Narrado por Lobo Beto apagou no sofá do jeito que tava, boné no chão, caneta agarrada na mão como se fosse espada. Dormia torto, perna pendurada, boca entreaberta, aquele ronquinho leve de moleque que não tem noção do perigo que carrega na pele. Fiquei de pé, encostado na janela, olhando o morro. Lá fora, a favela ainda respirava: fogão de lenha aceso, rádio tocando baixinho um pagode perdido, criança chorando em algum barraco mais distante. Mas dali de cima eu só via sombra. O breu do morro parecia me reconhecer e eu reconhecia de volta. Traguei o cigarro, deixei a brasa iluminar meu rosto e, por um instante, olhei pro moleque dormindo. O peito dele subia e descia lento, como se tivesse paz. Paz… palavra que não existe no meu vocabulário. Foi aí que a memória veio como bala perdida at

