Hábitos Questionáveis

2433 Words
Mariana, ao ligar o carro e sentir a leve brisa entrar no ambiente, arejando a tensão do lugar, simplesmente respirou fundo, pensando em como contaria a eles. — Parece que as coisas fugiram um pouco do controle. — abordou Carlos. — Parece? Você deve estar me zoando. — brincou Bruno — O Primeiro Mascarado, Fernando Tavares, é meu vizinho, vou trata-lo apenas como um suspeito. Mariana simplesmente arremessou no peito de seus amigos a notícia. Ela completou tirando seu distintivo, bem como sua arma, jogando-os ao lado de seus pés. Carlos e Bruno se olham confusos e chocados. — O que? — Como assim? Mariana respira fundo, e enquanto dirige e mantem o foco na pista, encarando espelho retrovisor do meio as caras de dúvida de seus superiores, continua o assunto. — Eu meio que me envolvi com o Fernando. — Fernando? — questionou Carlos. — É o detido, o Primeiro Ladrão? — perguntou Bruno. — O nome dele é Fernando Tavares, ele é um Mecânico freelancer em algumas Retíficas. — E entre uma trocada de óleo e outra, te faz umas visitas com jantas às vezes. — confrontou Bruno. Mariana o encarou. — É... Pode ser que tenhamos nos beijado, mas não transado. Carlos passa a mão no rosto enquanto Bruno encara o teto. — Entenderam? — Que você combate a bandidagem durante o dia e se agarra com suspeitos durante a noite? Sim! — rebateu Bruno. — Não ligue pra ele Mari, vamos prosseguir com a ocorrência, nada sairá da viatura. — afirmou Carlos. Bruno o encara. — Vai contra as ordens de seu superior? — questionou Carlos. — Não tá mais aqui quem falou. — respondeu Bruno. — Eu tenho uma teoria... — disse Mariana. — Sobre? — questionaram. — Eu acho que aquele i*****l se vestiu como o Ladrão e fez esse Show, enquanto isso, o Segundo Ladrão aproveitou-se da ocasião e roubou. — Será mesmo? — Continue Mari. — disse Carlos. — Eu tenho total certeza de que o Fernando fez tudo isso, mas ele não é o Ladrão. Eu só não tenho mais provas por causa do Segundo, mas o Primeiro levou um tiro por mim, enquanto o Segundo sabia sobre o blindado da Civil. Isso não soa estranho? — continuou Mariana. — Como assim? — Ninguém além de nós três e o diretor sabiam deste plano. — respondeu Carlos. — Confie em mim, eu persigo esse Ladrão há oito meses, o Segundo Ladrão, mesmo me ameaçando e fugindo de carro, não era o verdadeiro. Carlos e Bruno entendem a situação. — Também não posso provar, tão pouco nem acusar o homem que levou uma bala por mim de ser o verdadeiro Ladrão. — Como deixamos tantas coisas passar? — pontuou Bruno. — O Verdadeiro Ladrão deve ter alguém interno. — argumentou Carlos — Temos muitos furos, eu sei, mas não acredito num traidor. É bem mais provável que hackearam um dos nossos notebooks pessoais ou que sabe todos os notebooks da delegacia. — Vou mandar fazer algo quanto a isso o mais rápido possível. — respondeu Carlos enquanto mexia no celular. — Eu tive o cuidado de fazer o plano das Obras, somente quando a instalação da nossa Criptografia foi instalada. Por isso é que não acredito num traidor. — pontuou Mariana. — Penso que ou temos um traidor ou um de nós cedeu uma brecha para o Ladrão. — completou Bruno. — Outra pergunta é: Se o Ladrão sempre trabalhou sozinho, quem é o motorista que dirigia o blindado? Bruno encarou Mariana pelo retrovisor e continuou. — Ao menos que ele faça jornada dupla, nós estamos procurando um Ladrão, um Motorista e um Hacker. Eu sei que é só uma teoria, mas é o que eu acho. — Talvez nós mesmos estivéssemos dando as informações sem perceber. — disse Carlos — Vai ver é por isso que ele sempre esteve um paço a nossa frente. — completou Bruno — Assim, voltamos para o início da conversa, talvez aquele burro apaixonado tenha feito tudo isso e o Verdadeiro Ladrão surgiu com os cúmplices, ou ele fez tudo isso e Segundo Ladrão, surgiu. Mesmo não aceitando na hipótese do Ladrão, o Motorista e o Hacker, creio que a segunda hipótese esteja certa, pois o Segundo Ladrão não se parece nenhum pouco com quem estamos perseguindo. Vamos interroga-los e expor ele para a mídia que prendemos o Verdadeiro Ladrão, caso ele for o Verdadeiro, ótimo, se não, o verdadeiro desarmamentista e lutador da justiça ira surgir como sempre, somente para nos insultar e falar algumas bobagens. Entenderam? Carlos e Bruno se encararam. — Eu sei que falei demais, mas é o que penso, vejo que assim, ganhamos em muitas frentes de batalha, não? Carlos e Bruno se surpreendem com a rapidez que Mari agiu, eles ainda estão pensando no plano do assalto que deu errado, mas ela, além de não se abalar, já estava a vários passos na frente deles. “Impressionante”. — pensaram. Ao chegarem à delegacia, Mari para o carro e encara os dois com cara de espanto, sua pele está esbranquiçada e seus grandes olhos claros estão vermelhos e fundos com uma expressão de medo e temor pela morte de Fernando. — Você finge bem, viu? — Respira, se acalma, foi superficial. Vá para o Hospital que nós nos entendemos aqui, boa sorte. — comentou Carlos. Quem não estava nada tranquilo, era Bruno, que assim que saiu da viatura, teve de encarar sua cabeça psicótica trabalhando como nunca. “Já deveríamos estar caçando quem fugiu, além de tentar entender porque o Segundo agiu como tal apenas para Mari não perder o emprego. Eles poderiam tê-la matado, mas não fizeram nada. Por quê?” Assim que entram na delegacia, Carlos corre pra levantar toda e qualquer informação sobre Fernando, bem como buscar dados sobre o motorista do blindado que fugiu com o Ladrão. — Se este for seu último assalto, deixarei os policiais a postos, vou armar um cerco nos portos e nas vias que dão para fora do Rio de Janeiro, assim, não perderemos o paradeiro do Ladrão. — comentou Bruno. Saindo um pouco do clima policial da delegacia, vamos de carona com Mariana que se antes teve a tranquilidade suprema para explicar o que acha que ouve, além de esmiuçar seu caso com o vizinho para Carlos, Bruno e dirigir ao mesmo tempo. Agora, a caminho do hospital, põe finalmente o coração na ponta da faca e voa pelas ruas cariocas com a sirene ligada e o cinto apertado. Em pouquíssimo tempo, ela chega enfrente o Hospital e corre para a recepção. — Sou a policial Mariana Fortes, um amigo foi internado aqui com um tiro durante uma operação. — É o caso do Ladrão de Quinquilharias? — sussurrou a recepcionista. “Que droga, alguém deu com a língua nos dentes”. — pensou ela. — Não é pra ficarem sabendo, mas ele é só uma vitima, entendeu? — sussurrou de volta. — Ah, sim, veja bem, ele está em cirurgia agora, a Senhora pode esperar um pouco ou retornar, ok? — Vou esperar no carro, sem problemas. — Mas são duas horas da manhã, a cirurgia vai demorar, tem certeza? — questionou a recepcionista. — Ele é alguém que vale a pena esperar. — respondeu Mariana. Ciente de tudo, ela se fechou no carro e usou o tempo que teria pela frente, apenas para pensar sobre o caso. Nossa protagonista passou horas do lado de fora do Hospital, cansada, tremendo e morrendo de frio, com sangue de Fernando manchando a roupa tática. Ficou tentando distinguir o que aconteceu com o que ela acha que aconteceu e o que de fato pode ver. “Já são cinco pras seis da manhã, vou entrar”. Mari aproveita o vidro fume e troca de blusa, tentando dar um tapa no visual. Ela sai e corre até o hospital para tomar um café, já que não come desde o roubo ao Museu, o seu delírio pela verdade já incomodava menos que a fome. Ao pedir o pingado, se sentar na cantina e dar a primeira mordida no pão, o enfermeiro que sabe de toda a situação, pois foi quem deu entrada de Fernando no lugar, a interrompe. — Bom dia. Você é a Mariana, certo? O policial que está de segurança no quarto disse que estaria por aqui. — Sim. — Fernando já operou sem problemas e acordou, o primeiro nome que disse foi o seu. Mari engole o lanche enquanto corre para o quarto. Passa correndo pelo policial que deixou de segurança na porta. Ela abriu a porta com toda a velocidade do mundo, encarando Fernando deitado na cama de hospital. Ele olha pra ela como quem pedisse desculpa, tendo culpa no olhar. Mariana aceitou toda a sua desculpa em seu simples olhar. Os dois sabiam conversar sem ao menos falar. E como num dos impulsos que eles tiveram e os levaram até ali, Mari se aproxima calmamente da cama apertando as mãos de Fernando enquanto beija sua testa. Fernando começa a chorar. — Desc... Desculpa. — respondeu emocionado. Mari levemente aperta a cabeça dele contra a cama. — Não faz mais isso poxa, eu achei que você fosse morrer. Fernando olha nos seus. — Eu achei que era você que fosse morrer, no meio daquele tiroteio todo, eu só podia te proteger, pois é assim que um homem deve fazer para com uma mulher, independente do que você pensa, mesmo sendo forte, ainda é uma mulher e eu ainda quero te proteger, queria te mostrar o amor que o mundo pode te dar, mas acho que isso me levou a algo i****a que acabou nos ferrando, não? Mariana sorri. — Seu i****a, eu cuidarei de você até que possa ter condições de mostrar todo esse amor que tanto diz ter. — respondeu. — Assim espero. — segurou a mão dela. Mariana, no entanto, puxou um gravador do bolso. — Mas agora, preciso lhe fazer algumas perguntas, tá? — Isso não pegará m*l para você? — Fique tranquilo, meus superiores já sabem sobre eu e você, não entrará para o relatório oficial, mas nós precisamos saber o que aconteceu, certo? — Nossa! — Fernando se assustou. — O que foi? — Você consegue ficar ainda mais linda quando fala sério. — Não me deixe sem graça, se atente ao foco enquanto estou com o gravador ligado, ok? — Pode mandar. — Então, Fernando, porque você foi até o local e como roubou as obras de arte? O que de fato estava fazendo lá. O ar envolta de Fernando mudou, ele estava mais centrado, ficou mais sério e mantendo o foco. Mariana chegou à levantar sua sobrancelha de dúvida. — Você me disse o que aconteceria se não prendesse o Ladrão. Certo? Então eu comprei a roupa antes do assalto com meu cartão de crédito, você pode conferir no meu próprio cartão. Ao chegar, notei que o estacionamento era o único lugar sem policiais, eu esperei ali para poder entrar, mas a segurança era forte e eu não consegui fazer nada planejado, sabe? Não sou atlético, nunca pulei um muro e realmente não sabia o que fazer por lá, sou apenas intimidador com a altura, o que tenho de corpo, tenho de medo, nem forte sou, tive sorte de encontrar uma bolsa com as obras de arte e o carro que o ladrão estava usando. Você chegou e logo após me ver, disse que eram réplicas, então eu a arremessei bem encimando do carro que o ladrão usaria, assumi o risco de atrapalhar tudo a ponto dele sequer aparecer, mas ele aproveitou a confusão, nos confrontou e sumiu com as obras. Fernando encarou o teto. — Parece que não fiz nada certo. Mariana ergueu a outra sobrancelha que só levanta quando alguém não consegue convencê-la com uma mentira. — Então você quis se entregar pra ser preso por mim e evitar que eu largasse o emprego, e se isso frustrasse o assalto, tudo bem? Fernando balançou a cabeça afirmando que sim. — Mas você ia ser pego de qualquer jeito e iria ter essa ligação entre a gente, não pensou nisso? — questionou desconfiada. Eles cruzaram olhares enquanto ela continuava. — E a sacola? Você vai tentar me convencer que encontrou a sacola com as obras no estacionamento? Após os tiros? O Verdadeiro roubou e deixou lá, você só pegou por engano? Assim, do nada? Os olhos de Fernando brilham ao perceber que ela entendeu tudo. — Sim meu amor, eu simplesmente esbarrei, depois fingi ser o ladrão pra você me prender com vontade caso estivéssemos sendo vigiados ou se algum policial aparecesse, tinha que soar convincente, entende? Por isso você não podia saber, mas ai o Verdadeiro Ladrão apareceu e eu tive que sair do bagunçado roteiro pra te salvar. Eu entendo a sua desconfiança, mas por que eu tomaria um tiro podendo morrer? Essa é a parte da sua teoria que não bate. Olha, eu sei que posso parecer culpado, mas você sabe que não foi eu. — Você é um i****a, só pode! Fernando a abraça de modo que o soro que estava em seu braço é puxando contra e cai no chão. Uma máquina começa a soar. Uma Enfermeira revoltada com o caso entra. — Senhora, peço que volte depois, certo? O paciente levou um tiro quase fatal de uma capsula que vai ser entregue a delegacia antes das doze horas como sempre, ok? O legista da Polícia Civil acompanhou tudo. Mariana desliga o gravador. — Ok, perdão. O casal dá um último abraço. Mas Mariana consegue se despedir com ainda mais dúvidas de quando saiu do que de quando entrou. A Enfermeira, muito estressada arruma o soro na veia de Fernando o espetando com força. — Aí, doeu. — Era pra doer mesmo. Fernando a encarou. — E eu espero mesmo, de coração que essa mulher valha a pena mesmo, estamos arriscando tudo por você e sua aposentadoria maluca. — Pelo menos ela é bonita, não acha? — brincou Fernando. A graciosa enfermeira estava toda arrumada com as roupas mais grossas e pesadas que conseguia usar. Bem como as máscaras e as grandes luvas. Mas ainda assim, dava pra ver que se tratava de uma bela morena de lindos cabelos negros lisos e de olhos chamativos. — Calma minha Pocahontas, em breve o barco sairá e todos vocês poderão curtir a vida em Belize ou no Suriname, vocês estão reclamando de bolso cheio. — rebateu o risonho Fernando que já não estava mais com o semblante de dor.
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