Wynta, 27 anos.
Ela estava sentada na sala de espera junto com todos os outros candidatos a emprego, concorrendo à vaga de Especialista em Marketing na Hayes Enterprises. Ela tinha perdido o emprego anterior alguns meses atrás e estava ficando rapidamente sem fundos.
Todos os outros candidatos naquela sala eram humanos. Embora ela tivesse sentido o cheiro de alguns lobos ao entrar no prédio, não parecia haver nenhum trabalhando naquele andar. Ela não tinha realmente investigado quem era o dono da Hayes Enterprises, mas sabia que era administrada por um conglomerado chamado Cedar Rapid Industries.
Não lhe tinha soado como algo lupino, então ela não tinha verificado a intranet dos lobos de forma alguma. Ela apenas pensava que era uma empresa humana. Mas, agora sentada ali esperando pela entrevista, ela tinha a sensação de que seria de propriedade exclusiva de lobos, apenas porque tinha sentido o cheiro de alguns deles.
Mas ela estava esperançosa de que a entrevista hoje fosse conduzida por um painel de humanos, já que todos os candidatos eram humanos. Ela não estava ativa no mundo lupino há nove anos. Ela o tinha deixado para trás quando tinha se afastado de sua matilha de origem, na noite em que havia recebido alta do hospital da matilha.
Ela simplesmente tinha ido para seu dormitório individual dois dias depois que seu futuro Alfa partira para a Faculdade de Alfas, e ninguém soubera o que ela era para ele. Wynta tinha arrumado seus pertences em uma mala e saído da matilha. Tornou-se renegada após pisar fora do território da matilha.
Ninguém tinha vindo procurá-la, enquanto ela caminhava calmamente daquele lugar. Ela não ficaria apenas sentada esperando que um Alfa decidisse se ela era digna dele. Ela tinha se apaixonado por ele, mas também sabia que tudo tinha sido uma mentira, tudo o que ele já lhe tinha dito, então ela não faria mais parte daquela matilha.
Ela tinha pegado um trem e simplesmente se mudado, arrumado alguns empregos diferentes e se colocado na universidade, conseguindo bolsas de estudo onde podia e empréstimos estudantis quando possível, e agora, nove anos depois, ela era uma especialista em marketing, que trabalhava no mundo humano e se mantinha longe do mundo dos lobos.
Ela não considerava os Lobos sua Espécie, simplesmente porque era de fato sem lobo. Ela se considerava humana. Então ela vivia e trabalhava como um humano, lutava para pagar o aluguel e as contas às vezes, como tantos por ali. Ela comprava apenas o que precisava.
Mantinha cinco looks de trabalho que podiam ser misturados e combinados para criar diferentes visuais, mas eram todos profissionais ao mesmo tempo. Então, em seu apartamento, ela apenas relaxava de jeans e camisetas. Ela não possuía nada chique porque não tinha necessidade disso. Seus dias de férias eram passados deitada em seu apartamento lendo um bom livro ou ouvindo música.
Ela morava atualmente em um minúsculo kitnet que tinha apenas um quarto, uma pequena kitchenette e um banheiro minúsculo. Não havia nada de chique nisso. Ela, neste momento, não podia pagar por mais nada. Tendo perdido o emprego anterior, ela já tinha mudado do apartamento de um quarto para um kitnet.
Era pequeno, mas ela o mantinha limpo e arrumado, e depois de morar lá por um mês, percebeu que era tudo o que realmente precisava. Embora não tivesse luxos ali, não havia TV ou assinaturas de filmes, ela havia cancelado tudo para economizar dinheiro enquanto procurava um novo emprego.
A única coisa que ela tinha era o telefone, de que precisava para entrevistas e para receber chamadas de rejeição, embora também o usasse para ler livros online. Ela era indiferente a todos ao seu redor. Não havia contatos em seu telefone porque ela não tinha família nem laços com a matilha.
Ela não confiava facilmente nem formava laços com muitos ao seu redor. Em um ambiente de escritório, ela podia fazer seu trabalho e ter conversas adequadas, trabalhar bem em equipe, mas sua confiança era difícil de ser conquistada.
Apesar de ser sem lobo, ela conseguia sentir coisas como o cheiro de outros lobos, embora não pudesse determinar a matilha ou linhagem, apenas entendia que a espécie lupina cheirava diferente dos humanos. Todos eles tinham um cheiro mais terroso/amadeirado.
Ela às vezes se sentava nos parques e apenas observava os humanos caminharem interagindo com outras pessoas. Ela conseguia ler bem os maneirismos e expressões faciais. Distinguir uma mentira da verdade, porque ela ouvia a inflexão da voz de alguém e via as pequenas coisas que os humanos faziam ao mentir. Agitar-se, falta de contato visual, piscar excessivamente ou apenas fechar os olhos, mordiam os lábios, alguns até ficavam corados no rosto.
Se ela prestasse atenção completa, podia ouvir a mudança no tom de voz e até captar a diferença na estrutura das frases às vezes. Depois havia aquela pausa antes de falarem, que frequentemente mostrava que eles tinham que pensar em uma resposta, porque não queriam respondê-la honestamente.
Ela tinha aprendido que os humanos não eram diferentes dos lobos na maioria das vezes. Eles vinham até ela quando queriam algo dela e depois a passavam para trás, se pudessem, para levar o crédito pelo trabalho dela. Ambas as espécies eram enganadoras, no que lhe dizia respeito, e tudo o que ela estava tentando fazer era viver discretamente, sem ser vista por ninguém.
Ela tinha aprendido da maneira mais difícil a viver sozinha; até mesmo colegas de quarto eram enganadores e não podiam ser confiáveis. Ela achou que era simplesmente melhor viver sozinha e não fazer amigos que mentiriam para ela e/ou trairiam sua confiança. Roubassem dela ou a culpassem por coisas que eles tinham feito apenas para salvar a própria pele.
Seu nome e número de entrevista foram chamados, e isso a tirou de seus pensamentos ausentes. Ela se levantou e acenou para a mulher que a procurava, e então a seguiu silenciosamente pelo corredor e virou a esquina para uma sala que dizia "Sala de Conferências 2". A porta foi segurada para ela e ela entrou.
No momento em que o fez, pôde sentir o cheiro deles, lobos, e não apenas quaisquer lobos, ela pensava. Apenas olhando para o tamanho imponente deles e a maneira como estavam vestidos e sentados, eles seriam membros de alto escalão de alguma matilha por aí.
Ela caminhou e sentou-se na cadeira que estava à frente deles, como era esperado, e olhou para eles. Ela sabia que todos seriam capazes de farejá-la não só como uma renegada, mas também como sem lobo. Eles teriam sentido isso enquanto ela estava sentada na sala de espera ou no momento em que ela entrou naquela sala.
O sentido de olfato dela não era o mesmo que o deles, nem mesmo o de um lobo ômega. Ela observou enquanto três deles se recostavam nas cadeiras e deixavam um deles inclinado sobre a mesa à sua frente, olhando para ela. Aquilo lhe disse que eles não eram apenas membros de alto escalão, mas eram, de fato, um Alfa e sua Unidade.
Aquele que a observava agora seria o Alfa. Ele deslizou os olhos sobre a aparência dela e depois voltou os olhos para o currículo dela, leu-o antes de retornar os olhos para ela e colocar o papel na frente dele.
— Vou me apresentar formalmente a você — ele declarou calmamente. — Eu sou o Alfa Edward Hayes e esta é minha unidade — ele acenou com a mão para os outros lobos naquela sala. — Posso perguntar por que você é uma renegada? — ele perguntou diretamente, parecendo que sua curiosidade sobre o status de não pertencer à matilha superava as perguntas sobre o emprego.
Wynta franziu a testa com a apresentação dele. Ela realmente não se importava com quem ele era, e não achava que fosse da conta dele o motivo de ela ser uma desgarrada. Ela sabia que não era preciso ser parte de uma matilha para viver neste mundo. Cada vez mais lobos se tornavam desgarrados e deixavam suas matilhas para fugir da crueldade da liderança de suas matilhas.
Especialmente aqueles que eram como ela. Ela tinha visto e farejado muitos como ela nos últimos nove anos, apenas por aí, como ela, tentando ganhar a vida honestamente e se mantendo longe de problemas tanto no mundo lupino quanto no humano.
Quando ela não disse nada para responder à pergunta dele, ele continuou:
— Vejo que você tem 27 anos. Certamente alguém com suas habilidades poderia ter encontrado uma matilha para se alinhar... Quando você se tornou renegada ou foi transformada em renegada? — ele perguntou mais uma vez.
— Estou aqui pela vaga de emprego que foi anunciada, não para contar minha história passada a você. — Ela finalmente falou. — Você tem alguma pergunta para mim relacionada às minhas habilidades? — ela perguntou em troca.
Ele franziu a testa para ela agora e ela observou o que achava ser o Beta inclinar-se para frente e apoiar os braços na mesa.
— Você poderia solicitar refúgio e pedir para ser m****o da matilha. Então este emprego lhe seria concedido sem problemas — ele declarou.
Wynta ergueu uma sobrancelha para ele, então essa era a condição para conseguir aquele emprego, ela pensou distraidamente. Claramente, todos aqueles humanos lá fora estavam perdendo seu tempo vindo para uma entrevista. Esta empresa estava simplesmente cumprindo as regras humanas de parecer contratar de forma honesta e justa, quando na verdade pretendiam dar o emprego a um dos membros da sua própria matilha.
— Você gostaria de se tornar um m****o da matilha, Wynta? — O Alfa Edward perguntou diretamente. — Eu aceitaria alguém como você.
— Alguém como eu? — ela murmurou. — Uma renegada sem lobo e desesperada por afiliação, você quer dizer? — Ela balançou a cabeça um pouco consternada, ela parecia desesperada para eles? Ela não achava. Suas roupas estavam limpas e apresentáveis, assim como seu cabelo e maquiagem leve. Ela certamente não parecia desnutrida ou doente.
— O senhor vai me fazer alguma pergunta real de entrevista sobre a posição de Especialista em Marketing? — ela perguntou mais uma vez. — Minhas habilidades são as que estão listadas, e eu trabalhei agora para duas empresas separadas, como o senhor pode ver.
— Wynta, chegaremos à sua entrevista. Eu sinto que seu status de renegada é de maior importância e precisa ser resolvido primeiro — o Alfa Edward afirmou.
— Por favor, Sr. Hayes, não se dirija a mim de forma tão informal. Eu preferiria que me chamasse de Srta. Morgan. — Ela colocou para ele, mostrando que não estava interessada em fazer parte de sua matilha, e não achava que eles fossem próximos o suficiente para se tratarem pelo primeiro nome.
Todos eles estavam franzindo a testa para ela agora, por ela estar desconsiderando o fato de eles serem um Alfa e sua unidade à sua frente, mas ela era uma desgarrada e não tinha que reconhecer isso. Era provável que eles não esperassem que ela recusasse a oferta de ser iniciada. Mas não era algo que ela estivesse procurando.
Ela estava apenas procurando um emprego para ter uma renda novamente, e para manter um teto sobre a cabeça e comida no estômago, nada mais, nada menos.
— Que tal você vir e dar uma olhada na matilha? Fica a uma hora de carro daqui, e você verá que é uma matilha agradável e saudável; eu até tenho vários sem lobos morando lá — Edward ofereceu.
Novamente, ela ergueu uma sobrancelha para ele, isto não era mais uma entrevista. Ela balançou a cabeça e se levantou.
— Obrigada por desperdiçar meu tempo. Eu tenho outras entrevistas para comparecer esta semana — ela afirmou simplesmente, virou-se e saiu da sala, mostrando-lhes que claramente não estava interessada no que eles estavam oferecendo.