"a primeira vez que você me tocou
oh, como maravilhas cessarão?
bendito seja o mistério do amor."
Mystery of Love | Sufjan Stevens
Tinha acabado de chegar em casa e percebi pela TV ligada que meu pai ainda se encontrava em casa.
Estava morrendo de sede, por isso, fui até a cozinha tomar um copo d'água.
Quando cheguei lá, meu pai estava sentado na cadeira, tomando uma xícara de café. O cheiro estava muito bom.
- Oi, pai. - Peguei um copo e coloquei um pouco de água.
- Oi, filha. Como foi na escola?
- Foi normal, mesma coisa de sempre. - Falei. - O senhor não deveria estar na loja?
- Eu vou só acabar o meu café para ir logo. - Explicou. - Filha, será que você poderia me ajudar lá? eu preciso ir resolver umas coisas e queria que você ficasse lá na loja.
- Eu posso, pai. Não tenho nada para fazer. - Ele me agradeceu.
Subi como escadas, indo direto para o meu quarto e joguei minhas coisas em cima da minha cama. Peguei uma toalha limpa e fui para o banheiro tomar um banho.
Como já estava na hora de lavar o meu cabelo, eu coloquei shampoo e condicionador e deixei cada um agindo por um tempo.
Depois que enxaguei o meu cabelo, tirando perfeitamente os restos do produto, peguei minha toalha, me enrolei nela e fui para o meu quarto.
Vesti uma calça jeans larga, com uma blusa folgada preta. Calcei meu All Star e fui para sala.
Sentei no sofá e liguei a TV. Estava passando um filme b***a, que não era nada interessante, mas continuei assistindo mesmo assim.
Depois de alguns minutos, meu pai apareceu na sala.
- Podemos ir? - Indagou.
- Sim.
Desliguei a TV, me levantei do sofá e saí de casa com o meu pai. Entramos no carro e ele ligou o carro para dar a partida logo.
O caminho até a loja foi muito tranquilo, sem muitas conversas. Apenas ficávamos ouvindo as noticias pelo rádio.
Assim que papai estacionou o carro, eu fui a primeira a descer e fiquei esperando ele lá fora. Como meu pai era quem estava com a chave, fui até ele e pedi a chave para abrir a porta e adiantar logo.
Ele jogou a chave para mim e eu peguei, indo abrir a porta.
Entrei na loja, e já a fui ligar o ar condicionado. O calor estava de m***r.
Joguei minhas coisas em qualquer lugar e me sentei numa cadeira que tinha ali. Meu pai foi arrumar algumas coisas no fundo e eu fiquei mexendo no meu celular.
Assim que meu pai tinha acabado e arrumar as coisas lá no fundo, ele veio mate mim, me deu um beijo na bochecha e saiu para resolver algumas coisas na rua.
Os clientes foram chegando e eu deixei meu celular de lado, focando apenas neles. O motivo estava um pouco fraco naquele dia.
Sempre que aparecia alguém, eu ajudava a pessoa numa boa e o cliente saía feliz da vida com a sua compra. Meu pai sempre me ensinou a respeitar os clientes e ser paciente. Acho que no fim deu certo.
Quando já estava escurecendo, meu pai chegou e assumiu o lugar. Eu fiquei sentada, mexendo no celular.
Meu celular apitou, avisando que tinha chegando mensagem. Olhei pela barra de notificação e vi que era Elizabeth. Apertei na mensagem, entrando na conversa.
elizabeth: você não vem mais hoje?
elizabeth: você não esqueceu, né? temos um trabalho para fazermos juntas...
Ela estava certa. Eu realmente tinha esquecido.
eu: puts, eu tinha esquecido mesmo. me desculpa!
No mesmo instante, ela visualizou a minha mensagem e respondeu.
elizabeth: e agora?
eu: acho que ainda dá tempo de ir aí. eu só preciso falar com o meu pai antes, ok?
elizabeth: ok. qualquer coisa estou aqui.
Visualizei a mensagem e saí do aplicativo de conversa. Olhei para frente, vendo meu pai arrumar algo no balcão. Me levantei, indo até ele.
- Oi, pai.
- Oi, filha. Você precisa de algo? - Parou de fazer o que estava fazendo e me olhou.
- Então, eu meio que acabei esquecendo completamente que tinha um trabalho para fazer hoje com a Elizabeth. Você ainda lembra dela, né?
- Claro que eu lembro, Oceana. - Ele revirou os olhos. - Você quer ir na casa dela... é isso?
- Sim, é isso mesmo. Vale ponto e eu preciso disso.
- Você sabe que pode ir, filha.
Meu pai não era daqueles de barrar se eu precisasse sair, ou algo desse tipo. Na verdade, ele até me forçava a fazer isso. Ele queria que eu me aproximasse das pessoas, queria que eu fizesse amizades. Só achei que ele iria achar r**m por conta do horário.
Já estava escurecendo e mesmo que meu pai seja de boa, eu sabia muito bem que ele se preocupava comigo.
- Você vai ir de Uber?
- Acho que sim, não quero atrapalhar o senhor.
- Seria melhor, porque estou com muita coisa para resolver aqui na loja.
- Então está bom. Eu vou de Uber e te mando a localização, pode ser? - Ele assentiu.
- Me liga qualquer coisa, ok? meu celular está aqui perto.
- Ok, papai. - Ele deu um leve sorriso.
Entrei na minha conversa com a da Elizabeth e pedi o seu endereço. Em poucos segundos, ela já tinha me respondido e disse que ficaria em frente a sua casa me esperando.
eu: ok. eu chego já aí.
elizabeth: está certo :)
Saí da nossa conversa e fui no aplicativo da Uber, para pedir o carro. Coloquei o endereço que ela me passou e confirmei o pedido.
Depois de uns 4 minutos, vi no aplicativo que o carro já tinha chegado. Fui até o meu pai, dei um beijo e um abraço nele. Ele disse para eu tomar cuidado e eu assenti. Saí dada loja e fui até o carro branco que estava parado ali em frente.
Confirmei se era o carro que eu tinha pedido mesmo e quando tive certeza, entrei e falei "Boa tarde" para o motorista.
O caminho todo foi bem tranquilo. O motorista ficou mais na dele e eu fiquei mais na minha. Às vezes a gente conversava sobre algo, mas não por muito tempo. Logo o assunto acabava e ficávamos em silêncio.
Quando o motorista parou em frente a casa da minha colega, eu dei o dinheiro para ele, que me deu o troco. Antes de sair do carro, desejei que ele tivesse uma noite tranquila.
Caminhei até a casa, vendo Elizabeth me esperando. Assim que ela me viu, sorriu e me abraçou.
- Oi, Elizabeth. - Falei.
- Oi, OC! tudo bem? - Elizabeth disse desfazendo o abraço.
- Estou bem, e você?
- Estou bem também. - Ela sorriu. - Ei, vamos entrar! minha mãe quer ver você.
Eu sorri envergonhada. Ela abriu a porta de casa, me deixando entrar primeiro. Depois que ela fechou a porta, eu e ela fomos até a sala, onde sua mãe se encontrava.
- Mãe, essa daqui é a Oceana! - Elizabeth me apresentou.
A mãe de Elizabeth estava sentada no sofá e assim que me viu, se levantou, vindo até mim. Ela me deu um abraço rápido, mas apertado.
- Oi, Oceana! como você está?
- Eu estou bem, e a senhora?
- Senhora? não, pelo amor de Deus! sou nova demais para ser chamada assim. - Ela disse nos fazendo rir.
- Estou bem, e você? - Repeti a pergunta.
- Estou muito bem! - Sorriu.- E a sua família, como estão? sua mãe, seu pai...
Sua pergunta era na inocência, mas lá no fundo tinha mexido um pouco comigo. Eu não sabia como minha mãe estava, mas esperava que estivesse muito bem.
Elizabeth tinha percebido o meu desconforto, por isso, ela falou:
- Estão todos bem, mamãe. - Disse ela com um pequeno sorriso no rosto. - Acho que já está na hora da gente começar o nosso trabalho, não acha?
- É melhor mesmo. - Concordei com ela.
- Ah, então vão. Vou ficar aqui embaixo, não atrapalhar vocês.
Elizabeth agradeceu e me puxou para o seu quarto.
Quando entramos, ela fechou a porta e me olhou com uma cara de cachorro sem dono.
- Me desculpa por aquilo lá embaixo.
- Está tudo bem, Elizabeth. Relaxa.
- Você tem certeza? a minha mãe não sabe de nada, eu nunca...
- Está tudo bem. - Falei por cima da sua fala. Ela suspirou aliviada. - Vamos começar?
- Vamos.
Elizabeth se sentou-se na cadeira da sua mesinha, onde ficava o seu computador. Ela pesquisou algumas coisas sobre o tema e depois começamos a digitar. Para a nossa sorte, a professora tinha deixado todos fazerem o trabalho pelo computador.
Quando acabamos, já era por volta das 7 e pouca da noite.
- Ei, você pode ficar mais um pouquinho? - Elizabeth me perguntou.
- Já está tarde, eu acho melhor não...
- Fica mais um pouquinho, por favor! qualquer coisa eu peço para minha mãe te levar de carro.
- Mas já acabamos o trabalho todo, Elizabeth. O que você quer mais?
- Queria passar mais um tempo com você. Se quiser, a gente pode assistir um filme.
Eu deveria recusar. Deveria, mas não fiz isso.
- Pode ser. - Falei.
- Ótimo! - Elizabeth disse animada.
Ela pegou o controle da TV, procurando algum filme para a gente assistir. Eu tirei meu tênis, subindo na cama e ficando ao seu lado.
Elizabeth escolheu um filme de romance, chamado "Por Lugares Incríveis".
Eu achei o começo do filme b***a, um pouco chato. Não tinha gostado muito. Quando já estava na metade do filme, eu já me encontrava triste e com lágrimas nos olhos.
Ao meu lado, Elizabeth estava com a mão no rosto, limpando as lágrimas que caiam no seu rosto.
Quando o filme acabou, eu já não tinha mais lágrimas para chorar. Elizabeth me olhou e estava com o rosto todo vermelho inchado. Parecia que o mundo estava acabando.
Ela ficou me encarando por um tempo e quando vimos, já estávamos rindo da cara uma da outra.
- Obrigada por acabar com a minha noite com esse maldito filme. - Falei passando minha mão no rosto.
- Você acha que só a sua foi destruída? por Deus, meu coração está em pedaços! - Ela disse me fazendo gargalhar.
Aquela noite tinha sido estranhamente boa. Muito boa, para falar a verdade.