Um reencontro

1013 Words
Havia sido uma história torta, cheia de conflitos e obstáculos, mas ela achava bonita, diferente de todas as outras pessoas ela enxergava nele um homem doce, o viu chorar várias vezes, recebê-la em casa após o trabalho com um prato de comida na mão. Um menino que apesar do vocabulário chucro e das atitudes irresponsáveis era alguém capaz de dar tudo o que tinha para ajudar o outro. O rapaz entrava e saia dos empregos, sonhava demais e nunca se contentava com o que podia ter, Helen costumava ter longas conversas sobre o que tinham e o que construíram. Estavam dividindo uma casa de apenas dois cômodos, móveis que ele mesmo construiu, mas ela adorava mostrar que não estavam pagando aluguel, que tinham muito, nunca adiantou muito, ele parecia sempre acabar se afundando em reclamações de novo e de novo, trazia pessoas perigosas, em uma noite a convenceu a sair, foram a um bar e como sempre, lá Cristiano se envolveu em uma confusão, quando uma gangue enorme apareceu eles apanharam juntos, quando ela conseguiu tirar o namorado da confusão, ele tinha um corte enorme na boca e Helen estava com as costas e os braços roxos, ainda assim ela o beijou, o gosto de sangue não a fez parar, nem a expressão de nojo dos amigos. Estava acostumada aquelas coisas, mas o pior foi quando ele levou para casa um dos rapazes que estava com ele na hora em que começaram a briga. Ele só quis ajudar e ela não quis reclamar, o momento já parecia tenso demais, acordou durante a noite com Diego acariciando a sua perna enquanto o namorado dormia pesado. Helen nunca contou, sabia que o resultado seria o pior, mas esse foi apenas um dos casos em que a irresponsabilidade dele, aliada ao seu bom coração colocou a menina em risco. - Filhos da putα, acabaram com a minha boca. - Vamos no médico, Cris, está sangrando. Havia um corte na cabeça do rapaz, os cabelos de fios grossos escondiam a gravidade, mas o sangue revelava a verdade. - Não, vem aqui, quero dormir. Estava bêbado e machucado, mas ela gostava do seu abraço, costumava dizer que parecia ter sido desenhado para recebê-la, se sentia pequena e protegida, apesar de que a cada manhã ela precisava ser a adulta daquela relação. Aprendeu rápido que precisaria ser forte, lutou com todas as forças que tinha para salvar aquele amor, por fim precisou escolher entre se salvar ou afundar com o homem que amava. Escolheu a si mesma. Quando descobriu o que tinha acontecido ao ex-companheiro estava na casa da mãe, a enfermeira aposentada estava fazendo uma festa simples, Bruno também estava se divertindo, e ela usava um vestido bonito que a deixava ainda mais bonita. O mês de dezembro era o único período em que ela conseguia visitar a mãe, conheceu Ney, o namorado da senhora que apesar da idade ainda era muito bonita. - Vou comprar um sítio para viver com a minha prenda, um pesqueiro e uma casinha. A fala do possível padrasto a fez lembrar de um sítio do ex-sogro, pesquisou na internet e descobriu por um site sobre a prisão do homem que não encontrava há anos. Mostrou ao marido. - Bruno, é o Cris! Olha. O homem olhou, leu com cuidado o processo, já havia ouvido falar de Cristiano tantas vezes que sentia como se o conhecesse, viu algumas fotos, mas nunca foi tão palpável. - Bom, então agora sabemos que o homem que você conheceu mudou. - Não! Ele não é assim, não fez isso. A senhora Lurdes também não gostava de Cristiano, ele foi o responsável por atrasar o futuro brilhante da filha, reclamou, xingou, brigou, tentou aconselhar e por fim Helen fingiu ceder. - Tudo bem, mãe, calma, eu não vou a lugar nenhum e mesmo que eu quisesse não poderia ajudar, sabe que minha área de atuação é cível e não criminal. - Não sei, só esquece e fica longe dele, esse rapaz nunca prestou, sabe disse, filha. Quando estavam sozinhas ainda falou sobre Bruno, que ela deveria respeitar o marido, que nenhum homem gostaria de ver a esposa falando do ex e Helen simplesmente mudou o assunto. No entanto, assim que chegou em casa falou sobre o assunto com o empresário. - Ele me ajudou, Bruno, várias vezes, sabe disso. E agora, eu posso fazer alguma coisa, vai ser como encerrar um ciclo. Depois disso, prometo que esqueço. Bruno dificilmente discutia, gostava das coisas claras, mas também respeitosas. - Sabe que eu não concordo, mas é adulta, uma mulher incrível e que pode decidir o que fazer sem precisar pedir nada. Não sou seu dono, somos parceiros, Helen, se decidir que vai ajudar, ninguém conseguiria te impedir e eu acabaria te perdendo se tentasse, prefiro te ganhar sendo apoio. E foi assim, que Helen apareceu naquela penitenciaria fora do horário de visita e com o processo desenhado para pedir revisão de pena, liberdade assistida e outros recursos. Como Muralha já sabia e Bruno tinha certeza ela era boa no que fazia, resiliente e obstinada, em três meses o homem estava livre. Helen esperou por ele na saída da penitenciaria e quando ele a abraçou a mulher sentiu exatamente o mesmo do passado, o corpo robusto parecia ter sido feito sob medida para abrigar ao seu. - E aí? Está com fome? Almoça comigo. - Por sua conta? - Estou convidando, não estou? Muralha estava ali, gostava da companhia, mas Paula o esperava. Não estava livre, e por mais que Helen estivesse na sua frente, que reconhecesse o sentimento, não era justo, assim que o almoço terminou se separaram, ela ainda tentou oferecer uma carona, mas o homem recusou. - Então tchau, tem o meu telefone, se precisar de alguma, sabe como me encontrar. Guardou o cartão de visitas da advogada, mas voltou para casa, havia uma menininha linda esperando por ele, Heloisa era como a luz da sua vida. O que ele não sabia era que Erick havia feito mais do que apenas acenar para ele dentro da penitenciaria.
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