Capítulo 3

642 Words
– Um brinde à Ilha do Amor! Ao comando de Otávio, o pessoal bate suas taças. Todos estão animados e com vontade de conhecer melhor os colegas de programa. Bebo o mísero gole que coloquei no meu copo, ao mesmo tempo em que Frederico me chama para trocarmos uma ideia. Contrariando o desejo imenso de dar um perdido nele, o sigo. Se seremos obrigados a conviver, é melhor depositar as cartas na mesa agora. Sentamos nas espreguiçadeiras. O sol atinge em cheio a minha pele, o que me faz lembrar que preciso retocar o protetor solar. Percebo que os olhos acinzentados do meu parceiro demoram-se em mim, como se estivessem analisando cada centímetro do meu ser. Por que será que Frederico me encara tanto? Será que estou com feijão no dente? Ou será que ele só deseja uma oportunidade para soltar mais uma asneira? – O que foi? – ouso perguntar porque minhas bochechas estão ardendo de vergonha. Sempre tive dificuldade de fitar homens diretamente, então posso qualificar essa situação, no mínimo, como constrangedora. – Só estou pensando na sorte que tive por poder escolher uma mulher tão linda – Frederico põe uma de suas madeixas douradas atrás da orelha. Se minhas bochechas já estavam fervendo, agora estão mais quentes do que fogueira de Festa Junina. Sei que um monte de caras vem com esse papinho furado para tentar conquistar as meninas, mas não consigo evitar ficar sem graça com esse tipo de comentário. Embora viajar tenha me ajudado a diminuir um pouco a minha timidez, ela ainda existe e faz questão de comparecer nos momentos mais inapropriados. – Vai com calma, português! – Subitamente lembro da situação vergonhosa de mais cedo. – Não sei como é lá na sua terra, mas frases feitas não colam comigo, não. Aliás, é bom deixarmos uma coisa bem clara: é melhor você começar a medir suas palavras ou vamos nos dar muito m*l. Frederico bebe um gole de champanhe, o cenho franzido. – Nossa, você é nervosinha, né? Só estou te elogiando. – Chamar uma mulher de gostosona é elogiar desde quando? Ainda mais na frente de todo mundo. Cara, sempre procuro dar o meu melhor em tudo e ser uma boa pessoa, aí vem um sujeito que nunca vi na vida e me trata como seu eu fosse um pedaço de frango assado. Cai na real, né? Nossa, que comparação infeliz! Nem parece que sou vegetariana! Cruzando os braços, Frederico afunda o corpo na espreguiçadeira, claramente incomodado com o rumo da prosa. Provocou, agora aguenta! – Quanto mi mi mi! As mulheres de hoje querem problematizar tudo! Digo que você é gostosa, ouço reclamações. Se eu falasse que está gorda, aconteceria o mesmo. Ai, é muita confusão para a minha cabeça! – Mi mi mi o caramba! Sabe o que nós, mulheres, somos obrigadas a ouvir diariamente de imbecis como você? – Frederico ajeita o corpo, bravo por eu xingá-lo. Agora já foi! – É uma besteira atrás da outra, todo santo dia. Sempre tem um i****a nos tratando como um chinelo arrebentado e diminuindo o nosso valor. Não vou permitir que um sujeitinho que m*l conheço faça isso comigo. Ah, termina logo de beber. Talvez te ajude a engolir a sua babaquice. Dizendo isso, dou as costas e vou embora. Não costumo ser brava assim; para ser sincera, sou tranquila até demais. Porém, tem um momento que sou capaz de quebrar o copo na cara de alguém ou difamá-lo até a décima quarta geração: quando a fome bate. Se tem uma coisa que amo na vida é comer. Sinto um prazer imensurável em sentir sabores e texturas. Não é que eu devore um pratão de pedreiro, mas gosto de experimentar. O problema é que experimento demais. Será que tem algo de bom na cozinha? É o que descobrirei neste exato momento.
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