Como bem vimos, Mariana estava conversando com os outros policiais da delegacia enquanto demostrava conhecer bem o caso.
— Hoje é o quinto dia depois do último assalto, como sempre, ele irá comentar em algum site que somos incompetentes com todas aquelas palavras clichês de romances antigos.
Os policiais riram.
— No sétimo dia depois do assalto, ele irá falar o que vai roubar e quando acontecerá. Já sei disso há meses, estou cansada dessa balela dele.
Quem quebra o clima, é Carlos que entra na sala ferozmente.
— Já viram o Site Q1? NÃO?
— O que houve? — questionou Mariana.
Carlos apanhou um notebook e acessou o site enquanto falava.
— O Ladrão de Quinquilharias disse que o próximo assalto será no Museu de Arte Moderna.
Os outros policiais ficam se perguntando onde é.
— Ele fica no Parque do Flamengo. Mas que droga, vocês tem faculdade mesmo? Não frequentam museus? — reclamou.
Mariana se sentou assustada.
— Mari, ele mudou o hábito, vocês sabem o que isso significa?
Os outros policiais estavam se perguntando o que isso significaria, mas Mariana levantou confiante.
— Ele perdeu a cabeça com algo, um ladrão tão meticuloso como ele, pra mudar a rotina, está desesperado com alguma coisa! Vamos pega-lo!
Carlos a encarou enquanto todos os outros policiais da sala ficam maravilhados com a inteligência de Mariana. Não sabiam que aquilo poderia significar isso.
— Equipe, vocês todos veem comigo, vamos traçar a segurança.
E lá se foi Mari com os subordinados saindo pela porta da sala. Carlos é o último a sair e ficando de pé enfrente a porta, começa a conversar com o Bruno que está encostado na parede ao lado.
— Sobre a questão da quebra de hábito. Você sabe o que isso realmente significa?
Bruno balança a cabeça negativamente.
— Sim, que ele está acuado ou preocupado com algo, animais ferozes quando ficam assim tendem a não seguir um hábito, ele será mais violento, mais agressivo.
— Ainda bem que você entendeu.
— Vou traçar a segurança da segurança.
Dito isso, Bruno caminhou para o outro lado da Delegacia e um grupo com outros policiais o acompanha.
Vemos que Carlos tenta manter a ordem no meio deste caos, pois enquanto Mari tem o foco no Ladrão, Bruno é quem cuida da segurança de todos. A equipe é muito desunida, mas funciona.
No lado de fora, a caminho do Museu, dentro da viatura, Mariana estava conferindo o colete e as balas, mas, obviamente estava pensando enquanto olha para as nuvens passar.
“Amanhã à noite, você não me escapa”.
Voltando para o lado ímpio da Cidade. Os três patífes haviam acabado de encerrar uma das últimas reuniões.
Fernando apanha sua bolsa atravessada, satisfeito com a situação.
— Estamos cientes disso? Todos entenderam o plano?
Os outros dois balançam a cabeça.
— Espero que dê tudo certo.
— Confia mesmo que essa mudança nos planos dará certo?
— Ela tem que dar, eu não sei o que fazer se ela não der. — confirmou Fernando.
O dia passou rápido, geralmente é o que acontece quando estamos próximos de algo escandaloso que está para acontecer. Nossos personagens, tanto os heróis quanto os vilões, se preparam para o objetivo distinto que tinham. O dia seguinte, obviamente, demorou a acontecer, pois é o que de fato rola quando estamos esperando algo acontecer.
Quando a noite cai, o Museu fica rodeado por policiais militares.
A inteligência da polícia civil tem um cômodo só pra ela, num lugar destacado dentro do lugar. Carlos e Bruno estão sentados com o Dono do Museu, conversando sobre a segurança dentro de uma sala tomada pelo apoio Tático da Polícia Civil. As coisas parecem fluir muito bem, todos estão atentos e ligados para o menor detalhe.
Mariana entra na sala com sua roupa do tempo que fazia o mesmo apoio tático. Neste grupo, foi onde ela começou dando o seu primeiro ponta pé e cresceu dentro da Civil.
A Maria era do apoio tático? — perguntou Carlos.
Sim, tem uma média boa no tiro e sabe alguma arte marcial, acredite, ela não é boba. — completou Bruno.
O velho dono do Museu, a encara.
— Eu ainda não confio em deixa-la por ai comandando os quatro cantos do meu Museu, por que um de vocês não faz isso?
Carlos lhe olha atravessado.
— Além de ela ser totalmente capaz e segura de si, foi dela a ideia de substituir as obras de arte por réplicas, colocar algumas dentro do blindado da Civil lá embaixo, outros em uma sala aqui do lado e as demais no cofre. Somente nós três e ela sabemos do plano, das possíveis contenções, as rotas de fuga e os oito planos reservas. — rebateu Carlos.
— Ela pessoalmente fez tudo usado pela criptografia da Polícia Civil, desta vez ele vai cair na teia dela, não existe alguém melhor pra caça-lo do que ela. — confrontou Bruno.
— Está claro, Senhor? — agrediu ela.
— Sinceramente? Ela é a única coisa que me preocupa, pois mesmo que vocês venham a falhar, este local é uma verdadeira Fortaleza, era a residência oficial na Capital do Rio de Janeiro do Marechal Deodoro da Fonseca e foi criado única e exclusivamente apenas para mantê-lo seguro. — respondeu o velho.
Ele realmente se orgulhava de manter um Museu dentro de uma Fortaleza.
Mariana se retira da sala irritada com o velho. Carlos e Bruno, um pouco mais sábios e experientes, justamente por saberem dosar os ânimos, ficam e continuam com o plano.
Os Policiais Militares estão dispostos do lado de fora do Museu em diversas equipes escolhidas meticulosamente pela Mariana. São quatro atirados da PM e um investigador júnior da Polícia Civil como o líder da equipe. Eles haviam acabado de jantar, foi pizza. Tudo ia bem e a ‘resenha’¹ entre eles começava.
— Acham que tem algum infiltrado?
— Dentro de nós? Não, mas quem sabe dentro da Polícia Civil. — brincou.
O Policial Civil tomou aquelas palavras atravessadas como insultos.
— Se houver algum traidor, com certeza ele usa azul e é um dos porcos fardados da PM.
O clima esquentou. Mariana sabia disso, ela entende que se o Ladrão demorasse a agir, as equipes iriam acabar brigando, pois a rivalidade entre as duas corporações é grande.
Após a resenha, um dos PM's chama no rádio.
— EQ0, EQ0, aqui é a EQP, em nossa patrulha periódica, notamos que a equipe da Esquerda foi atacada, eles possuem ferimentos superficiais com golpes de faca e não disparar nenhum tiro sequer.
Bruno, líder da EQ0, se levanta enfurecido saindo para checar.
— Onde estão as plantas do lugar? Eu quero revisar algo. — questionou Mariana.
O velho dono apanha e joga na pequena mesa de centro.
— Por que não mencionou o fato de ser uma pequena Fortaleza antiga antes?
— Não é importante.
Mariana grita visivelmente irritada enquanto checa a arma e as munições.
— Fortalezas militares em solo nacional constituídas na época de Dom Pedro II eram construídas para terem uma rota de fuga secreta caso o Forte fosse tomado pelo inimigo.
O velho se assustou. Mari apanha alguns subordinados e corre para fora com Carlos. Ela correu a um local, próximo da entrada que tem no meio do jardim atrás do Museu. Mari liga a lanterna e nota que existem marcas de sapato pisado na lama.
“Eu sabia”. — pensou.
Tiros são disparados a direita, Carlos se manifesta.
— Fique aqui com dois, irei para o outro lado, vem um comigo.
— Esperem. — exclamou.
Carlos lhe encara.
— Isto é claramente uma armadilha, ele não pode ter cruzado o Museu da esquerda para a direita, tão rápido e sem ser visto. Algo está acontecendo. — completou.
— Eu sei disso, mas alguém precisa agir.
— Então haja com inteligência! — brigou.
—Mariana, faça o que bem entender, mas não morra. Você é mais inteligente do que nós e precisamos de gente assim na corporação. Se alguém vai prendê-lo será você! — completou Carlos.
Ele saiu correndo com um dos subordinados enquanto Mari ficou de frente para a entrada.
Mariana serenamente guarda a pistola enquanto pensa consigo mesma sobre uma solução mais tranquila e segura.
— Queridos, podem acompanhar o Bruno, não quero que o alto escalão fique desprotegido, ok?
— Mas enquanto a Senhora?
— Eu não sou burra, não agirei só, podem ir. — respondeu.
Os subordinados que estavam em sua posse, foram atrás do Bruno. Mariana, agora só, decide fechar os olhos o pensar na situação como um todo.
“Porque essa rota mais fácil? Ele não sabe dos esquemas de segurança e não roubou nada. Por que entrou e saiu apenas para nos desafiar? Tiros na Esquerda e na Direita, os PM's estão vigiando, a inteligência atenta e eu estou atrás do Museu. Tudo está bem seguro e nada foi levado. Qual o motivo disso? O que ele quer?”
Mariana tem um estalo de inteligência e corre em direção à frente o Museu. Encarou a entrada e notou as ruas mais abertas, notando assim um imenso estacionamento.
—Te achei!
Acredite se quiser, pois lá estava, o Ladrão de Quinquilharias Mascarado, bem em frente à Mari usando roupas escuras, luvas negras segurando uma enorme sacola.
— PARADO!
— Isso realmente funciona? Alguma fez um bandido parou só porque o policial mandou?
— Você se acha inteligente demais, mas as coisas são falsas, eu não sei como as roubou, mas são quinquilharias falsas.
O Ladrão sorri e então arremessa o saco encima de uma Pick-Up com cara de espanto e descrente de que ela tenha passado a perna dele.
— Sinceramente? Isso não me assusta, o que me põe medo é que além da Senhorita, ninguém veio ao meu encontro, então como me achou?
Mariana sacou a pistola e o encarou.
— Você é muito inteligente e ousado, sabia que assistiria tudo isso, esse devaneio todo de frente e quando derem mole ou você se enchesse, iria embora de carro.
O Ladrão gargalhou. Pareceu aqueles vilões dos anos oitenta.
— Mas hoje você se perdeu, mudou seu próprio protocolo e está desarmado mais uma vez na minha frente. — completou Mariana confiante.
— Se você diz né?
— Renda-se.
Ela estava certa de que o pegaria e que dessa vez, não dava para escapar. Mas atrás dela, estava de pé outro Ladrão de Quinquilharias Mascarado!
Mariana se assustou com o barulho dele e se volta, ficando confusa ao ver dois deles, a situação piorou quando ao ficar de costas para o primeiro, ele a engravata e apanha sua arma.
Tendo ela como refém, ele aponta para o Segundo Mascarado que o chama de falso.
“Que p***a é essa que está acontecendo?”
Ela sabe que nem em sua pior teoria, isso aconteceria.
O Segundo Ladrão joga a arma para longe.
— Você tem estilo, imitador, então se me copiou tão bem assim, sabe que não uso armas.
O Primeiro Ladrão joga a sua para longe também e solta Mariana, incrédula.
Eles vão para a pancadaria, rolando no chão como dois adolescentes brigando, aliviando suas raivas com socos fortes e agressivos. Num dado momento da luta, ao perceber que perderia, O Segundo Ladrão saca aquela pistola do calcanhar.
— Estilo 007 não? Posso ser desarmamentista, mas não sou burro, você é mais forte, não iria para essa briga desarmado.
Mas antes de atirar, Bruno aparece dando tiros de aviso. O Segundo faz o mesmo enquanto entrava num carro. Mariana, que estava no fogo cruzado, não foi baleada por que o Primeiro levou um tiro por ela.
O Segundo Ladrão, de dentro do carro grita pra Bruno.
— Vamos, me deixe ir e eu não darei uns tiros na Detetivezinha.
“Que linguajar estranho”. — pensou ela.
Mari encara o Primeiro Ladrão que levou um tiro por ela no chão ensanguentado.
Bruno grita.
— Você pode até ir, mas iremos te pegar, sabe quantos carros sairão daqui atrás de você?
O Segundo Ladrão grita enquanto mostra pra ele um celular.
— Sei sim Detetive, apenas um!
Ele aperta um botão e das redondezas do Museu, Carlos ouve um sutil toque de celular.
—Abaixem-se! — gritou Bruno no rádio comunicador.
E todos os carros da PM explodiram de dentro dos motores. Um grande barulho é feito no interior do Museu e um blindado da Polícia Civil sai cantando pneu!
—Droga, era o blindado com alguns dos artigos verdadeiros! — comentou Carlos.
O Segundo corre na frente com a Pick-Up que estava a sacola que o Primeiro jogou. Sendo seguido logo atrás pelo blindado da Civil. Os dois correram pelas ruas do Rio de Janeiro sem levantar suspeitas.
Mariana algema o Mascarado em seu colo, chamando-o de Primeiro e tirando sua máscara. Adivinhem só? Não é nada mais, nada menos que Fernando Tavares!
Carlos e Bruno se aproximam, querendo entender o que estava acontecendo.
— Vamos para Delegacia, acho que este aqui tem muito a explicar!
Fernando entra numa ambulância, outros carros dos policiais que ficaram na Delegacia chegaram para resgatar e avaliar a situação. Mariana pede pra quatro PM’s acompanharem o suspeito na Ambulância com uma viatura escoltando-a. Ela para outra viatura e pede para Bruno e Carlos a acompanharem.
Antes que Bruno comece com seus questionamentos, Carlos o empurra para a viatura, Mari assume a direção e dirige em direção à Delegacia.