Chegamos cedo. A clínica ficava fora do morro, numa área onde ninguém nos reconheceria. Eu permaneci calada durante todo o caminho, a mão gelada dentro do bolso, tentando não encarar o futuro que se aproximava com cada quilômetro rodado. Kay também não disse nada. O silêncio entre nós não era mais aquele tecido de tensão e desejo, mas uma espécie de espera sufocante, onde cada segundo parecia pesar o dobro. Na recepção, preenchi os papéis tremendo. Nome. Idade. Data da última menstruação. E, lá no fim, uma pergunta que queimou meus dedos: "possível pai presente?" Escrevi sim. As letras borradas pelo suor da minha mão denunciavam mais do que eu gostaria. Quando a enfermeira me chamou, Kay se levantou junto, mas parou na porta. Me olhou em silêncio e respeitou o limite. Eu entrei sozinha

