Monique narrando Fui chamada no rádio logo cedo. Nem tive tempo de tomar o segundo café. Voz séria, direta. Aquela entonação que já vem carregada de coisa errada. — Caveira, QG quer falar contigo. Urgente. Senti a espinha gelar. Urgente é sempre problema. Urgente nunca é parabéns. Botei a farda no corpo sem muita pressa, mas por dentro meu sangue já tava fervendo. Subi as escadas do quartel com o estômago travado, o silêncio dos corredores dizendo mais que qualquer comunicado oficial. Quando passei pela copa, um dos sargentos olhou pra mim por cima da xícara de café, aquele olhar que dura meio segundo a mais do que devia. Eles sabem de alguma coisa. Pensei na van. Pensei nas crianças. Pensei na favela, no beco, no beijo. Merda. Bati na porta da sala de reunião. — Pode entrar,

