Kay me esperou terminar um atendimento. Ficou encostado no batente da porta, girando a chave da moto entre os dedos, até que se aproximou com aquele meio sorriso que escondia mais do que revelava. — Vamo ali comer comigo? Não pensei duas vezes. O corpo pedia descanso, mas a mente pedia mais ele. Precisava mudar o cenário, respirar outro ar. Descemos a ladeira juntos, sem pressa. O sol ainda estava forte, castigando os muros descascados, mas uma brisa leve passava por entre as casas, trazendo cheiro de feijão de panela e de roupa recém-estendida. Kay caminhava em silêncio, até que a mão dele procurou a minha. Segurei sem dizer nada. Às vezes, silêncio também era resposta. — Pensei em te levar na pensão da dona Odete. Já comeu lá? — Nunca. Só peguei marmita uma vez. — Então bora. Hoje

