Capítulo 1: O Peso das Sombras
O som do piano preenchia a sala de ensaio, cada nota guiando Isabel em movimentos fluidos e precisos. Seus pés deslizavam pelo chão com a leveza de quem nasceu para dançar, o corpo respondendo automaticamente à música, como se fosse uma extensão dela. A dança era sua fuga, sua única maneira de existir em um mundo que parecia querer engoli-la inteira.
Enquanto girava, sentia o coração bater no mesmo ritmo da melodia, as emoções transbordando em cada gesto. Mas, assim que a música cessou, a realidade voltou como um golpe seco. O suor escorria por sua testa, e seu peito subia e descia rapidamente.
Ela fechou os olhos por um instante, tentando se agarrar àquela sensação de liberdade por mais alguns segundos. Mas era impossível. A vida real esperava do lado de fora, e ela sabia que nada ali poderia protegê-la do que estava acontecendo com Bruno.
Com um suspiro pesado, pegou a toalha e enxugou o rosto antes de recolher suas coisas. O ensaio havia terminado, e agora era hora de voltar para casa. Para o caos.
O Conflito
Isabel sentia o peso da exaustão enquanto entrava no apartamento pequeno e abafado, seu corpo ainda quente da aula de dança. Os músculos doíam, mas ela sabia que aquele era o único momento em que se sentia realmente viva – na dança, na pureza do movimento. Mas, ao atravessar a porta, a realidade a atingiu como um soco no estômago.
Seu irmão, Bruno, estava lá, deitado no sofá, a expressão fechada e os olhos vazios. Ele estava mais uma vez no fundo de alguma encrenca, e Isabel já sabia o que isso significava: mais problemas, mais confusão, mais noites sem dormir se preocupando com as escolhas dele. O ambiente estava carregado, e a tensão entre os dois, como sempre, era palpável.
Isabel: Bruno, onde você esteve? O que aconteceu agora?
Ele não levantou os olhos, não deu sequer sinal de que havia escutado.
Bruno: Você sempre vem com esse discurso, Isabel. Já estou cansado.
Ele respondeu sem tirar os olhos do celular, como se a vida dela não fosse nada mais do que um ruído de fundo. Isabel não conseguiu mais controlar o olhar de desprezo que lançou na direção dele. Era sempre assim – ela tentava, e ele a ignorava.
Ela se aproximou do sofá, os dedos apertando as palmas das mãos com força para não explodir.
Isabel: Você tem que parar com isso, Bruno. As suas escolhas estão nos colocando em perigo.
Ele finalmente olhou para ela, mas seu olhar estava vazio, perdido.
Bruno: Eu não preciso da sua ajuda, Isabel. Você não entende nada.
Isabel: Não entendo? Você está se metendo com gente perigosa, Bruno! Eu só tento te proteger, mas parece que você não se importa com nada disso.
A tensão no ar se tornou densa, quase sufocante. Ele se levantou abruptamente, e Isabel deu um passo para trás, sentindo o coração disparar. O irmão não parecia mais o mesmo. Cada dia mais, ele se afastava dela, e ela sabia que ele estava se afundando em algo que não teria volta.
Bruno: Eu não sou mais uma criança, Isabel. Não preciso da sua proteção!
Ele gritou, a raiva transbordando de seus olhos. Avançou em direção à cozinha, sem dar mais atenção a ela.
Isabel permaneceu parada no meio da sala, seus pulmões pesados, o estômago revirado pela raiva e pela impotência. O que ela poderia fazer? Bruno estava indo cada vez mais fundo em um caminho perigoso, e ela não sabia até onde ele iria. Mas sabia que, se as coisas não mudassem, ela não conseguiria salvá-lo.
Quando ele voltou à sala, o olhar dele havia mudado. Agora, havia uma ameaça sutil em sua expressão.
Bruno: Você tem ideia de quem anda se metendo comigo, Isabel? Esse é o preço da sua proteção. Talvez você precise começar a tomar cuidado com as pessoas que você pisa, porque elas podem acabar te esmagando.
Isabel sentiu um calafrio.
Isabel: O que você fez agora, Bruno?
Ele sorriu, mas não era um sorriso de quem estava feliz. Era um sorriso de quem sabia que estava levando a irmã para um abismo do qual ela não conseguiria sair ilesa.
Bruno: Não se preocupe. Só... cuide de si mesma.
Isabel queria gritar, perguntar no que ele havia se metido, mas algo a impediu. Ela sabia que qualquer palavra a mais poderia piorar a situação. Ele já estava muito além de qualquer conselho, muito além de qualquer ajuda.
Ela virou-se para sair do apartamento, mas uma última frase de Bruno a paralisou.
Bruno: Não venha me procurar depois, Isabel. A culpa vai ser sua.
O coração de Isabel apertou. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas sentia que estava prestes a ser arrastada para algo muito maior do que poderia controlar. Ela não tinha ideia de que o futuro, e a salvação de sua vida, estavam prestes a ser decididos por algo que ela nem podia imaginar ainda.
A Noite Inquieta
Isabel saiu do apartamento com passos apressados, o ar frio da noite envolvendo seu corpo quente de raiva e preocupação. As palavras de Bruno ecoavam em sua mente como um aviso sombrio. Ele estava envolvido em algo grande, algo que podia colocar os dois em perigo real.
Ela caminhou pelas ruas estreitas e m*l iluminadas, tentando organizar seus pensamentos. Sua mente voltava ao ensaio mais cedo, ao breve momento em que havia se sentido livre, inteira. Mas agora, tudo aquilo parecia distante demais.
A cidade parecia diferente à noite, como se escondesse segredos nas sombras. Isabel se abraçou, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. Não sabia exatamente para onde estava indo, apenas precisava respirar, pensar longe do apartamento sufocante.
Foi então que percebeu. Estava sendo observada.
Seu coração acelerou. Ela parou por um instante, olhando ao redor, mas não viu nada além das ruas vazias. Talvez fosse apenas paranoia. Talvez fosse o cansaço.
Mas algo lhe dizia que a noite guardava mais perigos do que ela poderia imaginar.
Sobre Isabel
Tenho 23 anos e, apesar da vida agitada que tento levar, sou muito reservada. Trabalho como bailarina, mas no fundo, sinto que dançar é a única coisa que realmente me faz sentir viva. Não tenho namorado, nunca tive tempo para isso, e a verdade é que nem me importo. Minha vida sempre foi focada na dança, na tentativa de escapar de um mundo que parece me engolir. E, sim, sou virgem. Não que seja algo de que me orgulhe, mas acho que nunca encontrei a pessoa certa, ou talvez seja só mais um reflexo da minha vida fechada e solitária.
Minha maior preocupação hoje é meu irmão. Bruno tem se metido em coisas que não deveria, e eu estou aqui, tentando manter tudo em equilíbrio, tentando, ao menos, evitar que ele afunde ainda mais. Mas sei que, aos poucos, estou perdendo essa batalha. Ele não me escuta, e, no fundo, eu não sei mais o que posso fazer para ajudá-lo.
A única coisa que me resta é tentar manter o controle. Mas a cada dia que passa, sinto que estou mais perto de perder tudo.