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Caminhos Cruzados

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Blurb

O morro do Paraíso é o inferno na terra em que vidas se perdem e se cruzam no sobe e desce das escadas. A comunidade local sofre todos os dias com a violência desenfreada, dentre eles está Tina, uma garota que anseia por outra realidade e se vê cada dia tentando sobreviver para escapar ilesa junto com sua família.Um dia uma bala perdida atravessa a pessoa errada... Como sair do morro quando agora ele tem algo que ela quer: Vingança.

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Capítulo 1 - Tina
Prólogo Tina Oliveira Tudo começou com um tiro. Um projétil de uma pistola de 9mm pode percorrer 500 a 600 metros por segundo. A bala atravessa uma frigideira de ferro fundido e um livro de mil páginas, ela cruza sofá e cama como se não fosse nada. Não muitos lugares para se esconder, entende? Um fuzil te dilacera antes que você possa tomar sua última lufada de ar, e te mata em até 1.500m de distância. Nos filmes, após levar um tiro, sempre tem o cara que levanta e continua atirando pra todo lado, geralmente é aquele que vence no final. Na vida real você fica no chão e sente tanta dor que não consegue pensar em qualquer outra coisa, isso é claro, se você sobreviver. Se, por um milagre de Deus, destino ou sorte a bala entrar e sair sem atingir nenhum órgão vital ela ainda vai destruir tudo ao redor: músculos, nervos e vasos sanguíneos. Você vai sangrar até a morte se ninguém te socorrer. Mas como eu sei de tudo isso? Eu levei um tiro. Só que diferente dos meus exemplos ele não atravessou um livro ou uma frigideira antes de chegar em mim. Ele atravessou uma pessoa. A mesma bala que passou pela carne de Cris passou pela minha. Eu estou viva, ela não. Agora, preciso garantir que quem atirou também não esteja. Capítulo 1 – 15 semanas antes Eu odeio escada. Não é um ódio bobo de quem é sedentário e sobe de vez em quando, fica ofegante e solta um “porr4, odeio escada.” Não, meu ódio é genuíno, real, e acima de tudo, justificável. Eu subo oito lances de escada todos os dias no morro onde moro. Desde a base, até o topo. Claro que existem ruas, vielas, becos e até uns pedaços asfaltados no começo onde um carro de cada vez consegue passar, mas para quem mora mais fundo e mais alto não tem opção, é ladeira atrás de ladeira e muita escada. Estou na metade do caminho agora para a minha casa apoiada na lateral do bar do seu Chico, um velho gordinho que vive sem camisa mostrando seu abdômen sexy e peito cabeludo pra quem quiser ver. Olho para o céu azul e desejo mais uma vez o dia em que eu possa sair daqui e morar numa casa normal. Não preciso de muito, não quero uma mansão, apenas uma casa em que eu não fique completamente aterrorizada quando chove pensando que o teto vai desabar na minha cabeça e o chão vai sumir sob meus pés. Um lugar seguro onde minha irmã possa crescer sem ouvir tiros todos os dias e ver drogas sendo passada de mão em mão. Um lar. Eu sei que Dani só pode ter isso de mim, não vai vir do meu pai que só Deus sabe quem é, do dela que é um pedaço de merda podre que fico feliz de não estar nas nossas vidas, ou da minha mãe que passou a vida inteira trabalhando duro e agora m*l consegue andar sem dor, velha demais para viver. Eu só não sei como eu vou fazer isso ainda, meu salário de 400 reais de auxiliar de farmácia pode até ser que cubra o aluguel de uma quitinete, que já seria pequena para três pessoas, mas não cobre alimentação, água, luz... Coisas básicas para se viver. Eu não sei como vou fazer mas mesmo sem saber eu sei que vou. Não tenho outra opção, o moro do Paraíso não é um bom lugar para se viver. Sinto um cutucão no meu ombro e olho para o lado assustada que fosse algum bêbado i****a. Para minha sorte, é só Cris. - Quanto mais enrolar pra subir, pior fica, você sabe disso – lembra ela. Seu cheiro peculiar de chiclete me atinge e não importa o quanto eu pergunte, Cris não me diz o nome do perfume que tem esse cheiro. Suspiro tomando um gole da minha garrafa de água. - Nem todo mundo tem o ânimo que você tem – resmungo passando a mão na testa suada. O sol do Rio de Janeiro é diferente. Tenho quase certeza que o inferno perde pra esse lugar. Cris balança a cabeça rindo, seu cabelo repicado com mechas roxas balançando em seus ombros. Cris é o completo oposto de mim, extrovertida, excêntrica, ousada. Como acabamos melhores amigas eu não sei... Na verdade sei sim, é o que acontece quando você tem uma vizinha que compartilha a mesma idade e nome que você. Se uma Cristina já não fosse problema o suficiente, duas eram. Ainda mais quando elas passam anos brigando por causa do nome. Eu queria muito que Cris fosse o meu apelido, mas Cris nasceu primeiro, então meu argumento foi vencido e tive que me contentar com Tina. Não é tão r**m uma vez que você se acostuma. Nessa vida e nesse lugar você se acostuma com muita coisa, as vezes, coisas que não deveria. - Vem, que o Chico já tá te olhando torto – Chama Cris me puxando da parede precária e suja que eu estava me apoiando. Chico tinha uma tolerância bem baixa sobre mulheres perto do seu bar. Retomo minha subida para casa pelas escadas infernais. Quando chego no beco escuro e úmido que leva para a minha casa respiro um pouco aliviada que conseguimos fazer tudo isso mais uma vez sem nada de errado ter acontecido. Nenhum tiroteio, nenhum cara esquisito esperando na esquina, nenhuma pessoa morta. Alguns dias são até normais. Apenas um dia no morro. Considerando tudo que eu já vi acontecer o que o que ainda aconteceria eu deveria saber que dias normais não duravam, não nesse morro abandonado por Deus. Cris entra na sua casa capenga e meia torta, o cimento esburacado da parede lateral onde a massa não foi alisada, a parede da frente com a tinta amarela descascando e a porta de madeira quebrada. Eu entro na minha não muito diferente da dela, exceto que a tinta descascada é azul. Mesmo que o beco seja úmido por não pegar sol pelas casas se amontoarem umas sobres as outras, minha casa é quente. Extremamente quente e abafada...Tente crescer com rinite alérgica em um lugar assim. Eu já não sei o que é respirar direito há muito tempo, e tenho certeza que deixo metade do meu salário na farmácia todo mês com antialérgico e soro para o nariz. Olho para a nossa sala/cozinha, apesar dos móveis simples tudo é razoavelmente organizado e limpo. Minha mãe já não consegue trabalhar em tantas faxinas como antes então ela cuida da casa sempre que pode. E Dani aprendeu a manter suas poucas coisas arrumadas para não sobrecarregar ninguém, é uma boa menina. A casa, como sempre nesse horário, está vazia. Dia de quarta mamãe trabalha e Dani está na escola. Decido comer algo antes de ter que ir para o trabalho e vejo o almoço de hoje que não é diferente do de ontem. Arroz, feijão e ovo... A comida dos campeões. Eu deveria estar grata na verdade, tem crianças nesse lugar que não podem ter o luxo de um prato de comida no almoço. Comem na escola de manhã o que o governo dá e depois só a noite se for um dia bom. Estou no sofá terminando minha última garfada quando Cris entra sem cerimônia. Ela já é de casa mesmo. - Eu acabei de ver ele – ela diz se jogando ao meu lado. Ele. Só ele. Eu não sei nada sobre o garoto, só tenho uma leve interesse o que Cris descobriu e agora me perturba sobre isso. O que eu sei é que já esbarrei com ele muitas vezes no sobe e desce do morro, sei que ele deve tomar muitos banhos por dia já que seu cabelo escuro parece permanentemente molhado. Sei que ele deve ter a minha idade pois reconheço uma mochila escolar. E sei que sempre que o vejo ele sorri pra mim, mas nunca fala comigo. Eu nunca falei com ele em parte por vergonha e em parte por que a falta de informação é perigosa por aqui. Você deve saber com quem vai falar antes de falar. Não dá pra correr o risco de falar com a pessoa errada. Mas na minha cabeça eu chamo ele de João. Afinal, eu devo ter 80% de chance de estar certa. João Vitor, João Vinicius, João Lucas, João Paulo... São muitos. Na minha cabeça eu me imagino falando com ele, perguntando seu nome e se quer sair daqui tanto quanto eu. É um pensamento arriscado. Quando Cris nota que não teve resposta, afinal eu evito encorajar suas fantasias ela continua. - Ele sorriu quando me viu, parece simpático, aposto que falaria com você se tentasse... – - Não vou falar com ele, Cris – respondo dando fim nessa discussão que já tivemos um milhão de vezes. - Você precisa viver, Tina... E daí se não sabe quem ele é? É só uma conversa – continuou. Cris não entendia a forma como eu via o morro, acho que ela já normalizou demais a vida aqui e isso me assustava um pouco. Não queria que isso acontecesse comigo, não queria me conformar. - Vou me atrasar se não me arrumar, tem comida na panela – avisei saindo da sala e indo para o banho. Água gelada pra economizar luz e apaziguar o calor. Com o cabelo molhado saio do quarto uniformizada e percebo que Cris não está em casa. Pego minhas coisas e me preparo para mais escadas. A descida sempre é mais fácil, pelo menos. Já na porta me deparo com a mãe de Cris, tia Floriza. Ela está em sua eterna briga com a vizinha da frente, dona Hortência. São duas mulheres beirando os seus sessenta anos que vira e mexe se comportam como crianças. Eu chamo de “A grande guerra das Flores.” O motivo? Ninguém sabe. Aquelas duas brigam faz anos e sempre por um motivo diferente. A briga da semana é por causa do som. “Deus está aqui nesse momento, sua presença é real em meu viver...” Posso ouvir um padre cantando sobre o amor de Deus saindo a todo volume da casa de Cris, enquanto da casa da frente toca uma mulher cantando funk igualmente alto. “Larguei minha família, a escola, você sabe. Parei com a maconha, tô usando crack.” As duas estão encostadas em suas portas, mas como moramos em um beco o espaço entre uma casa e outra é mínimo, uns 3 passos no máximo. - Eu só quero que você baixe o som, essa música é muito feia Hortência! A Cris vai ouvir... – Reclama tia Floriza com uma colher de p*u na mão manchada de molho. - Aquela garota já ouviu muito pior – responde dona Hortência com um cigarro na mão baforando na cara de tia Floriza. Rio silenciosa da escolha de guarda roupa de dona Hortência. Um short de ginástica com estampa de onça e um top faixa rosa fluorescente. Seu corpo magro e ossudo quase não preenche a roupa o suficiente pra ela ficar no lugar. “A maconha te engorda, use o crack que é mais light. Tô usando crack.” A mãe de Cris fica tão furiosa que aperta o terço que carrega no pescoço e balança a colher como se fosse bater na dona Hortência. - Eu acredito que toda alma tem salvação, mas a sua tá condenada ao fogo do inferno, Hortência – diz tia Floriza, que de tanto balançar a colher, respinga molho no pescoço de dona Hortência. Dona Hortência inflama as narinas, limpa o pescoço e joga o cigarro na porta de Cris. Em seguida uma cacetada de palavrão sai da sua boca. Palavras que eu nunca nem tinha ouvido falar. - Quer saber? Vai a merda, Floriza, não tenho paciência pra essa sua cara azeda – finaliza dando as costas pra tia Floriza com uma leve requebrada ao som do seu funk. “Vou perder os meus amigo, se prostituir faz parte. Tô usando crack.” Tia Floriza se benze com a colher de p*u com os olhos arregalados de espanto. A música é tão absurda que chega a ser engraçada. Tenho certeza que dona Hortência tá querendo dar um infarto em tia Floriza com a música mais escandalosa que achar. Saio dali antes que a loucura fique contagiosa. Quinze minutos depois estou entrando na farmácia do bairro que fica ao lado do morro. Apenas quinze minutos de caminhada tornam tão diferentes a vida de quem vive aqui de quem vive lá. Aqui por exemplo, tem um hospital perto. Não é um hospital chique com tudo que precisa já que vira e mexe falta remédio básico, mas já é algo. Tem uma emergência e centro cirúrgico caso a gente precise. E, acredite, as pessoas do morro precisam muito. É um bairro que mesmo simples eu gostaria de morar. Começo meu trabalho rapidamente preenchendo as prateleiras e limpando tudo. Não sei por quanto tempo terei esse emprego, farei dezoito em breve e duvido que vão assinar minha carteira e me pagar um salário mínimo. É mais fácil arrumar outra jovem aprendiz e continuar pagando menos pra fazer tudo que eu faço. Afinal, foi o que me trouxe até aqui quando a auxiliar anterior chegou a maioridade. Ouço a porta abrir e fechar de algum cliente entrando e me levanto do chão deixando o estoque de lado por enquanto. Preciso estar disponível para caso o cliente queira ajuda. Travo no lugar quando vejo quem é. Claro que em algum momento isso aconteceria. Seus olhos escuros se arregalam quando me vê, penso eu que de surpresa. - Boa tarde, posso ajudar? – Faço minha pergunta padrão decidindo ser profissional e fingir que não o conheço. - Boa tarde – sua voz é uma mistura de voz de menino com voz de homem. Aquela fase estranha quando a voz do garoto começa a engrossar, mas não completamente então em algumas partes ela falha e parece um pouco mais aguda que o resto. Olho para ele esperando. Pouco tempo depois, ainda que o suficiente para que brevemente se instalasse um clima estranho, ele responde. - Eu preciso de curativos, bandagens, álcool e remédio pra dor, por favor – responde ele. Fecho os olhos por um momento. Tento pensar que é um pedido estranho, mas pra quem mora no morro, sabe. É um pedido bem comum feito por pessoas que estão envolvidos com coisas que não deveriam. Silenciosamente o conduzo pelos corredores com uma cesta na mão pegando seus itens. Ele me acompanha com a cabeça baixa. Após o último item entrego a cesta em suas mãos. Ele pega e continua parado me olhando. - Mais alguma coisa? – pergunto no automático já decidindo não dar continuidade nessa interação. - Só o seu nome – pede ele. Olho pra cima. - O que? – pergunto confusa. - Seu nome... Eu te conheço do morro, seria bom saber seu nome – responde ele dando de ombros. Não quero dar meu nome. Ainda mais depois do que ele vai levar daqui. Nesse momento me lembro de Cris que sempre dá um nome falso para caras que ela não quer uma relação muito profunda, mas perto o suficiente para que quando chamada não haja confusão da sua parte. Perdi as contas de quantas vezes ela deu o nome de Tina. - Cris – respondo devolvendo a ela o favor pela primeira vez. Cris é o meu nome, não ele completo, não como me conhecem. Mas ainda é meu nome. - Não quer saber o meu? – Ele pergunta. Quero responder que não. Que não quero saber mais nada dele. Cris teria coragem de responder não. Mas eu não era Cris. - Claro, por que não? – respondo como se não fosse grande coisa. É grande coisa. - Gustavo – responde ele. Ok, não é João. Valeu o palpite. Aceno positivo e espero. Aparentemente Gustavo se toca que não vai ter mais conversa e se despede. Agora eu tenho o nome que antes queria, mas a confirmação do que eu não queria. Eu deveria ficar longe de Gustavo. *** “Quase toda a estupidez de nosso comportamento decorre da imitação daqueles a quem não podemos parecer.” – Samuel Johnson *** Se você está gostando da história deixe um comentário como incentivo, obrigada!

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