O caminho de volta para casa foi um desfile de sombras. O carro deslizava pelas ruas silenciosas da cidade enquanto, no banco de trás, eu tentava controlar a respiração, sentir meus próprios ossos, lembrar quem eu era antes de tudo aquilo. O anel no dedo parecia mais pesado a cada quilômetro, queimando minha pele como um ferro em brasa. Minha mãe sentou ao meu lado durante todo o trajeto, as mãos enlaçadas sobre o colo, o olhar fixo na janela. Nem ela ousou quebrar o silêncio. Meu pai, no banco da frente, conversava em voz baixa com Marcello, como se já discutisse os próximos negócios, a próxima jogada, a próxima filha a ser negociada. A casa parecia ainda mais fria do que de costume. Assim que atravessamos o portão, minha mãe apressou-se para subir as escadas, um gesto rápido, como quem

