O tempo dentro do quarto parecia diferente, mais denso, mais lento, quase irreal. As cortinas estavam fechadas, abafando a luz do fim da tarde, e o ar carregava o cheiro do passado: perfume caro, lençóis limpos, mobília sem vida. Eu me sentia sufocada e, ao mesmo tempo, estranhamente protegida ali dentro, como se fosse um animal ferido tentando lamber as próprias feridas antes de ser forçada a voltar ao mundo.
Foram só alguns dias, eu repetia para mim mesma. Só alguns dias fora daqui, só algumas horas em que fui de verdade alguém além de Bianca Romano, a filha do Don, a moeda de troca, o nome usado em ameaças e acordos.
Mas foi tempo suficiente para o resto da vida parecer pequeno, cinza, como um eco vazio.
Ouvi passos no corredor e o rangido da porta se abrindo devagar. Minha mãe entro
