Lucas Moretti passou a me esperar perto do portão quase todos os dias, mas nunca dizia que estava ali por mim. Apenas ficava encostado no muro, mexendo no celular, como se fosse coincidência.
Lucas Moretti:
— Você sempre chega no mesmo horário.
Isabela Duarte:
— Mania da minha mãe.
Lucas Moretti:
— Dá pra perceber.
Caminhávamos lado a lado até a sala. Às vezes conversávamos, às vezes não. O silêncio entre nós nunca parecia estranho, só… atento.
Na aula de história, ele se inclinou levemente na minha direção.
Lucas Moretti (baixo):
— Você vai direto pra casa depois?
Isabela Duarte:
— Vou.
Lucas Moretti:
— Posso ir com você até o ponto?
Assenti, sentindo algo estranho no estômago. Não era medo. Era expectativa.
No intervalo, sentamos no banco de sempre.
Lucas Moretti:
— Quer dividir?
Ele me estendeu um pacote de pipoca doce.
Isabela Duarte:
— Você sempre traz comida.
Lucas Moretti:
— Alguém precisa lembrar você de comer.
— Olha o tom — respondi, rindo.
Ele sorriu, mas desviou o olhar logo depois, como se tivesse dito algo a mais do que pretendia.
Quando cheguei em casa, minha mãe estava dobrando roupas.
Maria Duarte:
— Esse Lucas anda aparecendo bastante.
Isabela Duarte:
— Ele é legal.
Maria Duarte:
— Eu percebi.
Ela não disse mais nada, mas aquele olhar atento ficou comigo.
Alguns dias depois, Lucas me mandou mensagem à tarde.
Lucas (mensagem):
Vai ter uma sessão mais vazia no cinema hoje… se você quiser ir.
Fiquei alguns minutos olhando a tela antes de responder.
Isabela (mensagem):
Quero.
No cinema, sentamos longe do centro. A sala estava quase vazia. O filme começou, mas eu m*l prestei atenção. Estava consciente demais da presença dele ao meu lado, da distância pequena entre nossos braços.
Em certo momento, Lucas mexeu no apoio do braço, como se procurasse posição. O dedo dele encostou de leve no meu. Foi rápido. Acidental. Ou não.
Nenhum de nós se mexeu.
Depois de alguns segundos, ele deixou a mão ali, aberta, esperando. Meu coração acelerou quando deslizei os dedos até tocar os dele. Lucas respirou fundo, visivelmente nervoso.
Lucas Moretti (baixo):
— Desculpa… se for estranho.
Isabela Duarte:
— Não é.
Nossas mãos ficaram assim pelo resto do filme.
Na saída, caminhamos sem pressa.
Lucas Moretti:
— Eu fiquei nervoso o filme inteiro.
Isabela Duarte:
— Eu também.
Ele riu, aliviado.
Lucas Moretti:
— Engraçado, né?
Paramos perto do ponto. O silêncio voltou, mas agora era carregado.
Lucas Moretti:
— Isabela… posso te perguntar uma coisa?
Isabela Duarte:
— Pode.
Ele respirou fundo outra vez.
Lucas Moretti:
— Você já beijou alguém?
Balancei a cabeça em negativa.
Isabela Duarte:
— Nunca.
Os olhos dele se arregalaram um pouco.
Lucas Moretti:
— Eu também não.
Aquilo mudou tudo. Não havia pressa. Nem obrigação.
Lucas Moretti:
— Se você não quiser agora…
Isabela Duarte:
— Eu quero. Só… não sei como.
Ele sorriu, nervoso.
Lucas Moretti:
— Acho que ninguém sabe de verdade.
Lucas se aproximou devagar, como se estivesse me dando tempo de recuar. Não recuei. Quando os lábios dele tocaram os meus, foi suave, cuidadoso, quase um teste. Meu corpo inteiro pareceu reagir ao mesmo tempo. O beijo foi curto, desajeitado, mas real.
Quando nos afastamos, rimos.
Isabela Duarte:
— Foi estranho.
Lucas Moretti:
— Foi bom estranho.
Em casa, minha mãe estava na cozinha.
Maria Duarte:
— Você tá sorrindo demais pra quem só foi ao cinema.
Dei de ombros.
Isabela Duarte:
— Foi um dia bom.
Ela me observou por alguns segundos.
Maria Duarte:
— Só lembra: vá no seu tempo.
Assenti.
Naquela noite, deitada na cama, toquei os lábios com a ponta dos dedos, tentando entender a sensação nova.
Ainda não éramos namorados.
Mas algo tinha começado.