Maria Duarte (minha mãe):
— Isabela, você vai se atrasar.
A voz dela veio da cozinha enquanto eu ainda encarava o espelho, tentando decidir qual blusa vestir.
Isabela Duarte:
— Eu sei, mãe. Já tô indo.
Maria Duarte:
— “Já tô indo” não pega ônibus — ela respondeu, rindo. — O café tá na mesa.
Minha mãe sempre falava assim: firme, mas com carinho. Enfermeira, acostumada a uma rotina pesada, mas nunca dura comigo. Entrei na cozinha, peguei a caneca ainda quente e dei um beijo rápido no rosto dela.
Isabela Duarte:
— Hoje você sai tarde de novo?
Maria Duarte:
— Plantão dobrado. Mas chego antes de você dormir.
Ela sempre dizia isso. E quase sempre cumpria.
No ponto de ônibus, encontrei as mesmas pessoas de sempre. Fones no ouvido, mochilas pesadas, pensamentos soltos. O ensino médio era previsível. Confortável até.
Lucas Moretti:
— Ei… Isabela, né?
Virei o rosto e encontrei um garoto alto, expressão calma demais para alguém claramente nervoso.
Isabela Duarte:
— É… sou eu.
Lucas Moretti:
— Sou o Lucas. A gente tem matemática juntos.
Ele coçou a nuca, sem graça.
Isabela Duarte:
— Ah, sei. Você senta atrás de mim.
Lucas Moretti:
— Isso. — ele sorriu. — O professor pediu a lista de duplas pro trabalho… e eu ainda não conheço muita gente.
Isabela Duarte:
— Pode ser comigo.
O sorriso dele se abriu de verdade.
Lucas Moretti:
— Sério? Obrigado.
A partir daquele dia, Lucas começou a aparecer com frequência demais para ser coincidência…