Narrado por Roberto Monteiro Albuquerque Deixei a Lara em casa, vi o portão fechar e fiquei parado dentro do carro. Farol apagado, motor ligado, a mão pesada no volante. Por dentro, a vontade era de voltar, subir correndo, segurar ela e dizer que nada nunca ia acontecer. Mas eu não sou esse homem. Não posso ser. Pai mole é filha morta. Engoli o nó, engatei a marcha e voltei pro único lugar onde sei respirar: a 9ª DP. A delegacia de madrugada é sempre a mesma cena: corredor fedendo a café requentado, fumaça de cigarro velho grudada nas paredes, gente de olhar cansado fingindo que ainda acredita em justiça. Meu passo ecoava pesado no piso gasto. Quem me viu, desviou. Eu não sorrio nessas horas. Não cumprimento. Só passo. Empurrei a porta da minha sala com força. O paletó voou pro encosto

