23. Julia

870 Words

Não contei pra ninguém. Nem pra Gabi, nem pra Vera, muito menos pra ele. Escondi o teste no fundo da gaveta, dentro de uma caixa antiga cheia de papéis velhos, como se o esconderijo fosse suficiente pra calar a verdade. Segui a vida, ou pelo menos, tentei. Por fora, eu ainda era a Júlia de sempre. A coordenadora do núcleo, a mulher que sorria pra comunidade, que revisava relatórios e fazia reuniões. Mas por dentro, cada passo parecia falso. Um reflexo. Eu me movia, eu respondia, eu existia. Só não estava inteira. A cabeça não desligava. Contava semanas em silêncio. Refazia cálculos sempre que pegava no celular. Pensava em nomes, mesmo sem querer. Sonhava com silhuetas que nunca vi. E acordava no meio da madrugada só pra colocar a mão na barriga, como se precisasse do toque pra acredita

Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD