Coloquei a camisa da ONG como quem veste uma armadura. O tecido simples parecia pesar toneladas sobre meus ombros. Prendi o cabelo, passei base grossa pra esconder o inchaço do rosto e encarei o espelho com frieza. Respirei fundo, tentando lembrar de todas as vezes em que engoli o choro e segui em frente. Essa teria que ser só mais uma. No caminho até o núcleo, o mundo parecia comum demais pra alguém que carregava o peito em pedaços. As crianças riam nas calçadas estreitas, o bar do Joaquim já soltava um samba no fundo, dona Néia lavava a entrada de casa com a mesma calma de todas as manhãs. Tudo igual. Só eu não. Assim que cheguei, Marcele foi a primeira a me ver. — Bom dia, Ju. Dormiu um pouco? — perguntou, ajeitando uma pilha de caixas. — Dormi, sim. — menti, sem hesitar. Ela sorr

