* Anastácia *
.
Passei um sufoco com os bebês nos últimos dias, achei que perderíamos eles, mas ainda bem que não.
.
Marcos está sendo minha principal fonte de preocupação no momento, não consigo pensar em outra coisa a não ser tudo que vi naquela gaveta e o modo com que ele me tratou.
Dona Vera nunca me fala nada, parece estar sempre ao lado dele, enquanto eu fico no escuro sem saber nada.
.
Amanheci com os bebês pulando em minha barriga, e com uma fome danada, me arrumei, coloquei um vestidinho solto, e desci para o café da manhã. Dona Vera me esperava com pães quentinhos, pão de queijo, bolo de chocolate e café com leite, sem contar as milhares de frutas que tinha na mesa.
.
- Bom dia!!! - Marcos fala lendo seu jornal.
- Bom dia! - falo.
- Que delícia esse café! - falo sorrindo para Vera.
- Fiz com muito carinho para vocês! - Hoje é um dia especial! - dona Vera fala sorrindo.
Estranho.
- Dia especial? - pergunto.
- Sim, hoje é aniversário do senhor Marcos! - fala.
- Sério? - falo sorrindo.
- Vera, não tem que estar comentando! - ele fala bravo.
- Hoje é seu dia senhor, e agora você tem os seus filhos, precisa comemorar! - fala sorridente.
- Não comemoro mais! - fala levantando da cadeira.
- Senhor! - ele sai bufando e vai direto para o escritório.
- O que houve com ele? - pergunto.
- Ele não está em um bom dia! - Todos os aniversários ele faz isso! - fala.
- Ele deveria estar comemorando, é mais um fechamento e início de ciclo, tem pessoas que não dão valor para a própria vida! - falo me sentando sobre a mesa e servindo meu café.
- Ele deveria comemorar, estar vivo e bom! - E ele já passou por tanta coisa - ela fala com um olhar triste.
- Como assim? - pergunto franzindo meu cenho.
- Nada não! - fala e sai.
Tomo meu café na companhia dos meus bebês. Assim que termino vejo que Marcos não saiu do escritório, então descido ir até lá. Bato na porta antes de entrar.
- Entre! - fala.
- Porque você é assim? - Tão duro? - pergunto.
- A vida me fez ser assim! - fala com rancor.
- Marcos, eu não sei o que aconteceu com você e também não estou aqui para tentar mudar você, mas quero que saiba que agora, você deve sim, comemorar a sua vida, porque agora você tem duas vidas totalmente dependentes de você, estar vivo é uma benção! - Você já parou para pensar quantas pessoas estão sofrendo em um hospital? - Lutando para viver? - pergunto.
Marcos me olha com um olhar perdido.
- Vai por mim, eu sei muito bem o que é isso! - Agora por favor, me deixe sozinho! - ele fala.
Vejo o seu olhar triste, saio imediatamente e sigo para a cozinha. Tem alguma coisa que não fecha.
.
Marcos saiu para o trabalho, enquanto eu ainda preciso descansar, decido fazer um bolo de chocolate para ele, de aniversário. Dona Vera me ajuda, mesmo achando que ele irá brigar.
.
- Porque está fazendo isso? - dona Vera pergunta enquanto faço o recheio do bolo.
- De onde eu venho, agente comemora nossa vida, e eu quero que isso seja sempre assim, quero que os meus filhos vejam um pai feliz! - falo.
- Nunca ninguém mudou a cabeça dele, você acha que você pode mudar? - pergunta.
Sorrio.
- Acho! - Marcos está mais sensível comigo e eu tenho certeza que ele irá gostar do bolo! - falo convicta que sim.
.
O bolo ficou pronto, e eu deixei em seu quarto, assim que vi o carro entrando no pátio, coloquei alguns docinhos também junto, e uma vela.
Fiz questão de deixar um bilhete escrito “se não quer comemorar a sua, então comemore a nossa vida papai!” E dois corações.
.
Ouvi seus passos indo para o quarto, e logo depois tudo em silêncio. Enquanto estou me vestindo para dormir, ouço uma batida na porta.
.
- Entre! - falo.
- Acho que esse bolo é um pouco grande para mim! - ele fala com o bolo na mão.
Sorrio.
- Obrigada Anastácia! - fala.
- Não precisa agradecer, de onde eu venho, agente comemora cada aniversário! - falo.
Ele inspira profundamente.
- Eu deveria sempre fazer isso, mas nunca faço! - fala.
Olho para ele, ele põem o bolo encima da penteadeira, senta ao meu lado e inspira profundamente.
- Agora você tem um motivo para agradecer! - Aliás dois! - sorrio.
Marcos me olha com um olhar brilhante e abre um sorriso largo.
Ficamos nos olhando por alguns segundos, e logo ele volta a fechar a cara.
- Vamos comer o bolo - fala.
Comemos o bolo, e os bebês já estavam pulando dentro da barriga.
- Que delícia! - Nem a Vera faz igual! - Marcos fala com a boca cheia.
Sorrio.
- Aprendi na internet - falo rindo.
Ele começa a rir de mim.
- Sério? - Achei que você diria aquelas frases clichês, como “aprendi com a minha mãe ou avó” - fala.
- Ahhh isso não! - falo.
- O que foi? - Falei alguma coisa que não deveria? - pergunta.
Levanto da cama e olho para a janela.
- Não! - falo.
Me encolho na janela e fico olhando para a lua.
- Aqui o céu é lindo! - Marcos fala se aproximando de mim.
- Sim - sorrio - As estrelas são mais brilhantes! - falo.