Capítulo 2

4375 Words
Júlia Andrade Era sábado e eu acordei extremamente cedo, tinha uma reunião em uma das maiores agências de marketing do país, a ansiedade estava a mil, não era apenas pelo salário, mas sim pelas oportunidades que esse trabalho abriria para mim. Eu cheguei na agência dez minutos antes da hora marcada, fui a primeira a chegar, na verdade, a secretária mandou eu esperar na sala de reuniões e aos poucos fui vendo os meus concorrentes chegarem. A pessoa responsável pela reunião atrasou, a maioria de nós demonstrava traços de nervosismo e ansiedade. Havia uma pessoa específica que com certeza a maioria de nós já conhecia: Clara Fontanezzi. Ela era filha de Joaquim Fontanezzi, dono de uma agência de publicidade. d***a, a contratação dela era quase certa. Quando a pessoa que iria nos entrevistar chegou eu não acreditei que era o cara da festa na noite passada. Sim! Aquele cara com roupa de grife e um Rolex no punho, que inclusive estava usando agora mesmo. Só o valor daquele relógio já me fazia melhorar de vida. E esse terno? Com certeza foi feito sob encomenda. Puf! Talvez eu possa fingir que não me lembro dele. É, vou fingir que não me lembro dele, até porque o jeito como ele falou comigo na festa... “Achei que você quisesse”, “Então dança. Você nem é tudo isso, eu tava fazendo um favor pra você”. Quem ele pensava que era para me falar essas coisas? Ele é só um cara riquinho que usa roupas caras e acha que pode tudo! Não que eu odeie gente rica, mas esse cara... Não era nem para eu ter ido àquela festa. Minha amiga Mônica quem insistiu. Nos tornamos amigas ainda na faculdade, ela vinha de uma família rica, suas amizades eram todas ricas, eu era a exceção. Eu venho de uma família humilde, minha mãe não completou nem o ensino fundamental, meu pai nos abandonou quando eu tinha oito anos, minha mãe era diarista, então basicamente fui criada pela minha avó, outra que não tinha estudo algum, nem no ensino fundamental ela chegou a entrar. Eu fui a primeira da minha família a entrar em uma universidade pública, na verdade eu fui a primeira a entrar em uma universidade. E de todas as minhas amizades, Mônica era a única rica. Mas ela era diferente dos ricos que eu conhecia. Para começar, ela não era metida, adorava ir para minha casa, que era extremamente simples e humilde, adorava a comida da minha avó, não se importava de ir dormir lá e dividir a cama comigo, ela não ostentava o dinheiro que tinha. Mas esse cara, nossa, ele fazia questão de ostentar suas roupas de luxo, seu relógio caro, sabe? Sem falar no jeito dele ser, de olhar, tudo nele gritava metido. - Os currículos de vocês são incríveis, não deixam nada a desejar – fui tirada de meus pensamentos. Ele fechou os currículos e olhou para as pessoas ali, nossos olhares se encontraram, ele pareceu se lembrar da noite passada. d***a! Agora que eu não consigo essa vaga mesmo. - Se eu fosse analisar apenas os currículos, já sabemos quem seriam as duas pessoas que ficariam nessa sala para uma entrevista. – falou juntando os currículos e empurrando-os para o centro da mesa – Mas eu quero contratar a melhor pessoa que estiver aqui, não o melhor currículo. – fez uma pausa e nos olhou, em seguida se levantou – Então o que vamos fazer é conversar. - Conversar? - Clara Fontanezzi perguntou. - Isso. Conversar – falou olhando-a com um sorriso soberbo no rosto. - Sobre o que? – um cara sentado à minha frente perguntou incerto. - Vocês. – falou calmo – O que gostam de fazer nas horas vagas, por exemplo. – ele olhou para a porta e viu uma mulher carregando uma bandeja com comida, fez sinal para ela entrar – Obrigado! – disse, ela sorriu para ele e ele retribuiu, voltando sua atenção pra nós novamente – Desculpem por isso, não tomei café ainda. – seu tom era de quem não se importava nem um pouco com a nossa opinião acerca disso – Então, quem vai começar? – todos ficaram em silêncio. - Isso só pode ser piada – ouvi a garota ao meu lado sussurrar. - Tá. – ele falou após engolir o pedaço de croissant que havia colocado na boca – Deixa eu ajudar vocês. Me falem Ppor que vocês estão aqui? Como souberam dessa entrevista? Somos uma agência grande, muitas pessoas matariam para ter uma chance de estarem sentadas aí. Por uma vaga aqui na agência. – fez uma pausa e me encarou – Mas olha para essa sala. – olhou o ambiente e nós acabamos fazendo o mesmo – Só tem vocês. Quatorze pessoas. Não é o número real de interessados nessa vaga. Então... Como conseguiram chegar aqui, hoje. E se sentarem nessa cadeira para concorrerem a essa vaga? Agora é com vocês – jogou tudo isso no ar e voltou a comer. Assim que ele acabou de fazer as perguntas fiquei pensativa, afinal eu só tinha conseguido essa vaga aqui porque o pai da minha melhor amiga é o amigo de um cara do RH. Etinha pouca experiência na área, sabia que estava só por isso estou aqui, entre tantas pessoas melhores e mais qualificadas do que eu. Minha resposta não seria tão diferente das que estas pessoas estavam dando, afinal, era uma seleção muito fechada, só os sortudos que ficaram sabendo dela apareceram aqui e só ficaram sabendo quem tem algum contato com alguém daqui de dentro. Ele foi ouvindo as pessoas enquanto comia, ao terminar, instigou-as a conversarem e falarem sobre eles mesmo, nesse momento ele até parecia um homem legal. E ele era bem bonito também. Agora, pude notar a beleza que se fazia presente em seu rosto, em seu porte, na forma como ele falava, o charme que continha, o sorriso, a boca... Ouvi a voz daquele homem se voltar para mim. - E você? – Oouvi sua voz daquele homem se voltar para mim, me fazendo sair de meus devaneios – Falta apenas você. falar algo. Então, perguntou – Oo que tem para nos contar? Espero que tenha uma história melhor do que a de seus colegas aqui. - Com toda certeza não é melhor do que a de ninguém. – me adiantei em não criar falsas expectativas – Eu fiquei sabendo dessa entrevista pelo pai da minha melhor amiga. Ele é amigo de um cara do RH. Ele comentou ontem com a gente e eu acabei vindo – falei sem demonstrar me lembrar dele. - E sua amiga? – perguntou. - Amanheceu indisposta – na verdade ela estava era com ressaca. - E seu nome é? – perguntou. - Júlia. Júlia Andrade – falei e ele me encarou. - Júlia, quais as suas experiências no ramo? – perguntou. - Eu estagiei em um broker de imóveis e atualmente estou trabalhando em uma agência de lazer e turismo – falei tentando passar estar calma. - E está disposta a largar seu trabalho por um estágio incerto aqui? – perguntou. - Estou. – respondi de pronto. - Sabe que o contrato é por apenas um semestre não? – eu novamente concordei, dessa vez com a cabeça – E ainda assim está disposta a largar algo concreto por isso? - É, estou sim – novamente afirmei. - Por quê? – indagou. - Por que não? – retruquei – Esta é uma das maiores agências de marketing do Brasil, mesmo que eu consiga o estágio e daqui a um mês eu seja mandada embora, vou poder colocar isso em meu currículo e aonde quer que eu vá, isso vai ter um peso maior sobre os outros concorrentes a uma vaga – fui sincera. - Belo ponto de vista. – ele falou fazendo uma pausa e sorrindo sarcástico – E você é alguém que gosta de dançar? – falou isso claramente se referindo a noite passada. - Sim. – respondi tentando não esboçar reação alguma quanto a ter o conhecido ontem – Por que a pergunta? – me fiz de desentendida. - É que você me parece ser uma pessoa bem feliz. – eu apenas assenti com a cabeça – Sabe Você sabe que o trabalho inicial será para uma agência funerária, não? – me fez outra pergunta. - Sim, sei. - Você sabe que os mortos não dançam... – falou claramente se referindo a minha fala de ontem à noite – E seus familiares não vão estar tão felizes a ponto de quererem se divertir, não é? – notei o tom de sarcasmo em sua voz, algumas pessoas deixaram escapar um risinho. - Com toda certeza eu sei disso. – o encarei – Se bem que meu jeito feliz e meu gosto por dança me fez  tenhocriar um ótimo slogan alegre pra funerária: “Funerária Sesmaria, sua morte, nossa alegria!”. – falei a frase gesticulando com as mãos no ar, como se a mostrasse nele, usei um tom sarcástica sarcástico e dessa vez mais pessoas deixaram escapar um risinho – Muito feliz pra um momento triste não? Talvez possamos pensar em algo mais deprimente, se preferir. Ele me olhou, mas não falou nada, sua cara não estava das melhores. Ele apenas me encarou por mais alguns segundos antes de tirar seus olhos de mim. - Obrigado pela presença. Podem deixar que eu entrarei em contato com quem for escolhido. Desde já, agradeço a todos por virem – falou sério e depois se dirigiu até a porta, saindo. Mas que m***a, se eu já não tinha chances, agora então acabei de m***r e enterrá-la de vez. Tá, o trocadilho não foi dos melhores, mas esse cara... Nossa, ele me tira do sério. Mas que m***a! Vi as pessoas saindo da sala, fiquei lá mais um pouco, precisava digerir o que eu havia acabado de fazer. Acabei saindo de lá sabendo que já era. Estava caminhando até o elevador quando a voz daquele homem soou atrás de mim. - Outra coisa não, mas sarcástica você sabe muito bem ser – me virei para olhá-lo. - Só agi conforme o ambiente pediu – falei com cara de poucos amigos. - Pelo visto hoje não está nem um pouco com vontade de dançar, não é mesmo? – perguntou. - Não vejo relevância em responder a esta pergunta – ele soltou um sorriso. - Vai fingir que não se lembra de mim? Da noite passada? – perguntou me afirmando que se lembrava de quem eu era. - Noite passada? – me fiz de desentendida. - O cara da festa – falou. - Você dançou comigo? – ele pareceu notar que eu estava me fazendo de desentendida, então balançou a cabeça negativamente. - Então... “Funerária Sesmaria, sua morte, nossa alegria!”? – falou – Confesso que nem eu criaria algo tão único assim. – revirei os olhos – Parabéns pela criatividade, é um slogan que realmente gruda na mente. , Mas mas se vamos trabalhar nisso preciso de ideias adequadas para cada situação. - Se vamos? – perguntei sem acreditar. - Se não quiser o cargo eu tenho certeza de que a senhorita Fontanezzi vai adorar ficar com ele – falou apontando por cima do ombro. - Não. Não. Claro que não. Eu quero sim. Eu só... – notei o sorriso em seu rosto – Deixa pra lá. Obrigado pela oportunidade. - Você já pode começar agora? Quero adiantar umas coisas e como você vai trabalhar diretamente comigo, seria bom já está por perto para se inteirar de tudo – falou. - Claro. - Vem, vamos no RH – me chamou indo em direção ao elevador. Eu o acompanhei. Entramos no elevador e eu me lembrei do que rolou ontem à noite, me senti desconfortável. Segundos depois chegamos ao andar do RH, fomos o caminho em silêncio. - A propósito, sou o Diego. – falou quebrando o silêncio que se fazia presente dentro daquele lugar, mas eu apenas acenei com a cabeça positivamente.. Saímos do elevador e fomos até o RH, Diego – d***a, até seu nome era bonito – pediu para darem entrada no contrato e adiantou tudo o que podia, em seguida, nos dirigimos até o andar em que sua sala ficava, me mostrou a mesa que eu ocuparia, eu fui até lá e já ia me sentando, quando ele falou: - Vem, tenho que te mostrar umas coisas antes. Fomos até sua sala e ele me mostrou tudo o que eu precisava saber para começar a ter uma ideia mínima nesse meu início de estágio. Me mostrou todas as exigências que a agência funerária havia feito e algumas das ideias inacabadas que ele havia tido. Acabamos nos perdendo com o trabalho e no tempo. - Nossa, eu acabei de tomar café e já estou com fome – ele falou e eu finalmente saí do mundo da papelada em que estava analisando tudo e o olhei. - Pior que eu também tô – disse e o vi olhar pro seu relógio de pulso, ele sorriu. - Não é para menos, você já viu a hora? – me encarou mostrando seu relógio. Peguei meu celular e notei que ele ainda estava no silencioso, havia várias ligações de minha avó e quando vi a hora fiz uma cara de espanto. Eram 20h53min, eu o olhei. - Eu tenho que ir – falei organizando tudo o mais rápido possível, porém estava meio desajeitada, ele segurou minha mão. - Não se preocupa, vou avisar a eles sobre as horas extra de hoje – falou com um sorrisinho de canto de boca. - Que? – perguntei me dando conta de sua fala – Ah, não, não é isso. Minha avó já me ligou diversas vezes. Eu disse que era apenas uma entrevista e que voltava cedo pra casa. - Então liga para ela e diz que você está bem. Assim eu fiz, peguei o celular e liguei para minha avó. - Eu tô bem, é que eu fiquei com a vaga no estágio, mas acabei perdendo a hora aqui trabalhando. – falava ao telefone – Mas eu já tô indo, vou só terminar de arrumar as coisas aqui – eu dizia enquanto guardava os papeis em suas respectivas pastas. - Na verdade você ainda vai jantar comigo – Diego falou e eu acabei repetindo isso ao telefone sem me tocar. - Na verdade eu ainda vou jantar com meu che-fe... – interrompi minha fala – Pera aí, o que? – falei olhando para ele, que apenas sorriu – Não, não vó, eu não vou jantar – ele pegou o celular da minha mão. - Oi senhora... – me olhou como que esperando que eu falasse o nome de minha avó, mas eu não disse, apenas o encarei com raiva enquanto tentava pegar meu celular de volta – Aqui é o Diego Bittencout, novo chefe da sua filha. – ele segurou meu braço e me olhou com cara de quem estava mandando eu ficar quieta – Queria te pedir desculpas por ter feito sua neta demorar tanto no trabalho... – fez uma pausa para escutar o que minha avó falava, eu tentei pegar o celular, mas ele foi mais rápido – Para com isso! – sussurrou tapando o celular com a mão – Então, vou leva-la para jantar, acabamos nos perdendo no tempo e não almoçamos hoje, mas não se preocupa que depois a levarei em casa. – novamente fez uma pausa – Não se preocupe. Tchau. – disse desligando o celular e me entregando. - O que você pensa que tá fazendo? – perguntei. - Você devia trocar esse celular, ele está velho. – foi sua resposta enquanto se virava pra terminar de desligar seu computador, eu o olhei incrédula – Pronto, vamos? – disse e ao notar que eu ainda mexia nos papeis continuou – Deixa tudo aí, segunda a gente arruma – me puxou pelo braço. -Ei. – eu disse me soltando – Quem disse que eu vou com você? - Eu. – disse com ar superior – Vem logo! – novamente me puxou pelo braço e eu o puxei novamente, me soltando. - Eu não vou com você – quando falei, meu estômago roncou, péssima hora pra ele fazer isso. Diego me olhou e sorriu debochado. - Acho que seu estômago quer muito vir comigo. – eu revirei os olhos – Olha, pra mim tanto faz se você vem ou não. Se virou e começou a andar. O fato é que essa agência era muito longe da minha casa, ela ficava em São Rafael e eu morava na Brasilândia, levaria quase duas horas pra chegar em casa, e eu estava morrendo de fome. Acabei indo atrás dele e ao entrar no elevador ele sorriu novamente. - Só vou porque tô com fome. – foi tudo o que eu disse e o ar superior daquele homem me deixava com raiva. O acompanhei até seu carro, ele ia abrir a porta para mim, mas me adiantei. - Eu tenho mão e sei abrir a porta de um carro – falei. - Que seja – o vi revirar os olhos. Entramos e ele dirigiu por quase uma hora até chegarmos em um restaurante, na entrada se lia Trattoria Fasano. - Não se preocupa, eu que vou pagar – falou com tom superior novamente. - Eu odeio isso – deixei escapar. - Comer em lugares bons? – perguntou antes de abrir a porta do carro, eu o encarei, mas não o respondi, me virei e abri a porta do carro, saindo rápido dele. Entramos no lugar e eu prestei atenção em tudo, as pessoas que estavam por lá tinham cara de metidas, bom, a grande maioria. Fomos levados até a área externa, havia uma mesa com dois sofás de madeira, as paredes eram de blocos de pedras e havia algumas árvores no local, o que dava um ar extremamente lindo ao ambiente, me perdi observando o local. - Já pode se sentar – ouvi a voz de Diego me trazendo de volta. - Claro. – respondi. - Obrigado. – ouvi Diego falar ao garçom quando este o entregou o menu – Quando formos pedir eu te chamo. O garçom foi embora e eu olhava para o menu sem fazer ideia do que pediria, os preços de tudo era extremamente caro e os nomes das comidas eram totalmente desconhecidas para mim. - Se você quiser posso pedir por nós dois. – ele falou repousando o menu sobre a mesa e me observando, eu apenas assenti – Você prefere carne ou massa? - Massa, eu acho – falei incerta e o vi chamar o garçom. - De entrada vamos querer dois carpaccio de filé mignon com vinagrete de azeitonas pretas e pinoli, para o prato principal eu vou querer um filé mignon grelhado com molho marsala, trufas pretas e foie gras e para a moça um gnocchi recheado com carne de ossobuco, molho de limão siciliano. De sobremesa um pudim de leite, ravióli de limão e banana ouro. – eu apenas fiquei calada, ele deu uma rápida olhada na cartilha dos vinhos e logo se decidiu – Traz um La Joya, reserva 2015, também. Obrigado. - Então tá – falei assim que o garçom saiu, olhando para Diego com minha melhor cara de quem não entendeu absolutamente nada do que ele havia pedido para a gente. - Você vai gostar – disse com um olhar intimidador e devo confessar que a forma como ele me olhava me deixou desconfortável. - Segunda continuaremos de onde paramos? – tentei trazer a pauta trabalho para que ele parasse de me olhar. - Claro – foi suscinto, mas seguia me encarando, eu desviei meu olhar e comecei a olhar em volta. - Essa paisagem daqui é muito bonita – falei em uma tentativa frustrada de fazê-lo desviar o olhar de mim. - É sim – respondeu e ficamos alguns segundos em silêncio, ele continuava me olhando e eu estava ficando sem jeito. - Então... Você sempre vem aqui? – perguntei, em mais uma tentativa de fazê-lo parar de me encarar. - Só quando tenho uma bela companhia ao meu lado – falou sério. - Bela companhia? Ontem você não disse que... Como foi mesmo? – falei como se estivesse pensando – Eu nem era tudo isso? – o encarei. - Ah, então você se lembra de ontem? – d***a! Balancei a cabeça negativamente enquanto mordisquei meu lábio. - Pode ser que minhas lembranças de ontem à noite estejam voltando – fiz cara de quem estava mentindo. - Sua cara mentindo estava melhor pela manhã – falou com um sorriso no rosto. - Parece que tenho que praticar um pouco – eu disse. - Pois é. – sorriu – Afinal você se lembra muito bem de tudo, até do que eu falei. Isso seria um belo avanço desde hoje de manhã – o sarcasmo em sua fala o deixava com um ar soberbo. - Ai meu Deus! – soltei. - Então você só queria dançar? – comentou. - E você só queria enfiar sua língua na garganta da primeira mulher que encontrasse? – retruquei. - Para ser sincero, era isso mesmo – falou com a maior tranquilidade do mundo. - Pelo visto deu certo – o olhei. - Não muito. A primeira só queria dançar. – nesse momento fiquei um pouco envergonhada e normalmente eu não era assim, mas a forma como ele falava e me olhava... – Tive que fazer isso com a segunda e com uma terceira. Acho que meu plano para noite frustrou um pouco. - Deve ter sido h******l pra você – fui sarcástica em relação aos beijos que ele teve que dar depois que eu o “dispensei”. - Na verdade eu até que sou acostumado a receber alguns “nãos”, claro que é uma minoria muito grande. Na verdade, você é a primeira em dois anos – falou. - Nossa, mas se acha demais. – soltei um sorriso – E eu tava me referindo ao fato de você ter beijado duas mulheres ontem. - Ah, isso. É, o primeiro beijo não foi tão bom assim, o segundo foi melhor. Com certeza foi – pareceu se lembrar do que ocorreu e eu balancei a cabeça em negação. - Tá – disse com um sorriso refreado no rosto. - Mas me diz aí – falou. - Dizer o que? - Já se arrependeu de não ter me beijado? – não, ele se achava demais! - Inacreditável como você se acha. Nossa! – falei com um sorriso envergonhado enquanto mexi minha cabeça e olhei pra o meu lado direito. - Ser confiante não é um defeito. Antes que eu pudesse falar algo, nosso prato de entrada chegou, junto com o vinho escolhido por Diego. Eu apenas preferi não responder. - Bon appétit – falou antes de começar a comer, eu apenas fiz um leve gesto com a cabeça. Comemos e devo confessar que a comida estava uma delícia, e o vinho era muito bom também. Logo em seguida vieram o prato principal e a sobremesa, tudo muito delicioso. Odeio admitir, mas Diego tinha um ótimo gosto para comidas e vinho. Notei que ele me olhava. - Pra quem não me achou tudo isso, você não para de me olhar – falei em tom de brincadeira. - Tava escuro lá. Você até que não é de se jogar fora – falou e eu senti minhas bochechas corarem. - Vamos? – desconversei. - Claro. – disse chamando o garçom para pagar a conta. Assim que pagamos, nos levantamos para ir embora, antes de chegar no carro eu avistei um casal fazendo o mesmo, antes de conseguir colocar minha mão na maçaneta da porta do carro, senti a mão esquerda de Diego em meu rosto e a direita em minha cintura, me empurrando contra a porta do carro e colando nossos lábios em um longo selinho. - O que você tá fazendo? – perguntei o empurrando. - Te beijando – sua voz saiu firme, então ele colou nossas bocas novamente. Eu coloquei minhas mãos em seu rosto, Diego colocou a língua em minha boca, eu não resisti e acabei fazendo o mesmo, o beijo se intensificou. Sua mão que estava em minha cintura apertou o local, me puxando para mais perto de seu corpo. Mas antes que o beijo se aprofundasse mais, eu o empurrei de leve. Ele parou, me olhou alguns segundos e em seguida olhou em direção ao casal que estava por ali, eles já haviam ido embora, ele se afastou de mim, então era sobre isso que esse beijo se tratava? Ele abriu a porta do carro para que eu entrasse e assim eu fiz. - Onde você mora mesmo? – perguntou. - Brasilândia. Ele apenas assentiu. O caminho foi regado a silêncio e as únicas palavras proferidas dentro daquele carro eram sobre o caminho até minha casa. Havia ficado nítido que o beijo teve a ver com o casal que estava no estacionamento do restaurante. Decidi não o forçar a falar sobre o assunto, afinal estava me achando uma tonta por ter retribuído o beijo. Quando chegamos em minha casa eu tirei o sinto, mas antes que eu pudesse descer ele segurou meu braço. - Espera... – falou, mas não o deixei continuar. - Tá tudo tranquilo. Acho que ela viu você me beijando – seu rosto ficou carregado com uma expressão de surpresa pela minha fala. - Olha, eu não... – novamente o interrompi. - Boa noite. Obrigado pelo jantar e por ter me trazido – falei com um ar meio triste. - Ei... – segurou meu braço e antes que eu pudesse interromper ele, ele se adiantou – Teria sido bem melhor se eu tivesse conseguido beijar a primeira mulher que eu vi – falou. - Ah tá. – falei sarcástica em tom de quem não acreditou nem um pouco em sua fala, ele ia me interromper, mas agora foi minha vez de me adiantar – Boa noite. Disse descendo do carro e entrando em casa. Ao fechar a porta, fui logo até o banheiro, me encarei no espelho e disse: - Você é uma i****a mesmo!
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