( Jato particular, sobre os Alpes, A caminho de Milão.)
O jato estava tão frio quanto minha raiva. Marco estava na cabine de comando, ligado. Eu estava na cabine principal, encarando Serafiny, que folheava uma revista de moda como se estivéssemos indo para a praia e não para uma invasão.
Eu odiava ela com força. O fato de ela saber que Sebastian estava vivo era a única coisa que a mantinha viva.
“Dá para parar de fingir que é turista?” eu disse, largando a revista que estava lendo. “Vamos ser claras. Você é a ‘Sombra’ do meu pai. O que isso significa para mim? Quem mais te dá ordens? E como você sabe que Sebastian é refém e não um traidor?”
Serafiny suspirou, fechando a revista. Pela primeira vez, vi a tensão por baixo da pose de madame.
“A lealdade do seu pai era para a sobrevivência do Clã. Meu trabalho era garantir que os inimigos da Sicília estivessem sempre ocupados. Eu sou o contato com a Camorra e a Ndrangheta.
Eu mando na informação, não nos homens. E não respondo a mais ninguém.”
“Seu pai disse que Sebastian era isca. Você disse que ele é refém. Qual é a diferença?”
“A diferença é o preço. Seu pai não precisava do seu marido morto; ele precisava de você de volta, no Trono.
Seu marido, o Sedutor, tem acesso a informações que seu pai queria longe dos urubus. Ele está vivo, mas preso, por um grupo que não é a Camorra, mas que está agindo no leste,” Serafiny explicou, com a voz baixa e séria.
“Os russos?”
“Ou pior. Mas isso não é a nossa prioridade. A primeira pista para Alice está no cofre secreto de Milão. Se não pegarmos, nunca vai saber quem moveu Alice e quem matou seu pai.”
Fiquei enjoada. O assassino. Mais uma peça no jogo.
“Meu pai foi envenenado. Foi o que Marco me sussurrou. Foi você? Você tem mais cara de ser a envenenadora do que eu,” desafiei.
Serafiny me olhou com uma tristeza que parecia real. “Eu não o matei. Eu era leal a ele. Mas eu sei que o assassino está muito perto, no seu círculo mais íntimo. O cofre secreto em Milão não tem dinheiro. Tem um monte de documentos sobre a traição que expõe o assassino e o plano dele.”
A resposta parecia verdade, mas na Máfia a verdade é só uma arma afiada. Eu tinha que aceitar.
Milão: A Galeria de Ossos
Chegamos em Milão. Esta cidade era puro dinheiro e moda. Meu disfarce era um simples casaco preto, mas meus olhos gritavam “Executora”.
O alvo: o Museu de História Antiga. Um prédio clássico, guardado não por seguranças da Máfia, mas por uma segurança top de linha do governo, cheia de câmeras. Era perfeito.
“Onde é o cofre?” perguntei, enquanto Serafiny me guiava pelas ruas frias.
“Na sala das antiguidades egípcias. O cofre está dentro de um sarcófago que seu pai comprou há dez anos. Ninguém toca nele,” Serafiny respondeu.
“Como a gente entra?”
Serafiny sorriu, e desta vez o sorriso era de pura maldade e profissionalismo. Ela tirou um aparelhinho eletrônico do bolso.
“Seu pai me deu os códigos de acesso à rede de luz e internet da cidade.
Podemos desligar a energia de toda a área por 30 segundos, ou podemos entrar sem fazer barulho. A segurança funciona com sensores de pressão e calor. Precisamos nos mover como fantasmas. Eu tenho a experiência. Você tem a força e a autoridade para nos tirar de lá, se formos pegas.”
Olhei para ela. Ela era boa demais. Isso era perigoso. “Meu pai te ensinou a lutar?”
“Não. Meu pai me ensinou a sobreviver. Eu sou a Sombra, lembra? Mas se for preciso, eu sei lutar.”
Minha desconfiança era uma dor física. Mas eu tinha que aceitar. Eu precisava dela.
“Vamos do meu jeito. Você desliga o sistema de segurança por 30 segundos, não o quarteirão inteiro. O caos chama atenção. O silêncio é nosso amigo.
Marco fica fora. Ele não entra. Você e eu. Você com sua inteligência, eu com minha Beretta.”
O Alarme Silencioso
Entramos no museu por um túnel de serviço que Serafiny conhecia. Ela desativou os sensores infravermelhos com uma precisão assustadora. Eu me movia com o silêncio da Executora. Éramos uma equipe. Uma equipe baseada na traição em dobro.
Chegamos à sala egípcia. Estátuas e múmias. O sarcófago estava lá, no centro. Serafiny se aproximou e tocou nele num lugar secreto. O sarcófago abriu, revelando uma porta de metal com dois buracos para chaves.
“O cofre secreto,” Serafiny sussurrou, tirando uma chave antiga do pescoço. “Minha chave. A chave do segredo.”
Tirei a minha chave, que eu usava como um pequeno colar. “A chave da Executora,” eu disse.
Colocamos as chaves e giramos ao mesmo tempo. A porta abriu com um clique satisfatório. Lá dentro, havia um único envelope de couro e um pequeno aparelho GPS.
Serafiny pegou o GPS. “Este é o próximo passo para Alice. É o rastreador. Vai nos dar a localização em tempo real.”
Eu peguei o envelope. Dentro, não havia dinheiro. Apenas documentos e uma única foto antiga e desbotada.
A foto era do meu pai, o Capo Corleone, muito mais jovem. E ao lado dele... minha mãe, a Senhora Corleone. E no verso, uma letra bonita:
“O primeiro a trair é o único que pode reinar. O assassino está em casa."
“O que é isso?” Serafiny perguntou, olhando por cima do meu ombro.
Ignorei ela, olhando para a foto. Minha mãe. Eu pensei que ela tinha morrido num acidente de carro quando eu era criança. Mas a mulher na foto tinha o mesmo olhar frio de poder.
“O que tem nos documentos?” Serafiny insistiu.
Abri os documentos. Relatórios de gastos, transferências de dinheiro... e uma lista de nomes. O último nome da lista estava riscado em vermelho. O nome do meu pai. E embaixo, uma anotação: O veneno.
Olhei para Serafiny, o gelo nos meus olhos endureceu. “O assassino… não é um Urubu. O assassino é um dos nossos. Alguém que meu pai colocou perto de mim.”
“Ou alguém que você colocou perto do seu pai,” Serafiny rebateu, os olhos fixos no envelope.
O aparelho GPS que Serafiny segurava começou a piscar. A localização de Alice.
“Temos a pista. Vamos sair daqui,” ordenei.
Serafiny assentiu, respirando mais rápido. “O rastro de Alice nos leva para Paris. A Cidade Luz. O último lugar onde a Máfia procuraria por ela.”
“Vamos para Paris. Mas agora, Serafiny, eu não confio em ninguém. Não na minha família. Não no meu marido. E, com certeza, não em você. Se me levar a uma armadilha, eu te mato antes de morrer,” avisei