DANTE NARRANDO
Cheguei em casa com o corpo moído e a cabeça fervendo. A rua já tava mergulhada num silêncio estranho, quebrado só por um ou outro cachorro latindo ao longe e o barulho do vento batendo nas telhas. A fachada da casa tava toda apagada, só um filete de luz do poste da viela iluminava a entrada. Respirei fundo antes de girar a chave. Aquela sensação de peso nas costas não saía, parecia que eu tava carregando o morro inteiro em cima dos ombros.
Fechei a porta com cuidado, tentando não fazer barulho. O ar lá dentro tava morno, com cheiro de perfume doce, daqueles que ela usava depois do banho. Subi devagar, degrau por degrau, cada passo me jogando mais pra dentro da minha própria cabeça.
A Tânia, com certeza, já tinha ido embora. Fazia isso direto quando achava que ia rolar al
