JERICHO

CAPÍTULO 1

Era o acasalamento de Brass e Sophia. Novas Espécies, não faziam cerimônias como os humanos, cada um fazia o que achava melhor para comemorar a união. No caso de Brass e Sophia, seria uma cerimônia religiosa. Afinal, Sophia tinha passado sete anos de sua vida vivendo em uma casa onde também havia uma igreja. Jericho bufou. Humanos e suas crenças!

Ela, a princípio, não queria fazer nada, eles apenas assinariam os papéis, no grande refeitório da Reserva, que também era usado para grandes reuniões e festas.

Mas ela tinha confidenciado a Tammy que quando era pequena sonhava em casar em uma igreja, toda enfeitada com flores. Tammy contou para Brass e aqui estavam eles, ao ar livre em uma clareira. Simple fez questão de dizer que ainda conseguia sentir o cheiro do que Brass e Sophia tinham feito ali quase um ano antes.

Todas as fêmeas, tanto da reserva, quanto de Homeland, ajudaram na decoração. Jericho duvidava que tivesse sobrado alguma flor na Reserva, depois que as fêmeas enfeitaram o altar improvisado. Até alguns machos, ajudaram, carregando troncos e aplanando as irregularidades do terreno. Uma oportunidade de exibir seus músculos e sua força. Muitos amigos dele vieram contar que se deram bem.

Ele ajudou, é claro. Brass tinha mandado Vingeance bater nele, mas depois tinham se entendido. Inclusive Vingeance o procurara. Tinha dito que estava em dívida com ele. E quando precisasse, fosse o que fosse, era só pedir.

Jericho sorriu. A vida e suas surpresas. A meses atrás, se enfurecia ante a simples menção do nome de Vingeance. Agora bebiam cerveja juntos e até lutavam. Tudo em silêncio, claro. O macho odiava tagarelas. Jericho também não era muito falante.

Ele estava sentado ao fundo, no lado direito da passarela que fizeram para a noiva caminhar até o noivo. Do outro lado na última cadeira da última fila estava Vingeance, com a carranca de sempre. Brass tinha insistido para que ele fosse padrinho de casamento deles, mas Vingeance recusara. Ele não gostava de multidões e muito menos estar no centro das atenções. Jericho o entendia.

Todos já estavam em seus lugares. Inclusive o velho reverendo de uma igrejinha pequena que ficava em uma das cidades próxima da Reserva. Se havia um humano que Jericho admirava, era esse. Ele tinha um sorriso bondoso e os olhava como iguais. O conheceram quando os gêmeos de Valiant, James e Joseph, na tentativa de provar seu valor, foram explorar a área em volta da Reserva e acabaram perdidos. Afinal, eles tinham apenas cinco anos. Acabaram no quintal da casa do Reverendo Bhrams. Sujos e famintos. O velho senhor, muito esperto, foi logo lhes oferecendo comida, e assim ganhou a simpatia deles.

Jericho só podia imaginar o susto de Slade, quando atendeu o telefone e uma voz idosa disse que estava com os gêmeos em sua caminhonete, no portão da Reserva.

Depois de toda confusão que se seguiu, com Valiant querendo matar o bom senhor, uma forte e sincera amizade surgiu. O velho abriu as portas de sua igreja a eles. Jericho muitas vezes se sentou nos fundos da igrejinha e se deixou sentir o amor do Deus dos humanos na voz do reverendo.

O som de uma música instrumental marcou o início da cerimônia. Brass arrumou a gravata e sorriu. O sorriso aumentou quando Breeze, toda linda em um vestido chique, veio se postar ao lado dele, sorridente. Ela foi escolhida como madrinha, já que queriam um novo torneio, dessa vez para padrinho de casamento de Brass. Ela tinha se recusado, mas depois mudou de ideia. Brass sorriu agradecido a Trey que estava na primeira fila. Ele teria muito o que suportar, já que era o único que estava de smoking. Harley já sorria perversamente. Sophia escolheu Tammy e Valiant como seus padrinhos. O macho parecia maior de tanto orgulho. Tammy, como sempre, estava linda.

Justice e Jessie estavam na primeira fila. A fêmea ainda se sentia culpada, mesmo com Sophia reiterando que a tinha perdoado, mesmo depois de saberem que ela tinha subornado Simple.

Brass era um sortudo, pensou Jericho. Sua fêmea, além de linda, tinha um bom coração. Pensar nisso o deixava com o coração triste. Onde estivesse, em Homeland, ou na Reserva, o amor florescia em sua volta. E a solidão pesava ainda mais. Se não fosse o alento das conversas silenciosas com Vingeance ou as visitas que ocasionalmente fazia ao reverendo Bhrams, não sabia se ainda não teria estourado os próprios miolos.

Repentinamente, as cadeiras a sua direita e esquerda foram ocupadas. E por ninguém menos que James a sua esquerda e Joseph a sua direita. Isso não era bom. Eles eram os diabinhos da Reserva. Deviam estar aprontando.

"O que... Porque não se sentam com seus irmãos?"

"Lá está muito chato. Noble não deixa a gente conversar."

"Mas aqui vão ter que fazer silêncio também!"

Eles simplesmente deram de ombros. Foi então que ouviram a marcha nupcial e Sophia, linda como uma princesa de contos de fadas, começou a dar os passos no tapete vermelho em direção ao altar, atrás das florzinhas de Valiant e Tammy, Daisy e Violet. Elas eram as daminhas. Ela vinha de mãos dadas com John, que aos sete meses, já andava. Ele era muito grande, maior que os outros bebês Nova Especie, na sua idade. Ele tinha nascido com dentes! Ele já falava e corria atrás de Sarah e Simple pra todo lado.

A noiva chegou ao altar e John correu e se sentou ao lado de seu padrinho, que o presenteou com um pirulito. Daisy e Violet, já estavam sentadas como as mocinhas que eram. Ele mordeu o pobre doce fazendo muito barulho e todos riram.

A cerimônia foi muito bonita! As palavras do velho reverendo fez muitas pessoas ficarem os olhos marejados. Slade não conseguiu segurar e uma lágrima molhou o rosto dele. Imediatamente saiu erguendo o dedo do meio para todos que queriam rir, mas deu de cara com o reverendo com a testa franzida e as grossas e brancas sobrancelhas arqueadas. Ele pediu desculpas, mas continuou com a cara fechada.

As alianças foram trazidas por Sarah, linda em um vestido branco, parecido com o de Sophia, e Candid. Eles fizeram um sorteio entre os trigêmeos e Candid fora o ganhador. Ele estava todo orgulhoso, de terno. Tammy chorou muito quando eles entraram. E então a cerimônia teve fim. Os noivos entraram num jipe todo enfeitado e saíram em direção ao Refeitório. Lá eles receberiam os cumprimentos.

"Você vai de Jipe, Jericho?" Eles não o chamavam de tio. Ele não era íntimo de Valiant para isso.

" Não, vou andando." Não era perto. Mas ele queria andar, estava se sentindo triste.

"Podemos te fazer companhia." Não foi uma pergunta. Eles foram andando ao lado dele. Eles conversavam e riam. Ele continuou calado.

"Jericho." Voz de Vingeance se ouviu. O macho vinha em sua direção.

" Tome, essa é a senha de hoje do portão escondido. Tive que gastar uma das dívidas que tenho com Slade. Espero que esteja aqui até meia noite, que é quando eles vão mudar a senha. Divirta-se!" O macho falou e saiu andando até um dos jipes.

Jericho não entendeu. Os gêmeos sorriram.

" Digam!" Eles armaram isso, claro.

"Se nós te disséssemos que tem uma fêmea linda em um motel aqui perto te esperando, o que você faria?"

Jericho ficou sem palavras. É claro que deveria dizer que não faria nada, e que ainda contaria para os pais deles. Mas...