– E eu, vegana – Ariana completa, para a minha surpresa. – Acho que não vai rolar a lasanha da nonna para a gente.
Pietro encara-nos em choque. Já passei por algumas situações as quais as pessoas espantam-se por eu não comer carne. Os desinformados sempre acham que vou morrer de fraqueza ou ficar magra demais. m*l sabem eles que me sinto mais saudável agora do que durante toda a minha vida carnívora.
– Peraí, vocês não comem nada de carne? – A sobrancelha de Pietro ergue-se. – Tipo, nadinha?
– Não – balanço a cabeça em uma negação. Volto a atenção para Ariana. – Não tem problema, podemos fazer nossa própria lasanha. Tenho certeza de que a produção deixou alguns produtos veganos na dispensa.
Parto em busca dos ingredientes e, por sorte, encontro tudo o que preciso. Retorno com as mãos cheias e um sorrisão no rosto.
– Prontinho. Achei massa vegana. Também dá para fazer a bolonhesa com lentilha e alguns temperos. Ah, não podemos esquecer de preparar a muçarela. Tenho uma receita que é ótima!
Ariana encara-me, embasbacada.
– Dá licença, Milene. Preciso avisar ao Allison que vou casar com você.
Não consigo conter uma gargalhada. A Ariana é uma figura!
– É sério. Como você consegue ser tão prendada assim? – Ariana ri junto. – Tenho um canal sobre veganismo e nunca preparei lasanha à bolonhesa. Ah, é bom nos darmos bem aqui dentro. Você vai cozinhar para as minhas ariganas!
– Ari o quê? – Pietro e eu indagamos em uníssono.
– Ariganas. Minhas seguidoras. Alguém juntou Ariana com vegana, e a moda pegou – dá de ombros. – Enfim, valeu mesmo pelo esforço. Você parece ser legal.
– De nada. Bem, sou bacana quando não estou com fome. Aliás, deixa eu pegar meu sanduíche senão vou cair dura!
Segundos depois, estou devorando o meu queijo quente. Ah, que delícia! Estava precisando mesmo encher a pança.
Enquanto começa sua aventura culinária, Pietro fica com uma cara esquisita. Quando pergunto o que aconteceu, ele franze a testa.
– Bolonhesa vegana não existe.
– Óbvio que existe – retruco. – Já comi um milhão de vezes.
Ele cruza os braços tatuados, apoiando o corpo na bancada.
– Isso é um crime contra a gastronomia. Minha nonna mandaria você parar de frescura!
Ariana intromete-se com a boca cheia de banana:
– Crime é fazer um bichinho inocente sofrer por interesse próprio – gira o corpo na minha direção. – Milene, não liga, não. Ele só está com inveja porque sabe que a sua lasanha vai ficar melhor que a dele!
Pietro põe as mãos na cintura, perplexo com a audácia da loira.
– Duvido. Eu danço funk se a sua tigela de legumes ficar gostosa
Sorrio. Se há uma coisa que adoro é um bom desafio.
– Quer apostar? – estendo a mão.
– Com certeza – Ele a aperta.
– Que babado! – Ariana vibra. – Agora o Ilha do Amor vai começar.
Finalmente alguma coisa interessante vai rolar neste programa! Talvez minha estadia aqui não seja tão chata quanto pensei. Não se o Pietro perder e me fizer rir até sentir dor de barriga.