➸ Chapter • 04

1086 Words
• 17 de Julho • 2022 • Londres • — Sabe por que está aqui, senhorita Relish? — O psicólogo perguntou outra vez e Niel suspirou profundamente. — Porque o tribunal resolveu que terapia poderia me ajudar — disse, porque sabia que era isso que ele queria ouvir. — E por que o tribunal resolveu isso? Tem alguma idéia? Outro teste i****a, ela pensou. — Porque eu agredi um homem de meia idade. — E fez falsas alegações. Não foram falsas. — Sim — ela disse olhando para o chão. Ela só queria sair dali. — A senhorita tem se sentido bem? Ele não queria saber de verdade e Niel não queria estar ali. — Sim. — Mas quando chegou a Villan a senhorita desmaiou após um surto. Lembra-se disso? Havia sido um erro. Um descuido. — Eu não me senti muito bem após me separar da minha mãe — mentiu, essa era uma das coisas que ela mais queria. — Então teve uma crise por ficar longe de sua mãe? Ele agora pensava que ela tinha mommy issues, bom, ao menos não estava de todo errado. — Mais por saber que irei demorar a vê-la — mentiu outra vez — mamãe tem uma saúde frágil. O psicólogo ergueu uma das sobrancelhas. — A senhorita se sente culpada, por tudo que causou a sua mãe e a sua família? "Me sinto culpada por não conseguir matar aquele velho", ela pensou, mas se aquelas palavras saíssem da sua boca, ele a internaria e aquele velho seria o menor dos seus problemas. — Sim — disse olhando para o psicólogo, um homem calvo que não devia ter mais de 34 anos. — Por que não me fala sobre como se sente, senhorita Relish? "Porque você irá distorcer qualquer coisa que eu fale" — Me sinto bem — mentiu — apenas acho que preciso de tempo para me acostumar a Villan. Ele parecia não confiar no que ela dizia, mas não era como se fosse uma surpresa. — Tem certeza de que se sente bem? — Me sinto tão bem quanto posso me sentir — disse forçando um sorriso, o melhor dos seus sorrisos sociais. — A senhorita tem conseguido dormir bem desde que chegou a Villan? — Outra pegadinha, era óbvio que a resposta era não. Niel acordava no meio da noite com pesadelos, chorando enquanto pensava ainda estar naquela sala. — Sim — sorriu — é um pouco diferente de casa, mas confesso que não está sendo difícil me adaptar. Mentira, mentira, mentira. — Bom — ele disse anotando algo no maldito bloco de notas — e como está sendo para você assistir as novas aulas? Creio que o ensino seja diferente. Ele queria dizer horrível? Se fosse isso, ela concordava. — No início tive problemas para me recordar do que se tratava, estudei alguns dos assuntos a muito tempo atrás — falou com um sorriso no rosto — mas foi revigorante, logo me adaptei e agora consigo acompanhar os professores. O homem assentiu. — Isso deve te fazer bem, manter uma rotina. — Sim. — Sabe que precisa manter a rotina, não sabe? — Ele questionou com a caneta parada sobre o bloco — mesmo que Villan seja uma instituição... Diferente — seus lábios curvaram-se levemente — aqui ainda é um reformatório. A senhorita ainda tem dívidas com a justiça. "A justiça tem dívidas comigo" ela pensou, mas apenas assentiu enquanto olhava para baixo. — Terei certeza de cumprir toda a rotina da instituição. — Ótimo — o psicólogo disse fechando seu bloco de notas — então eu a verei uma vez na semana. Niel sorriu amplamente, mas em sua cabeça tudo que desejava era pular naquela mesinha de centro e voar na cara daquele homem. Ela queria esmagar o rosto dele contra o chão e pisar em seu pescoço até ouvir o som dos ossos se quebrando. Ele havia falhado, ele havia, assim como todos, ignorado sua dor. Ele era um psicólogo, como poderia nem ao menos cogitar que todos estavam mentindo? Era o trabalho dele enxergar além dela, além do que tentaram fazer com ela. — Certo — ela disse levantando assim que ele o fez — então até semana que vem, senhor Watson. O homem sorriu. — Até semana que vem. A porta do consultório se fechou quando ela saiu e Niel respirou profundamente sentindo seus pulmões voltarem a funcionar como deveriam. Estava tudo bem agora, ela não precisava mais fingir. — Uau — uma voz rouca e nitidamente embriagada murmurou — que mudança drástica de expressão. A garota olhou para o lado, para o que parecia um cadáver jogado ao chão. Havia tantos chupões pelo pescoço pálido da garota, que ela se perguntou se ele havia trepado com uma garota possessiva ou com um sanguessuga do antigo Egito. No fim não importava, ela iria ignorá-lo. — Hey — ele chamou, os lábios rosados agora sangrando quando ele sorriu e fez um pequeno corte se abrir — você sempre foi m*l educada assim? — Com idiotas como você? Sempre — respondeu sem rodeios e o moreno jogou-se para o lado no banco. — Não sabe lidar com piadas, docinho? Como pretende sobreviver em Villan? Os olhos de Niel fixaram-se nele e sua voz se tornou baixa e turva quando ela disse. — Sou uma Relish, se sobrevivi a minha família, Villan não é nada. O moreno sorriu, um sorriso carregado de interesse e curiosidade. — Sou um Leblanc — ronronou — sei bem como isso funciona. O rosto de Niel se contorceu. Leblanc, até ela conhecia o sobrenome e sabia o que queria dizer. — Me poupe — resmungou e sem dar chances ao moreno de olhos insuportavelmente verdes, ela se foi. Leblanc possuía apenas 3 herdeiros. Marc Leblanc, 32 anos, cabelos castanhos e humor complicado. Havia tantas polêmicas sobre ele em relação a assédio que apenas a menção do seu nome fazia o estômago de Niel embrulhar. Genny Leblanc, 27 anos, princesa da casa Leblanc, a única filha do atual CEO e também a responsável por importação na Inglaterra e de estabilizar a família no mundo da moda. E por último, Ian Leblanc, 17 anos. O próximo CEO da família, o jovem que foi preso pela primeira vez antes dos 13 e desde então se envolvia em um escândalo após o outro. Niel não queria estar envolvida com ele, não queria se envolver com aquela família. Ela era podre e de podre, já bastava a podridão da família Relish. ෴ ♛ ෴
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