Capítulo 3 - Beijo

1209 Words
Acordei no dia seguinte ainda sentindo o vinho dançando na minha barriga. Eu aprendi a beber cedo, mas nunca foi uma coisa que me agradasse muito. Eu só bebo pra socializar com esses homens com cara de mau que vivem com um copo de whisky na mão, mas que borram a calça quando veem uma pistola de choque na minha mão, e principalmente quando eu digo onde vou colocar ela. Na maioria das vezes é só tamanho que eles têm, e nada mais. E quando eu digo tamanho quero dizer de todas as formas possíveis, mas enfim.. Acordei com vontade de ser turista, de ser uma pessoa normal, então levantei, coloquei um conjunto de moletom e saí do hotel em que estava hospedada. Não avisei Nando, provavelmente ele diria ‘’ain é perigoso ficar perambulando por aí’’. Eu não daria ouvidos, então me poupei, sem falar que provavelmente a essa hora ele ainda deve estar na cama de algum francês, pelo menos ele né Olivia. Eu decidi que visitaria os pontos turísticos e foi isso que eu fiz. Alguns são bonitos e realmente atraentes, porém é extremamente tedioso fazer isso sozinha, acho que Fernando anda sendo tão presente na minha vida que acabo sentindo falta de falar *merda com alguém de vez em quando. _ Você não parece ter gostado muito da vista. A voz eu reconheci de longe, o cheiro também. Pierre estava me seguindo a quase uma hora, eu me perguntei quando ele iria acabar com o péssimo disfarce que estava vestindo. _ Cara, sério que as pessoas pagam pra subir naquela *merda ? Perguntei enquanto olhava para a torre Eiffel. _ Algumas pessoas apreciam estruturas como essa, confesso que eu também me interesso bastante. _ Então você tem um péssimo gosto. Falei sincera. Pierre começou a rir. Eu já falei que ele tem um sorriso lindo ? _ Lamento não lhe agradar em tudo, cara dama. Eu apenas acredito que cada um deve ter um gosto diferente, se não o mundo seria muito tedioso, não acha ? Olhei pra ele com cara de quem não estava muito afim de responder e foi isso que eu fiz. Permaneci olhando a torre e pensando qual seria a próxima iguaria que eu iria comer, se era um croissant com bastante chocolate ou o Pierre. _ Fiquei chateado com a sua ausência ontem, poderíamos ter passado a noite conversando. Disse ele enquanto observava a torre também. _ Eu só imagino o tipo de conversa que você queria ter comigo. _ Espero que a sua imaginação não seja suja.. Disse ele me olhando com cara de cão pidão. _ Suja ? Capaz, aposto que teríamos jogado baralho. Só se for o do kama sutra, mas deixa quieto. Pierre balançou a cabeça e seguimos em silêncio. Virei minhas costas e fui andando, minha barriga estava começando a dar sinal de vida novamente. Às vezes eu acho que tenho uma perna oca, porque não é possível o tanto que eu como durante o dia. Claro, meu treinamento me faz gastar uma quantidade enorme de calorias, sem falar em algumas missões que eu executo nas quais tenho que ficar dias sem comer um prato bem feito de comida. _ Onde vai ? _ Comer. Sentei em um bistrô pequeno, mesmo sendo agente do caos prefiro o silêncio e a tranquilidade às vezes. Ele sentou na minha frente e fez o mesmo pedido que eu. _ Então, Olivia, me conte mais sobre você. _ Você já não sabe de tudo ? Porque se você não souber definitivamente é um péssimo Capo. _ Claro que sei, mas quero ouvir da sua boca atrevida. _ Poxa, que pena que a minha boca atrevida vai ficar cheia de croissant agora, mas se você quiser falar de si mesmo estou a todo ouvidos. Ele começou a rir e preferiu comer também. Eu sei praticamente tudo sobre ele. Sei que tem um irmão que foi exilado por uma suposta traição, coisa que eu duvido muito, sei também que ele já tentou me roubar umas três vezes e sei também que ele tem um agente infiltrado na minha organização. E tudo bem, enquanto eu quiser Pierre terá a cordinha na minha mão, mas quando me cansar de brincar é só descartar. Uma aliança é extremamente importante, mas como ele tem um irmão que provavelmente foi exilado injustamente, eu tenho opção. Qualquer coisa ele sai de cena e o tal irmão assume. _ Você é surpreendente, e come bem. Disse ele enquanto me observava. _ Obrigado, acho que ainda estou em fase de crescimento. _ Mas já é maior de idade, certo? Ele me olhou fixamente. Os olhos *negros brilharam. _ Sim, sou. Mas mudando de assunto, o que você costuma fazer pra se divertir aqui ? Tentei mudar de assunto, se ele realmente pesquisou a meu respeito ele sabe que sou maior. O maior problema de conversas desse tipo é aquele famoso ditado, ‘’jogando verde para colher maduro’’. Isso é muito perigoso. Na maioria das missões em que me infiltro eu uso esse jogo de palavras, começo com coisas que todos sabem, e termino com informações importantes. Porém, às vezes as pessoas me surpreendem. _ Você é *virgem ainda Olivia ? Acho que nem todos os mais de dez anos de treinamento que tenho me prepararam pra uma pergunta tão invasiva. Olhei pra ele na duvida se eu enfiava a colher no olho dele ou se respondia. _ Não consta no relatório que você tem ? Perguntei tentando não gaguejar. _ Você fica linda vermelha. Resolvi ficar em silêncio, as vezes o silêncio é o melhor caminho. Pierre fez o mesmo, e um tempo depois voltei a caminhar pelas ruas de Paris, me sentindo um pouco estranha e desconfortável com a pergunta dele. Acabei parando em um chafariz bem bonitinho até, mas o tanto de casais em seus momentos de romance acabou me deixando enjoada. Senti a mão de Pierre circular minha cintura, já havia passado da hora de ir embora de Paris e mesmo assim eu acabei ficando um pouco mais. A noite já caía e as estrelas começavam a brilhar acima de nós. _ Você vai embora hoje, né? Olhei nos olhos dele, e mesmo o conhecendo pouco senti que havia algo diferente ali. _ Sim, já estou fazendo hora extra nessa cidade. _ Espero que você volte. Disse ele enquanto colocava uma mecha do meu cabelo pra trás da orelha. eu nunca havia beijado um homem, nunca me sobrava tempo pra viver sentimentos, pra sentir. Minha vida inteira foi rodeada de coisas que me foram impostas, e não coisas que eu realmente queria. Talvez seja hora de viver. Aceitei de bom grado o beijo que ele me deu, e mesmo meu coração batendo mais forte que um tambor, me mantive atenta. _ Bom saber que seu primeiro beijo foi meu, tenho certeza que nossa aliança ainda vai render muito.. Disse ele com a testa colada à minha. Não respondi, apenas segui meu caminho. Entrei em um dos carros de soldados que pedi para deixarem a postos e parti em direção ao jatinho da minha organização. Preciso manter meu coração fechado, mas isso não significa que não posso provar mais dos prazeres que a vida pode me dar.
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