Naquela noite, não dormi. Fiquei sentada na janela do quarto, vendo o céu escuro e perguntando a mim mesma até quando aguentaria. Sabia que, no fundo, não era só o medo que me movia: era a raiva, a vontade de quebrar o ciclo, a certeza de que ainda existia algo dentro de mim que o mundo não tinha conseguido matar. E se algum dia a coragem virasse ação, se algum dia eu encontrasse uma brecha para ser livre, eu jurava a mim mesma: dessa vez, não voltaria atrás. O sol já subia alto quando abri os olhos, mas não fiz menção de sair da cama. O quarto estava escuro, abafado, as cortinas fechadas desde a noite anterior, o ar pesado de perfume antigo e tristeza. Por um instante, acreditei ter sonhado tudo: o anel que ainda pesava no dedo, o confronto com meu pai no hall, o olhar distante da minha

