A rua já começava a esvaziar quando deixei a ONG. As crianças ainda brincavam de correr atrás da bola na calçada, mas os portões já se fechavam, os bares enchiam aos poucos e o céu se pintava em tons de cinza e laranja. O dia tinha sido longo, e a cabeça pesava como se eu tivesse carregado o morro inteiro nos ombros. Coloquei os fones, mas não dei play em nada. Só queria fingir distância, como se os cabos enfiados no ouvido dissessem ao mundo: não me chama, não me olha, não me encosta. O som que me acompanhava era só o dos meus próprios passos contra o cimento gasto da ladeira. Foi na esquina da minha rua que vi. Ela estava ali, encostada no corrimão da escada de cimento, como quem tinha escolhido aquele ponto de emboscada. Short jeans justo, top vermelho, blusa amarrada na cintura, cabe

