2

3174 Words
Tenebroso A secretária do condomínio disse que a Giulia estava aqui. Eu tomei um susto; fazia muito tempo que ela não falava comigo, desde a nossa briga no morro. Nossas vidas seguiram rumos diferentes. É claro que eu continuo apaixonada por ela, só que agora eu sei diferenciar as coisas e também sei que não posso ficar com uma pessoa que não confia em mim. Eu tinha muitos motivos para atirar no BN, mas não iria fazer isso porque preferia um acordo de paz. A pessoa que atirou nele não tinha palavra, e essa característica é uma desgraça, porque agora a gente não vai mais conseguir viver em paz; eles nunca mais vão confiar na gente. Mesmo assim, essa pessoa não se entregou para ser cobrada, porque sabia que seria morta. Eu sei que alguns aliados nossos devem ter passado a mão na cabeça dessa pessoa, e ela com certeza articulou isso um tempo antes. Ou seja, ela aceitou o acordo de paz só para ter o prazer de dar um tiro no BN e acabar com a vida de todo mundo, porque foi isso que aconteceu. Eu e a minha família nos afastamos da facção, não por medo, mas sim porque, sinceramente, estamos cansados. Depois de nos livrarmos da máfia, precisamos de um tempo para colocar a nossa vida no lugar. Se um dia eu precisar voltar para a facção, eu vou, mas neste momento prefiro ser apenas um trabalhador comum que vende armas e, às vezes, drogas, mas que, na maioria das vezes, é só um empresário normal. Quando ela se colocou de pé na minha frente, fui bem frio, porque estava cansado de ser machucado por ela. Eu sei que errei muito no passado, um passado recente, mas não sou burro o suficiente para dar um tiro nas costas de alguém que acabou de assinar um acordo. Tenebroso: Como eu disse, não tenho o dia todo, então, se você não for falar, marque um horário e volte outro dia. Tenho mais o que fazer e uma reunião daqui a alguns minutos, uma reunião muito importante para mim. Giulia: O que eu tenho para falar com você é muito sério, então acho melhor você desmarcar a sua reunião. Eu sei que é um compromisso de trabalho e que não tenho hora marcada, mas o assunto é de extrema urgência. Tenebroso: Se for algo a ver com a facção, não estou interessado. Como você pode perceber, já saí da facção há algum tempo. Eu e a minha família estamos seguindo em paz; nem no morro estamos morando mais. Giulia: Vocês largaram a Rocinha. Tenebroso: Lá dentro tem um traidor, uma pessoa que teve coragem de atirar no BN pelas costas. Quem garante que ela não vai atirar em mim ou em alguém da minha família? Nós não vamos arriscar as nossas vidas, então preferimos sair e viver em paz do que ficar no meio de toda essa sujeirada, porque é isso que essa facção se tornou. Desde o momento em que eles atiraram em uma pessoa dentro da Rocinha, sujaram o nosso nome, e tudo que está acontecendo na Babilônia é consequência das atitudes de alguém, e esse alguém não quer se entregar. Então, não sou eu que vou ficar ensinando as coisas para os outros. Todos nós somos adultos e responsáveis pelos nossos atos. O sanguinário vai comer todo mundo vivo, e eu não estou nem um pouco a fim de tomar um tiro na minha cara por algo que não sou responsável, como você me acusou. Como eu disse, tenho uma reunião daqui a pouco, então, se você não for direta e clara, pode se retirar da minha sala e marcar um horário com a minha secretária. Assim, eu te atendo com calma. Giulia: Depois que a gente se separou, descobri que estava grávida. Nós temos um filho, Caio. Tenebroso: Eu acho que não entendi o que você falou. Giulia: Ele tem 4 meses e se chama Benício. Sinto muito por não ter te contado antes. No começo, estava com muita raiva e não queria me aproximar de você, com medo do que iria acontecer, porque achei que você tivesse atirado no BN. Depois, fiquei com medo de você me rejeitar junto com o bebê, só que agora ele já está com 4 meses e acho que você tem o direito de conviver com o seu filho e de curtir essa fase. Tenebroso: Você está dizendo que ficou grávida, teve uma criança que já está com 4 meses e só resolveu me avisar agora? Olha, sinceramente, você só pode ser maluca. Eu perdi fases da vida do meu filho. Podem ter sido fases chatas, mas mesmo assim eu queria ter participado. Você me acha tão ao ponto de me excluir da vida de um bebê? Giulia: Eu sinto muito pelas minhas atitudes, sinto mesmo, mas estava em um momento r**m e não estava preparada para ser mãe. Fiquei com medo de você me rejeitar. Tenebroso: Eu poderia te rejeitar, porque foi isso que você fez comigo, mas eu nunca rejeitaria o meu filho. Giulia: Me perdoa. Tenebroso: c*****o, eu te amo, e parei de ir atrás de você porque você surtou. Não estou dizendo que sou santo; nunca fui, mas nunca te dei motivos para desconfiar de mim. Você me afastou do meu filho porque duvidou do meu caráter. Você tem noção do que é isso? Do que essa história se tornou? Será que você não consegue enxergar as consequências disso? Giulia: Ele é um bebê. Se você se aproximar, ele vai te amar. - Senhor, eu não quero atrapalhar a sua conversa, mas a dona Maísa chegou. Tenebroso: Peça para ela aguardar alguns minutos na sala de reunião ou na recepção e avise a ela que nós vamos sair para almoçar, por gentileza. - Claro - ela falou, saindo. Giulia: Maísa, almoço. Tenebroso: Não haja como se você fosse minha mulher ou como se pudesse me cobrar qualquer coisa, porque você não pode. Na verdade, você não pode me cobrar nada; eu que deveria te cobrar, mas não vou perder meu tempo. Tenho um compromisso agora e passo em São Gonçalo para conhecer meu filho e vou levar meus pais juntos. Acho que eles têm direito de conhecer o neto, mas não ache que vou te tratar como se o tempo não tivesse passado e como se você não tivesse me acusado de várias coisas que não fiz. De tudo que você me fez, essa foi a pior. Sinceramente, me privar de conhecer meu filho foi a pior coisa que você poderia ter feito comigo. Giulia: Nós podemos conversar, podemos recomeçar do zero. Tenebroso: Até quando ? até Acontecer uma coisa, e você desconfiar de mim e se isolar como se eu nunca tivesse existido? Para eu ter que ficar correndo atrás de você e implorando seu perdão por uma coisa que não fiz? Ou para você engravidar novamente e esconder outro filho de mim? Porque, dentro das opções, você só está errando, e eu não estou com paciência para suas atitudes nesse momento. Quatro meses! Eu perdi quatro meses da vida do meu filho. Você é uma i****a mesmo. Giulia: Você está com outra? É só isso que eu quero saber. Tenebroso: A minha vida pessoal não é da sua conta, nem do seu interesse. Deveria ter pensado nisso quando registrou meu filho sem um pai. Acho que teria sido mais prático. Giulia: Ele tem seu nome na certidão. Tenebroso: Como é que é? Giulia: Eu tinha uma cópia dos seus documentos por causa dessa loucura de acordo, e quando fui registrar, ele foi registrado com o seu nome. Tenebroso: Não é possível! Eu ia descobrir que era pai dessa criança quando o pedido de pensão chegasse na minha casa? Porque, sinceramente, não estou entendendo a maluquice que passou na sua cabeça, mas também nem tenho porquê. Como eu disse, mais tarde eu passo no seu morro para conhecer meu filho junto com meus pais. Agora, se você me dar licença, eu tenho um almoço de negócios. Giulia: Almoço de negócios com uma mulher? Por que não marcou uma reunião aqui no seu escritório? Tenebroso: Como eu disse, a minha vida pessoal não é da sua conta. Você pode, por favor, sair da minha sala? Giulia: Para de me tratar como se eu fosse uma desconhecida! Para de me tratar como se não gostasse de mim! Você acabou de falar que me ama e agora simplesmente vai ignorar o fato de eu estar aqui na sua frente pedindo para a gente recomeçar? Tenebroso: Eu poderia até cogitar uma reconciliação com você se você não tivesse escondido meu filho de mim. Você tem noção da gravidade do que fez? A vida não é um morango, Giulia, e nós temos que pensar antes de agir. Giulia: Vai perder a oportunidade de ficar com a sua família para ficar com uma mulher? Tenebroso: Isso foi uma escolha sua. Agora eu posso ficar com a mulher que eu quero. Acho que tenho total liberdade de dar uma madrasta para um filho - eu falei, e ela avançou em mim. Giulia: Eu vou te matar! Então era desse jeito que você estava sofrendo? Tenebroso: Quantas vezes eu fui atrás de você? Quantas vezes eu te pedi desculpa? Quantas vezes eu te pedi para conversar? Várias! E você não escutou nenhuma. E agora você quer ficar surtando e gritando que nem uma maluca dentro da minha empresa, como se não tivessem várias pessoas em volta? Pelo amor de Deus! Como eu disse, mais tarde a gente se encontra e começa a se recompor. Tem certeza que quer ver a minha companhia para o almoço, que nem uma maluca? Giulia: Eu te odeio. Tenebroso: Faz parte do processo; odiamos várias pessoas - falei, abrindo a porta para ela sair da minha sala, e nós batemos de frente com a Maísa, que estava belíssima. Maísa: Eu já estava desistindo do nosso almoço. Pensei que a sua reunião iria demorar mais um pouco. Tenebroso: Peço desculpas pelo imprevisto; não vai acontecer novamente. Vamos. Maísa: Vamos. A Maísa se levantou e eu abri a porta para ela sair. Vi o olhar de raiva da Giulia, mas não dei confiança. Ela precisa de um choque de realidade para aprender que a vida não para e que não tem como recuperar o tempo que passa. É claro que eu ainda estou apaixonado por ela; na verdade, eu a amo, mas fiquei chateado por ela esconder que eu tenho um filho. Mesmo se fosse eu que tivesse atirado nas costas do BN, isso não tira o meu direito de conviver e de conhecer meu filho, porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. Abri a porta do carro para a Maísa entrar e ela sorriu para mim. Vamos para o restaurante. Sentamos em uma mesa reservada e começamos a conversar. Maísa: Aquela mulher no escritório é sua namorada? Tenebroso: Ela é a mãe do meu filho. Já fazia um tempo que eu não a via, e ela veio conversar sobre coisas relacionadas ao meu filho. Então, eu não podia evitar. Reunião! Mais uma vez, te peço desculpas por te deixar esperando. Maísa: Você é tão novo! Não imaginei que você tinha um filho, mas eu confesso que sempre foi o meu sonho ser madrasta. Tenebroso: Sério? Não pensa em ter seus próprios filhos? Maísa: Para um homem como você, eu topo ser madrasta. Eu acho que nós poderíamos ir para um lugar mais reservado depois daqui. O que você acha? Já que você não está com a mãe do seu filho, eu acredito que não tenha problema. Nós estamos almoçando há alguns dias juntos, então eu acho que já está na hora da gente se conhecer mais a fundo - ela falou, sorrindo. Tenebroso: Você tem certeza disso? Maísa: Eu não sou uma mulher de muitos rodeios, Caio, e eu acredito que você seja o homem certo para mim. Eu quero experimentar. Não tem como saber se você é o homem certo sem fazer um teste drive antes, a não ser que você ainda queira se relacionar com a mãe do seu filho. Tenebroso: Bom, vamos ver onde esse almoço vai parar. Giulia Eu não acredito que ele está comendo essa mulher! Se arrependimento matasse, eu tinha vindo toda arrumada. Eu não me arrumei tanto porque achei que encontraria com ele sozinha, mas quando eu vi aquela mulher com o nariz empinado, com aquele vestido vermelho e de salto, me subiu um ódio. É uma verdadeira p*****a chique, e ele deve estar se lambuzando no corpo dela. Mas isso não vai ficar assim. Ah, mas você está com ciúmes do homem que você afastou durante tanto tempo? Sim, porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ele é o pai do meu filho, e eu quero reconstruir a minha família. Eu sei que errei e que demorei muito tempo para poder vir atrás dele, mas agora que vim, eu não sou o tipo de mulher que desiste fácil e também não sou o tipo de mulher que aceita perder uma briga. Não, sem sair no soco antes. Esperei eles saírem e segui os dois. Eles pararam em um restaurante chique. Observei de longe; os dois estavam de sorrisinhos. Pedi para o garçom ouvir a conversa deles e disse que daria R$ 200 se ele me contasse qual era o assunto. Eu não deveria ter feito isso, mas quando ele voltou, ele me disse que eles estavam marcando de ir para um lugar mais reservado. A minha vontade era me levantar e reservar a minha mão na cara dele, mas eu não ia fazer isso. Ao invés disso, eu paguei a minha água, que foi a única coisa que consumi no restaurante, me levantei, fui até o estacionamento, fui até o meu carro, peguei uma chave de f***a e furei os quatro pneus do carro do Tenebroso. Fiquei dentro do meu carro, deitada. Ele não reconhece esse modelo de carro porque eu troquei por causa do bebê. Achei ele um pouco mais confortável, e ninguém vai querer roubar um Fusca vermelho no Rio de Janeiro. Depois que as facções se dividiram, todo cuidado é pouco. Demorou alguns minutos até que eles voltassem para o carro. Ele entrou e tentou sair, e só aí percebeu que os pneus estavam furados. Ele conversou alguma coisa com aquela desgraçada que veio se aproximando do meu carro e encostou nele. Maísa: Por que a gente não transa aqui mesmo? Tenebroso: Oi? Maísa: Vai dizer que você não gosta de uma aventura? Imagina que gostoso t*****r no estacionamento do restaurante, com várias pessoas passando. Vai dar um frio na barriga, uma adrenalina. Tenebroso: Até que a sua ideia não é nada m*l - ele falou, beijando o pescoço dela. Eu vou matar esse cachorro. Ela puxou ele pela gravata e os dois entraram no carro dele. Eu comecei a ficar nervosa e sem saber o que fazer. Eu não posso colocar a minha cara para bater, mas também não posso deixar ele comer essa mulher dentro de um estacionamento. Que p*****a vulgar! Nem para ir para um motel ela serve. Fui abaixada até o carro deles, procurando alguma coisa, até que olhei para uma das pilastras e vi um extintor de incêndio. Eu sei que não deveria fazer isso, mas bati com o extintor de incêndio no carro dele algumas vezes até quebrar e depois puxei a válvula, jogando tudo lá dentro. Não deu tempo de eu abrir a porta do meu carro, até porque eles iriam perceber, então eu simplesmente me sentei atrás do meu carro, torcendo para eles não procurarem ninguém. Depois de alguns segundos, a perua saiu se ajeitando toda, e ele saiu logo atrás, colocando a gravata no lugar. Maísa: O que aconteceu? Eu não entendi nada! Algum maluco jogou o extintor de incêndio dentro do carro e ainda quebrou o seu vidro. Tenebroso: Eu vou ter que resolver esse problema com o restaurante, então eu acho melhor você ir embora. A gente remarca o nosso encontro para outro momento ou até hoje à noite. Eu sinto muito pelo que aconteceu, mas eu não vou te deixar aqui esperando. Eu sei que você é uma mulher muito ocupada. Maísa: Tem certeza que quer ficar aqui com esse vândalo? Essa pessoa não é confiável, ela é agressiva! Olha o que ela fez. Tenebroso: Não precisa se preocupar, eu sei me cuidar. Sem falar que essa pessoa com certeza saiu correndo. Ela provavelmente estava tentando roubar e percebeu que tinham pessoas dentro, então saiu correndo para não ser pega. Você sabe como são esses tipos de pessoas; elas vivem dando golpes. Então, não se preocupe comigo. Eu estou mais preocupado com a sua segurança do que com a minha. Maísa: Então eu vou lá para fora e vou chamar um táxi. Me liga assim que você conseguir resolver e chegar em casa, por favor. Eu realmente estou preocupada com a situação que aconteceu aqui. Tenebroso: É só o tempo de eu esperar o seguro vir até aqui pegar o meu carro. Não precisa se preocupar. Ela saiu rebolando, e eu fiquei olhando a cena, cheia de ódio. Tanto ódio que eu nem percebi que ele se aproximou de mim. Tenebroso: Você com certeza vai pagar o vidro do meu carro. A sua sorte é que ele não era blindado. Giulia: Se eu soubesse que não era, eu teria metido uma bala no meio dessa sua cara de p*u! Você ia comer ela dentro de um estacionamento? Tenebroso: Por que você estava me seguindo? Eu te vi saindo da empresa atrás de mim. Você veio para o restaurante, pediu uma água e ficou me observando, e agora você fez esse papelão. Giulia: Você sabia que eu estava aqui durante todo esse tempo e ia comer aquela desgraçada? Eu vou te matar - eu falei, avançando nele. Tenebroso: Para de arrumar confusão! Você vai chamar a atenção dos seguranças. Você quebrou o vidro do meu carro; aqui tem câmeras. Você vai sair daqui presa! Giulia: Vou mesmo, porque eu vou cometer um assassinato! Eu vou matar você - eu falei, batendo nele. Tenebroso: Vai mesmo? Tem certeza? - ele falou, me encostando no carro e me beijou. Eu empurrei ele com toda a força que eu tinha e falei: Giulia: Você quer me deixar maluca, só pode ser! Vai atrás daquela desgraçada! Estava quase comendo ela dentro do carro e agora quer ficar me beijando, seu cachorro! Tenebroso: Eu sabia que você ia fazer alguma maluquice. E outra, eu não tenho que... meus pneus estavam furados! De longe, você vai pagar por esses pneus e pelo vidro, para deixar de ser maluca. Giulia: Por que você fez isso? Tenebroso: Essa foi a punição por você me deixar tanto tempo longe de você e do nosso filho, sua maluca! Eu amo você - ele falou, me beijando. Giulia: Vamos para casa! Eu preciso matar a saudade que eu estou de você. Tenebroso: Vamos!
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD