Capítulo Um - O monstro que habita em mim

4308 Words
A mulher corria, o neném chorava em seus braços apertados demais enquanto lágrimas pesadas caiam sobre os ralos cabelos castanhos claros. Ela parou e gritou para alguém na frente dela, negando com a cabeça. — É meu filho! Meu filho! — Ela dizia com a voz embargada, apertando ainda mais o bebê nos braços. — Não pode fazer isso Edgar! Porquê? Porquê quer me separar do meu bebê? — No nosso destino, minha querida, não há espaço para uma criança que não seja nossa. Eu disse a você todo o tempo, disse a você que parasse. Essa é sua sina. E então ele caminhava em direção a mulher e colocava o bebê contra o pescoço dela. E a criança cortava sua garganta como se não fosse nada. Ele usava pequenas garras saindo daqueles dedinhos ainda menores e que se agarravam ao pescoço decepado da mulher como se sua vida dependesse disso. Os braços dela ficavam repentinamente frouxos e o bebê nos braços despencava para a morte certa; nem o homem, nem ninguém tentando pega-lo. Ninguém tocaria no pequeno monstro. ____ — Zouely! Zou! — Os gritos soaram através da parede fina do quarto. Os olhos do adolescente se abriram e ele inspirou o ar ao seu redor como se precisasse dele para se acalmar. Seus pulmões doeram e ele instantaneamente parou a ação enquanto olhava ao redor e percebia com seus olhos verdes assombrados que tudo não passava de um pesadelo. Um pesadelo recorrente, mas ainda assim apenas um pesadelo. Ele os tinha desde que soubera a verdade do porquê não tinha uma mãe como as outras zatlings¹: ele a tinha matado. Sua mãe, a quem nem mesmo se lembrava. Ele tinha dois meses quando ela se fora após passar esses ditos dois meses sofrendo. Fora um parto difícil, disseram que suas garras a haviam cortado de dentro para fora assim como a garganta do irmão gêmeo. Que havia sido um milagre ela durar aqueles dois meses. Que havia sido o melhor para ela não ver o monstro que o filho era. O monstro que ele se tornara no instante em que rasgou a garganta daquele outro feto ainda no útero. Um monstro. — Zou c*****o! Tenho que chegar lá às oito! Eu vou receber menos se deixar a p***a do cliente esperando cozifae²! E você não quer que eu receba menos... A voz do homem a quem ele chamava de pai voltou a chamar do outro cômodo e o jovem assassino suspirou. — Já to indo! To indo! — Ele gritou pulando do colchão fino onde dormia e passando aos pulos pela cortina que fechava a entrada do quarto enquanto enfiava as calças jeans velhas pelas pernas. E claro, isso tinha tudo para dar errado. Foi o grito do menino de treze anos que alertou ao homem mais velho de que o filho estava perto de perder alguns dentes. O homem agiu mais rápido do quê se pensaria que um zombie era capaz e agarrou o braço levemente musculoso do menino evitando uma queda que o atrasaria ainda mais. O homem lançou ao menino um olhar feio e resmungou alguns palavrões sob a respiração enquanto posicionada o filho em pé. — Voxzsi³! — Pediu o menino com um sorrisinho pequeno e irritante no rosto enquanto olhava para pai. A irritação do homem só ficou mais evidente enquanto o adulto fechava os olhos por um minuto. Os traços delicados que compunham o rosto do homem mais velho se torceram um pouco quando o homem apertou a boca em uma linha e, abrindo os olhos, resmungou: — Você tem cinco minutos! O menino correu até uma bancada encostada na parede atrás dele enquanto brincava: — Quanto mau-humor! O homem lançou outro olhar feio em sua direção e apertou o nariz entre os dedos. Zouely suprimiu um riso. — Eu tô atrasado, Zouely! — Ele rosnou levemente para o jovem, seu tom mordaz escondendo sua gentileza usual. O sorriso do adolescente sumiu quando ele percebeu para o quê o pai estava atrasando e ele engoliu um sanduíche que o adulto já deixara pronto sobre a bancada da cozinha antes de se deixar mais apresentável. O homem, apesar do que podia parecer, não era r**m com o menino ou muito rígido. Ele apenas estava realmente com pressa naquela manhã em particular. — Só vou pegar uma croutx⁴ e nós vamos. — Disse o adolescente depois de arrumar uma camisa limpa, escovar os dentes, pentear os cabelos castanhos e calçar um par de tênis tão surrados quanto as calças que vestia. Então ele correu de volta à imitação de cozinha e pegou uma pequena fruta enrugada e cor de rosa. Era, inclusive, comumente associada a aparência de um cérebro e fazia parte de uma ridícula lenda zombie que muitos acreditavam. A fruta, diziam, só havia começado a nascer quando o sangue de muitos zombies acabou se derramando numa guerra injusta quando eles lutavam pela sobrevivência. E Zouely achava que não passava de uma história para crianças bobas. Se o sangue de um zombie fosse capaz de criar vida daquela forma que a lenda dizia eles não viveram naquela fraca liberdade. Eles estariam presos em laboratórios como pequenos ratinhos e sendo drenados para o bem de outros. De qualquer forma, ele pensou olhando para o céu acinzentado de Prinnardya, sangue zombie não faz nascer plantas. Muitos diriam, inclusive, ser justamente o contrário. O menino encarou a frutinha durante alguns segundos enquanto pensava no outro motivo pelo qual ela era tão associada aos Zombies, tendo lendas ou não: era a sua aparência que diziam lembrar a um cérebro. Essa outra lenda dos tempos em que os Zombies eram tidos como monstros em decomposição que clamavam por cérebros ainda persistia mesmo depois de trinta anos. Ninguém nunca perguntou, nunca tentou entender se eles eram tão monstruosos quanto diziam os produtores de cinema. Claro, a carne crua era a única coisa que eles conseguiam sentir o sabor, mas isso não significava que eles só podiam comer cérebros ou qualquer coisa que lembrasse a isso, não. Todos os Zombies estavam completamente bem com comida normal. Ela os satisfaziam como a carne e a única diferença era a textura e o sabor que simplesmente não existia em coisas cozidas. Mas é claro que ninguém se importava com isso: suas mentes limitadas viam os zombies como monstros e era isso que eles sempre seriam. Monstros. ____Zouely____ Mordendo a fruta, acelerei meus passos até meu Zoffirg⁵ que me observava com os braços cruzadas e uma expressão irritada e sai da do lugar onde vivíamos vendo enquanto ele trancava a porta do casebre. Papai caminhou comigo sem dizer uma palavra e acompanhei com esforço seus passos rápidos e largos em direção ao local em que eu ficaria. Cercada por um grupo de jovens de idades distintas estava uma zombie que embora já tivesse seus sessenta anos, o que era o equivalente a ser muito velho para um zombie, ainda aparentava ter uns trinta anos. O que, é claro, não era nada incomum. A mulher, Senhora Ohara como a chamamos, é a única "professora" que temos. Diferente da maioria dos outros adultos, Ohara não trabalhava no bordel e conseguia seu dinheiro cobrando para ensinar aos jovens um pouco de tudo o que eles precisavam saber. Coisas que eles precisariam para continuarem vivos e coisas que não. De qualquer modo, cada pai dava-lhe 5 Anoletas⁶ por mês por cada zatlings que estudasse com ela e todo o dinheiro era mais que suficiente para a mulher viver mais confortavelmente do que boa parte dos outros e embora fosse um pouco irritante, pai nenhum queria ver seus filhos largados na rua. Era melhor pagar para eles estarem onde eles sabiam, que não pagar e depois saber que de alguma coisa particularmente r**m que os jovens haviam feito ou pior: tinha acontecido com eles. Assim, acenei em despedida ao meu pai e cumprimentei levemente com a cabeça aqueles poucos que falavam ocasionalmente comigo ou apenas não corriam de mim. Não eram meus amigos, mas eu gostava de não ser temido o tempo todo e tentava ser cordial com essas pessoas. Ainda faltava chegar algumas pessoas, percebi encarando o grupo ao meu redor. Algumas meninas se escolheram quando receberam o meu olhar e lutei para conter uma revirada de olhos. Algumas das outras, porém, não fizeram isso e eu acenei levemente com a cabeça para Zahara e suas amigas, Yelena e Ammy que apenas me deram um sorriso fraco. Minha atenção se voltou para outro lugar depois disso, eu não queria forçar nada: não era realmente o preferido de ninguém ali e já receber pelo menos alguns acenos de cabeça me deixava satisfeito. Eu fingia que não me importava, mas sabia que pelo menos 3/4 deles tinham medo de mim e sabia também que não era um medo sem motivo. Me inclinei contra uma parede e fechei os olhos enquanto esperava a Senhora Ohara finalmente começar a aula do dia. Naquela hora em algum outro lugar do que aqui, um grupo de jovens estaria tendo aulas fixas como matemática e português. Aulas que não envolviam o melhor jeito de seduzir um cliente ou como reagir à qualquer pedido particularmente inusitado dele. Aulas de pessoas normais. Suspirei por um momento enquanto a inveja preenchia meu peito. Eu daria tudo para ser só alguém normal. Alguém que não destruiu metade da família apenas por existir. Eu só queria ser como eles... Mas eu não era. Nenhum de nós éramos como os outros adolescentes da nossa idade. Éramos apenas pequenos monstros em formação que não mereciam o direito à escolaridade como todos os outros. E eles faziam questão de nos fazer sentir que somos diferentes de todos e não apenas no fato de que não podíamos ir à escola, não, isso também se mostrava em cada momento de nossas vidas miseráveis. Nos mostravam que nunca seremos bons o suficiente quando o único "emprego" que nos deixam ter é a prostituição. Quando fecham os olhos pros corpos abusados de adultos e crianças jogados nas ruas como se fossem lixo. Quando não se importam quando uma criança morre de fome por não ter o que comer. Ou quando essas crianças entram no Montegomery⁷ cada vez mais cedo lutando para viver mais um dia. Eles fingem que não nos veem. Ignoram aqueles que vivem na maldita periferia da sociedade. E pensar que tudo era tão bom antes, quando nenhum humano sabia que aqueles que eles viam nos filmes existiam de verdade. Porque quando os irritantes e enxeridos humanos descobriram que não eram a única raça inteligente no mundo era mais do claro que tudo acabaria em guerra. Primeiro descobriram as Fadinhas de Acussae, uma espécie de faerye que viviam nas casas humanas roubando pequenos objetos como chaves ou doces, ou ajudando fazendo flores crescerem, etc. Alguns humanos logo começaram a caçar os pequenos serzinhos e, por esse motivo, os outros tipos de faerye se meteram na história. Todas as centenas de raças. É claro que quando a coisa piorou a única coisa que as outras espécies podiam fazer era tentar ajudar. E eles ajudaram lutando na guerra em um mundo dividido em dois: aqueles que apoiavam e os que não apoiavam o sobrenatural. Algumas pessoas simplesmente não estavam felizes com os monstros de seus filmes de repente se dizendo reais. Eles estavam com medo, amedrontados com o que aquelas novas forças causariam aos seus mundinhos perfeitamente imperfeitos e atacaram no que resultou em quase três anos de guerra. Quando finalmente acabaram, mais da metade da população tanto humana quando sobre-humana havia sido varrida da terra. E algumas espécies foram simplesmente extintas, desapareceram no mar de corpos e sangue. Só não valia a pena mais continuar lutando e num consenso por parte de ambos os lados, foi criado um grande conselho contendo dois membros de cada novo tipo de raça descoberta, além dos humanos. E claro, pouco tempo depois todos tinham seus preferidos: todo mundo adorava os vampiros e os lobisomens e qualquer outra espécie que tivessem um homem de quase dois metros de altura, com um pênis gigante e que possivelmente se transformasse em um lobo ou tigre, ou urso, ou fosse um E.T. sexy. Isso era muito provavelmente influência dos livros românticos e eróticos, mas bem, quem pode julgar? Bem, eu. Ok, Ok. Sinceramente eu não julgo, não realmente, mas ainda assim era bastante irritante vê-los adulando pessoas que não eram metade dos que eles liam em seus livros. Todo mundo amou os unicórnios e ainda mais os raríssimos chifres deles o que fez com que em vinte anos os coitados quase entrassem em extinção. Amaram os fluxies⁸ e qualquer outro bichinho ou espécie particularmente fofa. Todos eles amaram os dóceis e alegres povos faerye. Claro, eles não sabiam realmente quem eram os faerye e mesmo se alguém dissesse eles não acreditariam, ou melhor: não acreditaram. Por esse motivo, quando vemos os anúncios de desaparecidos dos humanos não temos nenhuma reação além de desprezo. Colhem o que plantam, é o que diz o ditado. E claro, era de se imaginar que os zombies seriam tão amados e aceitos quantos os outros, mas não foi o que aconteceu. Esses eram tão diferentes de suas versões cinematográficas que causaram uma espécie de constrangimento mundial. Nem mesmo os "nerds" os apoiaram: eles estavam mais interessados nas versões cinematográficas que eram ridiculamente decadentes, cinzas, faltando partes corporais e que clamavam por cérebros como se fossem idiotas. O que eles "receberam" estava tão longe de suas definições de zombies conhecidas que suas mentes poderiam explodir. Ou bem, essa é a única explicação que consigo imaginar quando penso sobre isso, porque simplesmente não é possível haver alguma coerência nisso. São privilegiados de fato. Temos traços suaves e andróginos⁹, somos possuidores de beleza surpreendente raras e éramos bastante baixos. O zombie mais alto aqui da nossa vila tinha um e setenta de altura o que por si só já era bastante estranho. Nossa pele tinha uma tonalidade azul ou verde meio transparente que deixava a mostra nossos vasos sanguíneos e, se observado com muita atenção, nossos órgãos. E o nosso sangue também era verde. Nossos cabelos eram naturalmente brancos, cinzentos, verde ou azuis onde os três últimos são também as cores dos nossos olhos. A única diferença era que nossos olhos brilhavam no escuro, coisas que nossos cabelos não fazem. Tudo isso deveria ter nos tornado tão populares quanto os outros, se não fosse um pequeno fato. Éramos comedores de cérebros. Claro, isso era ultrajante, nojento. Tanto quanto se alimentar de sangue ou carne humana. Mas ninguém pensava isso, e os zombies despencaram do possível terceiro lugar dos favoritos para o antepenúltimo lugar — bem acima dos fantasmas e wendingos. Ninguém realmente gostavam deles. Sendo os favoritos, foi passado um "paninho goxtozo" sobre as cabecinhas dos lobisomens e dos vampiros e não apenas deles: os faerye que em sua maioria eram consumidores da carne humana, os sirens e tantos outros também foram dados escolhas. Escolhas que não recebemos. Não que eles as cumprissem de qualquer maneira, mas enquanto os humanos acreditassem que os outros cumpriam sua parte do acordo estava tudo bem. Tudo o que não podia acontecer de novo era outra maldita guerra. Suspirei abanando a cabeça e senti os olhares dos outros em mim. Inspirei o ar levemente e o cheiro de medo ao meu redor era bom e tão viciante como os entorpecentes que Archeon vendia. Archeon. Se eu fosse normal, Archeon seria o meu namorado. Mas eu não era e Archeon era o meu chefe, o meu dono e eu era além de seu subordinado, a sua cadelinha. Ou bem, pelo menos foi assim que me chamaram quase três anos atrás quando eu me envolvi com Archeon pela primeira vez. Eu tinha uns onze anos e ouvir os outros meninos me xingando na rua doeu muito no meu ego. Claro, não era nada novo: eu já era xingando muito antes disso. Mas a diferença entre p**a e assassino era muito grande e naquela época eu preferia ser chamado da primeira. Ser chamado de assassino me lembrava do que fiz para nascer, e embora eu soubesse ser verdade, doía mais que qualquer coisa. Archeon, por sua vez, não achou engraçado e quando os meninos foram surrados e um deles acabou morto os xingamentos pararam. E eu, sinceramente, não me importei. ____ Esperar Ohara acabar a aula fora um saco, ainda mais do que o usual. Eu apenas não estava a fim de escutar sobre o "maravilhoso" destino que esperava cada um de nós dentro das paredes do Montegomery e sobre o quanto deveríamos estar gratos por ele. Destino como o do meu zoffirg que havia entrado no lugar nojento apenas alguns minutos atrás. E era aquela ação que nos permitia ter o que comer no final do dia. E era por ela que eu havia me envolvido com Archeon: para salvar o meu pai daquela humilhação. De impedi-lo de vender o corpo para sobreviver. Infelizmente, o meu objetivo ainda não tinha sido alcançado e eu dava o meu melhor, literalmente, para isso acontecer. Ninguém merecia passar por isso, não era justo. Mas nada realmente era, não em um mundo como esse. E era nesse mundo em que ninguém se importava com o fato de que uma espécie inteira era tratada como lixo que eu vivia. Era nesse mundo que os inocentes eram condenados dia após dia por algo que eles nem mesmo tinham controle. Eles, os zombies, nasciam assim do mesmo jeito que os humanos, que os lobisomens, os shifters, os vampiros e todos os outros. E éramos nós, os Zombies, e não eles que quando recebiam um trabalho seria apenas os piores, aqueles que ninguém queria. Era o meu povo que construía os gigantescos prédios sem nenhum equipamento de segurança, que limpava as ruas dos pontos comerciais e as privadas. Éramos nós que vendíamos o corpo como se fôssemos nada, como se fossemos brinquedos: usados até quebrar e depois jogados no lixo. Éramos o lixo. Suspirei tentando mudar o rumo dos meus pensamentos - nada de bom viria disso - e caminhei até a casa de Archeon. Eu sabia que ele ficava sempre irritado as terças-feiras, era dia de carregamento e eu não queria nem estava com humor para aturar a ira dele. Eu ainda carregava as marcas da última vez. Virei uma esquina e dei de cara com o dito cujo. - Archeon! Que susto! - Gritei colocando a mão no peito. Isso que dá andar distraído por aí. Olhei para cima quando escutei o riso. Fiz uma careta para o faerye de quase dois metros de altura e a única coisa que o gigante fez foi rir. Não seja chato, doce. - Ele disse com um sorriso e eu virei os olhos. - Tava indo lá para casa? - Uhum. - Murmurei em resposta enquanto o homem me puxava para ele. Meu rosto se pressionou contra a parte superior do estômago dele e senti as mãos dele no meu cabelo. - Tava indo buscar você. - Ele falou para mim e me afastou do corpo. - É? - Ergui as sobrancelhas, estranhando seu bom humor. - o carregamento foi bem, então? Archeon me olhou e sorriu com aqueles dentes brilhantes e longos. - Ocorreu maravilhosamente bem. ____ Estava sentando no salão do Accaputti vendo Archeon flertar com três meninas diferentes e revirei os olhos. Não é que eu esteja com ciúmes, eu sei melhor que isso, mas eu estava profundamente entediado o que era quase equivalente a outra opção. Passei os olhos pelas pessoas naquele lugar. Era tanta gente diferente, tanta raça junta que a cabeça até doía de ver. Tinha pessoas com pele vermelhas ou negras, ou amarelas, gente feita de troncos de árvores, pessoas com chifres, com olhos assustadoramente verdes e muito mais. Era um ambiente estranho, perigoso e era nele que Archeon se sentia confortável afinal: aquele era o bar dele, no território dele e todas aquelas pessoas estavam ali para ele e para o que ele tinha a oferecer. Archeon não teria tempo para mim naquela noite. Que tédio. Com a música alta e todo o falatório minha cabeça doía e eu sinceramente não estava mais a fim de ficar naquele ambiente. Procurei Archeon com os olhos para dizer-lhe que iria embora e o sofá que ele ocupava com às três meninas estava com algum outro casal o ocupando. Passei novamente os olhos pelo local ignorando quaisquer olhares que eu recebesse e procurei o homem mais velho. Que saco! Agora eu teria que esperar. Suspirei abanando a cabeça e me virei para Oriacles, o barman, para pedir qualquer coisa sem álcool que ele tivesse. Eu odiava o sabor amargo do álcool e evitava ao máximo bebê-lo. - Ori! - Chamei o menino um pouco mais velho que eu. - Me traz um coquetel de morango? O menino assentiu com a cabeça para mim e eu me virei no banquinho para olhar a festa a tempo de ver um homem bastante bonito sentar ao meu lado. Não consegui identificar de qual espécie ele era devido à baixa iluminação, mas ainda conseguia ver seus traços faciais que eram bastante humanos para mim. - Você não é um pouco jovem para estar aqui? - Ele falou numa voz grossa. - Jovem? - Entoei com uma sobrancelha levantada enquanto Ori me dava meu drink e o estranho aproveitava para pedir o dele. - Sim. - O homem respondeu. - Quantos anos tens? doze? A idade que ele me deu me irritou e respondi entredentes - Quase catorze! O homem riu baixinho e eu percebi que caíra num truque. Bufei e tomei um gole da minha bebida, disposto a ignorar o homem ao meu lado. - De qualquer jeito muito jovem para estar aqui. - Ele disse. - Archeon não acha isso. - Disse esperando que o homem fosse embora quando ouvisse isso, mas ele apenas levantou uma das sobrancelhas laranjas. - Archeon é um t**o se deixa uma beleza como você solta por aqui. - O homem tomou um gole da própria bebida antes de comentar: - Eu soube que ele tinha pego um novo brinquedo a uns dois, três anos. Só não esperava que fosse um tão jovem. - Cara, não sou uma criança. E sério, melhor deixar Archeon em paz. - Falei já de saco cheio com o rumo da conversa. E então murmurei em seguida - Ele não está fazendo nada de errado. - Ah! Você é sim. - Disse ele respondendo minha primeira frase e então arqueou a sobrancelha novamente. - Ele está fazendo muitas coisas erradas, principalmente quando ele está assediando crianças. - Não sou uma criança! - Rebati irritado. O homem me encarou. - Mas a três anos atrás você era. Observei o homem antes de abaixar os olhos, considerando suas palavras. O que ele disse era verdade. - Isso não é da sua conta, senhor. - Disse num suspiro. - Acho que é melhor você deixar esse assunto de lado, se Archeon ouvir sob-... - Se eu ouvir o quê? - A voz do tellote vermelho soou atrás de mim. Archeon. - Archeon. - Disse num fio de voz, mas o homem já não estava olhando para mim. - Senhor Orstzerq... - Archeon disse limpando a garganta. - Esse garoto está te incomodando? Minha garganta secou. Eu? - Archeon Flirtz - O homem disse como cumprimento. - Não sabia que molestava criancinhas. - Eu não... Eu não... - O tellote vermelho ficou pálido e gaguejou. Passei meus olhos entre os dois homens tentando entender o que estava acontecendo. Aquele homem era perigoso? Archeon o tratava com respeito. - O seu menino admitiu ter apenas catorze anos e eu sei que você o tem por quase três anos agora... Eu engoli em seco e reprimi o "Portanto maioridade" que ameaçou escapar por entre meus lábios. Tudo isso cheirava a problemas e eu sabia que tinha colocado Archeon em maus lençóis. — ... E você sabe, Archeon, que meu irmão não gosta de gente como você. - Senhor Orstzerq isso não é o que está pensando! Eu não! Eu m*l conheço esse menino... - Archeon parecia cada vez mais perto de desmaiar e eu me encolhi. Depois que esse homem, senhor Orstzerq fosse embora as coisas ficariam feias para mim. - Você é um grande covarde, Flirtz. - O faerye falou com um olhar sombrio no rosto e se levantou. O homem andou alguns passos e se virou para olhar para mim e Archeon que continuava no mesmo lugar. - Espere contato, Flirtz, coisinha bonita. — Ele disse olhando para cada um de nós e então saiu. Os olhos de todos do salão acompanharam o homem e depois voltou a nós dois e Archeon encarava a porta perdido em pensamentos. Ignorei os olhares e me mantive imóvel torcendo para que a retaliação não caísse sobre mim. Mas quando os olhos cor de vinho de Archeon bateram no meu rosto eu sabia que isso não aconteceriam. Me encolhi no banquinho e, quando Archeon me arrastou escada acima eu sabia que estaria bastante roxo amanhã. ------- Fluxies⁸ = Pequenos animaizinhos do reino faerye. Eram como pequenas bolinhas de pelo azul, amarelas ou vermelhas e conseguiam "voar" até 15 centímetros do chão pelas pequenas asinhas da cor do pelo que tinhas nas costas. Andrógino⁹ = aquele que apresenta características, traços ou comportamento imprecisos, entre masculino e feminino, ou que tem, notavelmente, características do sexo oposto. No caso aqui eles não têm características que mostrem que eles são homens, tipo barbas. São como crianças, a voz deles nunca ficam tão grossas quanto as vozes masculinas humanas, eles não têm barbas os pelos em outros lugares que não seja a cabeça, já que eles têm cílios, cabelos e sobrancelhas. Os órgãos sexuais permanecem como os humanos, além da falta de pelos.  
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