Kayly
Uma campina, com a grama verde, árvores com o tronco roxo e folhas verde escuras. O céu parecia refletir sua luz azul intensa, o sol não esquentava, e a brisa era gostosa. Eu parecia correr por aquela imensidão. Sentia o vendo tocar meu rosto como uma carícia, e os cabelos serem jogados para trás. Não muito distante eu vi uma mulher que n andava porém flutuava. Estava vestida de branco e azul, a natureza parecia ama-la, e proteje-la, seus cabelos longos cor de mel voavam ao vento. Em um momento de distração ela virou-se para mim, e quando eu estava prestes a ver o seu rosto escutei uma voz me chamando.
- Kayly acorde querida - era a minha mãe, Nadja. Na verdade ela não gostava muito que eu lhe chamasse dessa forma, tínhamos um relacionamento de amigas. Ela é uma bruxa Ninfoide, tem cabelos azuis e olhos castanhos gentis, acho que foi isso que fez com que eu me apaixonasse por ela e aceitasse viver aqui.
Me acordará para treinar meu controle sobre a magia, coisa que eu não tinha muito bem, afinal já perdi as contas de quantas vezes eu destruí seu jardim, Porém era só isso que ela podia me ensinar, os meus outros lados eu tinha que aprender que dominar sozinha. E com outros lados, eu quero dizer vampiro e lobisomem, por mais que isso desafie a lógica sobrenatural, exatamente isso que eu sou, uma híbrida de cento e vinte anos, abandonada na floresta pelos pais vampiros.
Nadja me acolheu, e desde então vem cuidando de mim como pode, a relação de amigas que criamos foi o suficiente para conseguirmos conviver em harmonia. Não que eu não quisesse ter alguém para me chamar de mãe, mas ela parecia incomodada com isso, então essa foi a forma mais fácil de nos conhecermos.
Seu carinho por mim é imenso, e como uma ótima amiga sempre tentou me apresentar a rapazes. As bruxas tem esse lado sentimental muito forte, e as vezes isso me irritava. Ela queria que um dia eu fosse feliz e construísse minha própria família, longe de quem me pudesse fazer m*l, só não entendia porque ela mesmo não tinha a sua própria família. Sempre que eu me referia a isso em nossas conversas ela dizia que já tinha a mim, então não precisava mais de nada, nós já somos uma família. Mas era possível, ver no fundo do olhar cinzento de Nadja que ela escondia alguma coisa, que ela conseguia ver um outro futuro.
Em uma de suas reuniões ela me apresentou a um bruxo chamado Mat, ele era muito lindo com seus olhos verdes e cabelos loiros, alto e de bom porte muito poderoso em feitiços de cura e se interessava por mim. Não era algo que eu procurava com anfico mas, se veio é bem vindo. Não demoramos muito conversando ele logo me pediu em casamento, o que é normal no vilarejo bruxo.
Eu e Nadja combinamos de dizer a ele que sou apenas uma vampira, sei que mentir nunca é a melhor saída, e o medo que eu tenho é q ele saiba que eu sou uma hibrida e não queira se casar comigo. Tenho medo de decepciona-lo, mas uma hora ou outra sei que terei de lhe contar toda a verdade.
Meu casamento será em menos de duas semanas, e sua mãe, hum... Bom sua mãe não gosta nenhum pouco de mim. Ela desconfia que eu estou escondendo algo, e a cada dia ela tenta nos separar, tenta arrumar um pretexto para que ele não esteja comigo. Já a vi jogando bruxas para cima dele e criando menriras, por isso treino para controlar minha magia, pois se ela souber com certeza não haverá mais casamento.
- Vamos querida. - Nadja me chamou com um belo sorriso, finalmente tomei coragem de me levantar da cama.
Nós sempre treinávamos antes de tomar café. Era para que os meus outros lados estivessem fracos no momento, apenas a magia fluía de mim. Arrastando os pés até a comida retirei de lá um vestido simples amarelo e o vesti com a preguiça de um urso. Sem querer demorar muito me dirigi ao nosso quintal em passos largos, lá estava ela sentada no chão com seu lindo vestido dourado com algumas flores vermelhas, seus cabelos penteados para trás chicoteavam seu rosto por causa do vento, eu me aproximei e sentei em sua frente como sempre. Gostava de admirar a incrível conexão que ela tinha com a natureza. Nadja era uma bruxa poderosa, antiga, ela demonstrava a graciosidade de tempos passados e seu olhar afiado para as demais anciãs deixava claro que tipo de poder ela carrega nas costas.
- Feche os olhos e deixe que seu poder flua de você para a natureza e da natureza para você... - ela começou, movimentando as mãos para cima e para baixo. - ... não permita que alguém quebre esse vínculo, a natureza não te obedece, mas ela te protege, você não é apenas uma bruxa comum, a natureza te ama.
Sua voz era tão doce e calma, que fazia com que eu sentisse a natureza se misturando a mim, eu sentia como se fôssemos um. Era doce, convidativo e extremamente inebriante aquela conexão que ela me ensinava a ter. Fiquei ali, perdida por um tempo, respirando as duras linhas de magia que passavam pelo ar. Tudo era feito por ela, se movía por ela, vivia por ela. A magia era graciosamente a chave do nosso mundo, o motivo dele, o ar que respiramos. É por isso que as bruxas se consideram tão especiais, elas sentem com mais facilidade toda a força que consistia esse lugar, se acham donas daqui. Sei que isso é errado, já que todos os seres tiveram participação na criação de Latet.
[•••]
- Não sei, eu diria que você está bebendo mais do que o normal hoje. - Nadja resmungou, segurando entre as mãos a terceira bolsa de sangue. Em média eu bebia apenas uma bolsa e meia por dia.
- Usamos muita magia, eu só estou recarregando. Não me olhe desse jeito. - apontei para ela enquanto bebia meu sangue. Sim, tinha dias que eu bebia mais do que normal, eram esses dias que eu ficava preocupada.
Meu lado vampiro estava ficando mais forte e alterando meu metabolismo. Antes, apenas um copo de sangue era suficiente para que eu passasse o dia, hoje não é bem uma refeição. Dizem que os vampiros quando vão ficando mais fortes tendem a se alimentar com mais frequência, e talvez seja isso que esteja acontecendo comigo.
- Recarregando, é? Sei. - ela estalou a língua e correu para desligar a chaleira que estava apitando no fogo. - Pelos deuses, eu nunca me lembro de deixar o fogo baixo.
- Se parasse de dizer quanto sangue eu tenho que beber, talvez lembrasse. - ela estreitou os olhos para mim, o que me fez encolher levemente os ombros. - Esquece o que eu disse.
- Vai querer tentar tomar chá? - fazia anos que eu tentava colocar alguma coisa na boca, mas meu estômago rejeitava tudo. Isso não era normal de um híbrido, eles deveriam poder comer de tudo o que não estava sendo o meu caso.
- Eu dispenso. Fique a vontade. - ela deu de ombros e continuou fazendo sua bebida.
Ser híbrido, antigamente era motivo de temor e respeito, hoje em dia é nascer com um enorme alvo pintado nas costas. Somos caçados por uma família antiga de vampiros, Virdrok. Eles matam os híbridos e queimam seus corpos para mostrar a sua criadora que eles não são tão poderosos como ela queria que fossem.
Atualmente, nenhum híbrido foi registrado, eles tem tido pouco trabalho então o perigo apenas aumenta. Eles passeiam entre as casas como ratos sorrateiros tentando achar qualquer um que esconda um deles, Nadja rodeou a casa com um feitiço mas eu sabia que isso não duraria para sempre. Mesmo assim tento me convencer que é o suficiente para mantê-los longe de mim, até que meu casamento aconteça. Eles nunca circularam pela casa de Mat, já que é um bruxo muito conhecido e sua mãe tem grande influência no vilarejo, assim, Nadja diz que estarei segura lá. Espero que sim.
- Essa sua cabeça não para de trabalhar? - ela pergunta depositando um leve t**a em minha nuca.
- Desculpa, você falou alguma coisa? - fiz uma careta tentando lembrar de sua voz enquanto minha cabeça viajava em pensamentos.
- Sim, todos os vinte minutos que você passou olhando para a parede, esperando que ela criasse vida. - colocou as mãos na cintura me encarando, fiz uma careta de desculpas.
- O que você falava? - beberiquei um pouco mais do meu sangue e lhe encarei a espera de suas palavras.
- De como estou ansiosa para o casamento. Imagine uma mini Kayly correndo por aí! - me engasguei com o líquido grosso e quase coloquei tudo para fora.
- Eu nem casei ainda e você já está pensando em filhos! Nadja, acho melhor ir devagar, lembra que não posso ter filhos com ele... Por hora. - o pensamento de ter filhos híbridos logo fez minha espinha se retorcer, eles estariam sujeitos aos mesmos perigos que eu.
- Sim querida, por hora. Mas um dia ele irá querer herdeiros. E você vai n**a-los? - ela arqueou a sobrancelha enquanto perguntava, eu pensei bem na resposta. Ao menos tentei pensar, tudo que vinha na minha cabeça era a palavra perigo, meus filhos estariam em perigo e Mat também.
- Eu não sei, eu realmente não queria pensar nisso agora. - ela assentiu, desistindo logo do assunto e mordendo alguns biscoitos que tinha posto sobre a mesa.
- Tudo bem, não vou mais importuna-la sobre isso. Prometo. - colocou dois dedos na testa em sinal de promessa e voltou a tomar seu chá. - Mas, antes que eu esqueça. Ele disse algo sobre viajem?
- Ele falou algo sobre o lago dos Elfos, não sei se é para lá que vamos, mas... É bem provável. - ela arregalou os olhos surpresa. Apenas os grandes bruxos tinham permissão de passar para aquele lado de Latet, onde as fadas e os elfos vivam.
- Seu marido só me impressiona. - ela abanou o rosto com o guardanapo e e fez uma careta dramática.
- Futuro marido. - a corrigi, a palavra ainda não soava muito bem em minha boca e eu queria amargamente descobrir o porque. Eu amava Mat, ele era um homem maravilhoso, mas parecia que esse não era o futuro que estava traçado para mim.
- Porque essa carranca de repente? - a voz de Nadja novamente me trouxe de volta ao mundo real com suas perguntas. Pisquei os olhos algumas vezes e encarei minhas mãos ao redor do copo melado de carmim, tão idêntico aos meus olhos.
- Acha que esse é meu destino? - a pergunta saiu como um sussurro, como se eu não quisesse que nenhuma força superior a escutasse.
- Acho, você merece um futuro lindo e cheio de alegrias querida. - sorri forçadamente a sua resposta, e se esse não fosse um futuro cheio de alegrias? E se quando ele descobrir acabar me negando, me jogando fora da sua vida para sempre? - Não deixe que as incertezas invadam seu coração. Pense apenas nas coisas boas.
- É claro, irei pensar sim. - mas também vou pensar nas enormes possibilidades de tudo dar errado. Não que eu fosse uma pessoa que atraísse o azar, mas coisas boas não costumavam acontecer com frequência em minha vida, e eu já tinha nascido com um alvo nas costas.