Narrado por Roberto Monteiro Albuquerque Henrique ainda tava me olhando, braços cruzados, como quem pesava cada palavra que eu tinha cuspido. O silêncio da sala tava grosso, dava pra cortar com faca. Foi aí que ele inclinou um pouco a cabeça, baixou o tom e soltou: — E aí… como foi o passeio com a Lara? Por um segundo, meu corpo inteiro travou. Era como se ele tivesse enfiado a mão no meu peito e puxado a corda que eu tento esconder debaixo da farda. Respirei fundo, tirei os olhos dele e caminhei até a cadeira. Sentei pesado, esfreguei a mão no rosto e deixei escapar: — Preciso fazer mais vezes. — minha voz saiu baixa, arranhada. — Minha menina tá crescendo, Bastos… e eu tô perdendo. Henrique ficou quieto, só me olhando com aquele jeito de quem não julga, mas não solta fácil. — Ela

