05- INCIDENTE

2759 Words
Safira Nosso pequeno encontro, vamos chamar assim essa noite estranha, começou estranho. Saímos todos no mesmo carro. Meu irmão foi dirigindo, sozinho, já que na parte de trás do carro Matteo e eu estávamos desconfortáveis por aquela situação que, só não foi pior, pelo fato de o carro ser grande o bastante para acomodar dois homens grandes. Mas isso não fazia diferença para mim, meu tamanho me permitia ficar confortável até mesmo em espaços pequenos. Porém, ali, mesmo com certa distancia, eu podia sentir o calor que emanava daquele corpo. _ Mat! – Vanessa o cumprimentou assim que entrou no carro. _ Olá! – Ele respondeu de volta, educadamente. _ Safira? – Ela achou estranho eu estar ali. _ Olá. – Cumprimentei-a timidamente. _ Que bom vê-la! Faz tempo que não saímos juntas. _ Sim. – Fui evasiva. Eu e ela tínhamos alguns segredos que era melhor não compartilhar com os outros dois ali dentro. _ Ela está morando conosco agora, não é legal? – Meu irmão disse, todo empolgado, após dar um beijo demorado nela. _ Acho que não, não sei como me sentiria se morasse com dois homens. _ É minha irmã, então eu não conto. _ Tanto faz amor. São dois homens do mesmo jeito. Eu não sei lidar com tanta testosterona de uma única vez. _ Sakura é diferente. Às vezes acho que ela é um menino. _ Só às vezes? – Brinquei com ele. _ Sakura? – Matteo estava confuso. A forma como ele disse meu apelido me deixou tremendamente sem ar. _ Sim, eu a chamo assim desde que ela era uma criancinha irritante. Ela parecia com uma personagem de desenho que tinha esse mesmo nome. _ Berenice também me chama assim, ela acha que combina mais comigo. – Acrescentei. _ Ela tem razão. – Matteo disse para mim, mais sensual que de costume. Seus olhos estavam fixos na única pétala que escapou pelo decote do vestido que usava. Toda a minha tatuagem estava coberta, até mesmo a parte dos ombros, já que o vestido tinha mangas curtas. Nada muito senhoril, pelo contrário, era até jovial e feminino. O decote era delicado e mostrava pouco de meus s***s, a cintura era marcada pela junção das duas partes que compunham a roupa e a saia era levemente rodada, não chegando a cobrir meus joelhos, mas em um comprimento que mostrava o necessário de minhas coxas. Mesmo assim, os olhos de Matteo pareciam muito interessados em mim. Ele estava me cantando? Céus, por quê? Eu ri, mais de desespero do que de alegria mesmo. De alguma maneira, eu deveria arrumar um jeito de cortá-lo antes que fosse tarde demais para nós dois. Mas não àquela noite. _ Obrigada! – Sussurrei de volta, um sussurro um tom mais sensual do que o dele. Ele estremeceu. Foi bem de leve, mas o bastante para eu perceber os pelos de seu pulso arrepiarem. Eu ri toda devassa, ainda no jogo dele. _ O que houve? – Pietro estava alerta. _ Nada, só lembrei de algo que me aconteceu recentemente. – Menti, piscando para Matteo. _ Acredito. – Disse desconfiado. Ignorei-o. O resto do caminho eu fiquei apenas ouvindo a conversa dos três, sentindo-me intrusa. Preocupada, mandei uma mensagem para meu pai avisando que estávamos fora de casa. Ele quis mais detalhes, mas disse que ainda não sabia onde meu irmão nos levaria e assim que tudo tivesse definido, eu o avisaria. Mandei-o ficar de olho no rastro do meu telefone, assim ele poderia prever onde iriamos já que ele sabia dos gostos de seu filho. Jantamos em um restaurante japonês. O mais caro da cidade e um dos tantos pertencentes ao meu padrinho, Takashi Nakamura, que estava presente. Não pude deixar de cumprimentá-lo, muito menos minha mentora, ao seu lado, linda como sempre. Como a maturidade lhe caíra tão bem! Alias, todos os dois ainda eram encantadores, apesar dos muitos anos de vida. A história de amor por trás deles era uma fonte de inspiração para mim e, apesar de ser um tanto quanto promiscua para muitos, eu sonhava em viver algo assim. Takashi não deixou que jantássemos na mesa em que Pietro havia reservado, acabou nos levando a uma das mesas temáticas, aquelas mais baixas em que tínhamos que sentar ao chão. Foi tão reconfortante poder reviver essa pequena parte de meu treinamento. Bem, pelo menos para mim. Os outros três não pareciam felizes, muito menos confortáveis em sentar no chão. Eu sofri muito até me acostumar a sentar na postura adequada, agora nem sentia mais. _ Sintam-se felizes. O jantar será por minha conta. – Takashi disse assim que serviram a mesa. _ Muito obrigada, padrinho! – Agradeci-o em uma profunda reverência. Houve um breve silêncio de estranheza entre os três. Eu, por outro lado, já estava me servindo com aquele banquete de comida típica japonesa, sem as interferências nacionais. _ Quem é ele? – Vanessa estava curiosa. _ Ele é o chefe da família Nakamura. Dono desse restaurante e padrinho de minha irmã. Foi ele quem sugeriu que Sakura passasse um tempo com sua esposa, para acalmar seu temperamento. – Pietro explicou. Eu estava ocupada demais comendo. _ Quando você fala Nakamura, é daquele Nakamura? – Vanessa ainda estava confusa. _ Sim. – Meu irmão foi taxativo. Eu vi os olhos de espantos dos outros dois. Eles deviam saber da fama que ele tinha. Não me importava. Parte de eu estar ali era culpa dele depois que assumiu boa parte do controle da cidade. _ Seu japonês é muito bom. Já pensou em ir trabalhar conosco? Você seria uma mão na roda. – Vanessa me perguntou, trazendo a conversa para algo mais leve. _ Pelo que tudo indica amanhã eu começo como secretária de Matteo. – Respondi-a sem retirar os olhos da comida. _ Sério, quando eu ia ficar sabendo disso? _ Amanhã. – Dei de ombros. _ A comida está boa? – Matteo me perguntou. Um sorriso leve um sua voz. _ Ótima! – Respondi-o em g**o. Ele riu ainda mais, aquele sorriso sensual que me dera quando nos conhecemos. Voltei meus olhos de volta para a comida antes que pudesse fazer algo errado. _ Vejo que também sabe usar essas coisas melhor do que eu. – Vanessa estava se sentindo humilhada. _ Relaxe, eu tive rígidos e bons professores. Penei um pouco para aprender, mas hoje parece natural para mim. _ É até um pouco sexy a maneira como você os coloca na boca, junto com a comida. Parece uma poesia vê-la comer desse jeito, não é mesmo, Mat? – Ela provocou. _ Uma sexy, mas extremamente delicada poesia. – Ele a respondeu me encarando. Céus! O que aquele homem queria comigo? Desta vez, eu realmente fiquei vermelha por conta de seu galanteio. Eu devia estar cômica, com as pontas dos palitinhos na boca e a delicada tigela de arroz na mão, porque ele abril ainda mais seu sorriso e eu apenas parei de respirar por um leve segundo. Pietro riu de mim, ruidosamente, sendo acompanhado pelos outros. Bem, Vanessa estava rindo como ele, mas Matteo ainda me encarava provocante. Cansada, devolvi o olhar, ainda mais avassaladora enquanto chupava os palitinhos, provocando-o. Foi minha vez de rir de seu engasgo. Comemos bem àquela noite. Meu padrinho nos mandou tudo do bom e do melhor até que estávamos visivelmente satisfeitos. Como prometido, não tivemos que pagar a conta. Fiquei ainda mais feliz e prometi que faria uma visita e eles em breve. De lá partimos para uma casa de shows que havia ali perto. Como era domingo, não estava muito cheia, o que ajudou na hora de eu dar uma superficial varredura no local. Meu instinto me dizia que havia alguma coisa muito errada ali. Fiquei atenta a todo o momento. O que foi bom. Consegui ser evasiva nas investidas de Matteo enquanto dançávamos juntos. Não tanto quanto eu gostaria, estava ficando difícil resistir àquela boca delícia a centímetros da minha, mas eu prometi a mim mesma que não me envolveria com ele e assim gostaria de permanecer. Depois de algumas músicas, ele e Pietro trocaram olhares suspeitos e ambos saíram para buscar bebida. Pedi apenas uma água, já estava um pouco tonta por conta da quantidade de saquê que havia bebido antes. Vanessa e eu continuamos dançando, juntas, para não atrair terceiros. Foi assim que eu o vi. A princípio eu não reconheci o cara, mas logo me veio à memoria o dossiê de meu pai e as fotos que ali continham. Juntando isso ao fato de o cara não retirar os olhos de meu protegido, logo eu me lembrei de onde eu o conhecia. Me insinuei para ele, chamando sua atenção. Ele me notou logo e sorriu para mim. Sorri de volta. Ele me chamou para mais perto. Sem me preocupar com os outros, eu fui até ele. Jogar com ele foi fácil. Ele era um alvo, não um protegido, e também não tinha todo o poder que emanava de Matteo. Consegui fisgá-lo fácil com meu modo v***a. Logo ele estava inteiramente voltado para meus encantos, esquecendo completamente que deveria estar ali para matar Matteo, ou, pelo menos, tentar prejudicá-lo. Levei-o até onde foi necessário. Quando ele me sugeriu para irmos até os fundos da danceteria, eu aceitei sem fazer charme. Não me arrependi em nenhum momento, mesmo quando Pietro me olhou irritado e Matteo decepcionado. Este último foi o que pareceu mais problemático. Entretanto, levando-se em conta onde eu estava e o que estava prestes a fazer, ignorei-os. O homem e eu acabamos em um beco m*l iluminado. Ele saiu primeiro pela porta dos fundos. Não esperei que ele se virasse para agir. Retirando a pequena faca de minha coxa, caminhei até ele. A primeira pontada foi em suas costas. Ele se assustou com o que estava acontecendo. Com um olhar que eu sabia ser diabólico, eu retirei o objeto de sua carne e cravei em seu ombro. Assustado, o homem caiu de joelhos. Ótimo! Não precisaria me movimentar para o próximo movimento. Com êxtase, enfiei a faca em seu pescoço. Sentir o sangue quente em minhas mãos era algo que sempre me acalmava. Talvez, por isso, eu tenha me dado tão bem em minha profissão nada peculiar. Só por garantia, cravei a lâmina mais algumas vezes no peito do homem antes de limpá-la em seu casaco. Eu estava devolvendo-a para minha coxa quando Matteo apareceu, bravo. Ignorei-o. Peguei meu telefone na pequena bolsa dependurada em meu ombro e digitei: “Uma joia foi encontrada, preciso de alguém para levá-la ao cofre.” Sabia que a pessoa que receberia a mensagem entenderia. Eu teria ficado e confirmado a entrega da mensagem se Matteo não tivesse agarrado meu braço com força. _ Está me machucando. – Grunhi para sua mão. _ O que diabos está fazendo aqui? – Ele estava a ponto de estourar. _ Meu trabalho. – Apontei meu queixo para o homem caído. Ele seguiu meu comando. _ Você matou um cara? – Agora ele estava fascinado _ Foi pra isso que me contratou, não? _ Foi, mas... – Confuso. _ Sem mas. Erraram em não te matar. Farei com que continuem errando. – Eu olhei séria para ele. Ele entendeu o meu recado, mas não soltou meu braço. _ Quer fazer o favor de soltar o meu braço? – Quase gritei. _ Quietos! – Uma voz masculina nos repreendeu. Reconheci o homem vestido de preto do tempo em que treinava. As sombras estavam mesmo por perto. _ Eu cuido daqui, entrem, estão chamando muito a atenção. – Ele ordenou seco. Matteo não precisou ouvir duas vezes. Sem me soltar, me puxou pelo braço até a porta. Pelo canto do olho eu pude ver o sombra derramar um líquido no corpo e logo atear fogo nele. Tive um breve arrepio de prazer quando vi o desgraçado em chamas. _ Preciso ir ao banheiro. – Levantei minhas mãos. – Não quero sujar mais meu vestido, eu gostei dele. Matteo viu o que queria dizer e, com presa, me puxou para o banheiro masculino. O único sem filas. Entrei sem me preocupar com os caras e respirei mais aliviada quando ele me soltou. Com calma, lavei minhas mãos até que julguei limpas e analisei meu reflexo no espelho a procura de manchas. Irritado, Matteo molhou sua mão e passou-a sobre meu pescoço; o único lugar com uma mancha aparente. Caralho! Quase surtei só com o toque daquela mão. Imagina com o resto? Ficamos presos nessa sensação por um longo momento. Longo até demais... _ O que está acontecendo aqui? – Pietro nos pegou ainda entorpecidos. Com pressa, Matteo terminou de me limpar. Eu fiquei quieta, amando aquilo tudo. Quando se deu por satisfeito, respondeu para meu irmão: _ Ela matou um homem. – Ele estava confuso. _ Já? Quem era? – Pietro estava curioso. _ Um dos caras da lista que papai me deu. – Eu disse caminhando até a porta. – Vão ficar parados aí? – Perguntei ao notar que os dois ainda estavam no mesmo lugar. _ Não, estamos indo. Eu vou levar Vanessa até a casa dela e depois vamos para casa. Tudo bem? – Pietro falou primeiro. _ Já esperava isso. – Disse segurando a porta para eles. _ Em casa conversamos. – Matteo sussurrou ao passar por mim. Revirei os olhos para o nada. Esse trabalho não ia dar certo. O clima no carro foi melhor do que eu esperava, mesmo Matteo estando com um ar soturno por conta do que tinha acontecido. Eu não liguei. Deixei-os conversando durante todo o caminho, primeiro uma conversa animada entre os três e depois um sussurro misterioso entre os dois homens. Quando Vanessa desceu, Matteo assumiu seu lugar no banco da frente, deixando-me quieta com meus pensamentos. Fiquei tentando imaginar o que os dois tanto sussurravam. Será que tinha algo a ver comigo? Não fiz questão em saber, estava cansada. Aproveitando o isolamento, eu mandei um e-mail para meu pai relatando o que tinha acontecido e que em breve lhe enviaria outro com mais detalhes. Mandei um para Berenice também. Queria saber como fora a noite dela e contei um pouco da minha, excluindo a parte de Matteo e o assassinato. Ela me respondeu logo, falando que havia encontrado um deus essa noite e que estava extremamente chateada por não poder levá-lo para casa por conta de minha irmã, que, mesmo assim, levou um homem lindo para o apartamento dela. Berenice estava indignada pela proibição unilateral de Rubi. Eu nunca a havia proibido de fazer isso e que estava sentindo falta de mim. Eu respondi dizendo que não era a mesma coisa sair sem ela e que também estava sentindo falta dela. _ Não vai descer? – Pietro disse com a porta ao meu lado aberta, seus olhos indecifráveis. Odiava quando ele me olhava daquele jeito. _ Faz questão? – Provoquei-o _ Não seja boba, você mora aqui agora. _ Infelizmente. – Eu desci do carro. Ele fechou a porta e me acompanhou até o elevador. Matteo segurava a porta para nós dois. Fiquei o mais longe dele possível naquele cubículo de vidro. Quando ele abriu a porta do apartamento, passei por ele apressada. Antes de subir, fui até a cozinha e peguei uma pequena garrava de água da geladeira. Nem fechei a porta de meu quarto quando entrei, já fui direto retirando os sapatos, deixando-os pelo caminho, jogando a pequena bolsa no chão. Parei em frente à mesinha, colocando nela todas as joias que estava usando. Ainda de costas para a porta, prendi meu cabelo em um coque bagunçado, segurei o meio do vestido nas costas com uma mão e com a outra puxei o zíper até seu fim. Livre, deixei o vestido no chão e fui me livrar do meu sutiã. _ c*****o! – Matteo soltou perturbado. Me virei e dei de cara com um Matteo desconsertado olhando para mim, seminua. Seus olhos foram do tentador desejo a inesperada raiva antes de ele se virar, sair de meu quarto e bater minha porta. Havia esquecido que ele tinha me dito que iriamos conversar quando chegássemos em casa. De todo o jeito, não íamos mais. Dei de ombros para o nada. Peguei a mesma blusa que dormira na noite anterior e a vesti. Enquanto terminava de me preparar para dormir, busquei a foto do homem que havia matado. Ao encontrá-la, mandei um relatório mais completo para meu pai, que seria meu supervisor durante todo esse meu trabalho. Ele me deu uma breve resposta positiva e, só então, fui dormir.
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