Capítulo 1
— Muito bem, aceita essa missão?
Bryan a olhava fixamente ao lhe delegar a missão. Angélica o encarou tamborilando os dedos nos braços cruzados. Só Deus sabia o quanto ela odiava aquele homem e ele a ela. Bryan não passava de um velho soberbo, o típico senhor da lei, lembrava aqueles xerifes do velho oeste sempre disposto a qualquer coisa em nome da lei. Para ele, ela não passava de mais um soldado que teria que cumprir sua missão ou morrer tentando.
— Nunca disse não a uma missão, não seria a essa que eu diria.— Angélica disse em um tom passivo, disfarçando sua ansiedade em sair dali, a mínima respiração de Bryan a irritava e não era fácil ficar no mesmo local que ele.
— Esta será sua missão mais arriscada, vai torna-se uma ladra profissional com o único intuito de infiltrar-se em uma das maiores organizações criminosas do país. Controlam a cidade e boa parte dos polícias. Dois dos nossos já morreram tentando prendê-los. Espero que saiba o risco que está correndo. — Bryan a avisava apenas por avisar, sabia quem era Angélica e o quanto arrogante era para nunca aceitar um conselho seu.
Odiava suas insubordinações, odiava tudo nela até mesmo a forma como o olhava, como se ele não passasse de um monte de merda em seu caminho. Ah, ela era repugnante, mas uma fortaleza viva tinha que admitir, toda missão dada a ela era cumprida sem erros ou incidentes. Por isso lhe delegava essa missão, era perigosa e fazia questão de que ela o soubesse. Enfrentaria o “rei do crime” do mundo real, era loucura e sabia, mas se tinha uma pessoa que podia fazer isso era a mulher a sua frente e o porquê ele sabia bem. Angélica não tinha medo, não tinha amor pela vida e nada a perder.
— O que pensa que faço aqui? Fico brincando de agente do FBI? Ou me escondo atrás de um balcão e fico mandado os outros fazerem o serviço sujo por mim. Considere a missão cumprida. — Angélica respondeu possessa de raiva, suportava tudo nesta vida menos que a subestimem.
Bryan entendeu a indireta que recebera, sentiu-se cansado, em outros tempos ela jamais falaria assim dele, mas a idade chega a todos. “Garota estúpida podia ao menos tratá-lo com o mínimo de educação ”, pensou revirando os olhos impaciente.
— Ótimo infiltre-se e descubra tudo sobre eles. Sabemos quem são os principais, precisamos de mais nomes, fragrantes perfeitos e só alguém de dentro pode nos dar isso. Levara algum tempo eu sei, tenho certeza de sua eficiência.
Angélica olhou com deboche nos olhos, aquele velho tinha certeza que ela faria o que tinha que ser feito e ela sabia o porquê, já provara a ele que não mediria esforços para cumprir suas obrigações. Respirou fundo e continuou o ouvindo aquela sala pequena com apenas uma janela de vidro que dava para a rua a sufocava. Os portas retratos sobre a mesa do tempo que Bryan era uma agente de campo como ela, provavam o quão eficiente e perigoso foi um dia.
— Alan e Steve estarão sempre por perto se precisar. Vão fazer o monitoramento para você. — Bryan sabia que ela o odiaria mais por isso, mas eram as normas ela não podia simplesmente entrar nessa assim sozinha e totalmente desprotegida.
A frieza no olhar de Angélica por vezes o assustava. O que o tempo fez a essa criatura. Bateu a caneta por sobre a mesa e desviou o olhar do dela, não gostava de fixar o olhar no dela por muito tempo.
Angélica era linda encantadora, traços perfeitos, parecia desenhada milimetricamente cada detalhe de um rosto e formas perfeitas. O corpo de uma atleta que dependia da boa forma para se manter viva. Ainda assim era um pequeno monstro sem alma, carregando nada além de ódio e revolta em si. Que vida desperdiçada.
— Preferia fazer tudo sozinha, mas pelo visto não tenho escolha.— Angélica sentiu raiva, colocar dois idiotas, novatos sem o mínimo de experiência em suas costas, logo colocariam tudo a perder e isso custara caro aos três.
— É um trabalho em equipe, minha cara. Espero que saiba o que isso significa. — Bryan tentou conter a ironia ao falar, mas ela fluio natural e venenosa por seus lábios. Sabia que ela gostava de trabalhar sozinha, por medo de ter que prejudicar a missão tendo que proteger os outros.
— Não vou cuidar deles, não vou poder fazer nada por eles se algo der errado.
— Eles vão cuidar de você. Monitoramento lembra?— Ele tentava conter a irritação que cada olhar arrogante lhe causava.
— Sei mais essa agora duas babas.— Angélica revirou os olhos e bufou. “Isso não daria certo”, pensou.
— Trate como desejar no mais Ashley lhe passará mais detalhes. Boa sorte. — Bryan falou ao lhe estender a mão que ficou no ar sem ser pega, então meio constrangido a abaixou forçando-a sobre a mesa.
— Não preciso de sua sorte. — Angélica virou-se saindo batendo a porta atrás de si.
— Tudo bem. — Brian disse ao ver a porta bater, arrumando alguns papéis por sobre sua mesa, grato por ela sair dali.
Brian odiava ter que confiar em Angélica, ou pior, depender de Angélica era imprudente e sabia disto. Não podia negar sua eficiência em cinco anos nunca falhara em uma missão.
— Garota irritante. — Resmungou ao desabar em sua cadeira, bufando tentava recuperar sua calma.
— Perdoe-a a vida foi muito dura com ela. — Ashley sorriu ao entrar na sala, carregando alguns papéis para ele assinar.
— E continuara sendo se ela continuar agindo assim. — Bryan a encarou com o canto dos olhos. Ashley era tão doce que lembrava uma pequena criança sonhadora a qual era impossível olhar sem sorrir.
— Acho que Angélica só precisa amar alguém e ser amada, só assim poderá ser feliz. — Ela lhe entregou os papéis assinalando onde ele devia assinar.
— Uma sonhadora romântica é isso que você é. Angélica jamais amaria alguém, parece odiar a tudo e a todos. — Ele jamais a vira sorrir direito. Quem seria capaz de romper essa barreira entre ela e as pessoas a sua volta?
— Ela já amou Bryan e muito. — Ela recolheu os papéis e lhe sorriu.
— E isso a destruiu. Acredite ela não fará isso novamente. — Bryan agradeceu por ser o último documento a ser assinado, odiava a burocracia que vinha por de traz de tudo, a qual ele sabia que nunca ajudou sempre o atrapalhou.
— Pois eu espero que o faça. — Ashley o olhou sentado a sua frente, perguntando-se de onde vinha tanto ódio.
— Não sei como gosta dela. — Bryan desabafou por fim, fixando seu olhos nela.
— Ela nunca foi má para mim, posso dizer que ela até me trata bem. — Ashley sorriu para Bryan que revirou os olhos antes de lhe responder.
— Sei já vi ela gritar com você tanto ou até pior que comigo. — Não conseguiu conter o ar de deboche ao lhe responder.
— Só estava de mau humor, ela não é essa víbora que você esta pintando não. — Pode ver o ar entrando em seus pulmões, a irritação sendo contida. Ashley lhe olhou séria, tentando não arredar pé, queria que ele visse que estava jogando Angélica para morrer em uma missão dessas. Assim como fez com sua irmã um dia.
— Não ela é muito pior, muito pior.
Ashley jamais entenderia quem é Angélica. Ashley era calma, meiga, doce e delicada. Como e por quê ainda se prestava ao fato de tentar sem sucesso ser amiga de Angélica mesmo depois de tudo que ela lhe fez era incompreensível.
— Andei investigando e consegui algumas fotos de alguns dos membros da quadrilha que vai prender. — Angélica estava entrando em um ninho de cobras e ela nada podia fazer. Frustrada colocou as fotos por sobre a mesa de Bryan.
— Talvez a “víbora” goste dessas fotos. — Bryan tentou fazer graça, mas recebeu um olhar repreensivo em troca.
— Ai estão Richard Litovick e Andrei Litovick o terceiro é Iron Staness é capanga de confiança dos dois. Richard é filho de Andrei. Há quem diga que ele mata qualquer policial que se aproxima de sua organização. Como fez a minha irmã.
— Ele vai pagar por tudo que fez a Sophie. — Bryan sentiu seu sangue ferver ao ver a dor nos olhos de Ashley. Sophie era uma agente de campo perfeita ele a colocou em uma missão não tão arriscada como a de Angélica e a pobre moça tinha pagado caro sua falha.
— Vai? Eles vão matar Angélica como fizeram com Sophie ou ainda pior. São conhecidos por torturar e matar várias de suas vítimas. Ainda assim quer que Angélica enfrente isso?
— Ela já aceitou, Angélica vai se dar muito bem nessa missão. Fique tranquila.
— Eles são procurados na Rússia Andrei Litovick fugiu de lá durante a guerra fria.
— Todo esse tempo e se quer foi preso. A Rússia esta ficando menos rígida com o passar dos anos.
— Aqui esta o relatório que fiz sobre ele. — Ashley lhe entregou uma pasta branca com vários documentos e fotos.
— Bom trabalho, Ashley. — Disse ao vê-la dirigindo-se para a porta, ela apenas lhe sorriu e saiu fechando a porta.
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Ashley resolveu passar na casa de Angélica era um domingo e com certeza ela estaria sozinha, vendo tv ou lendo um livro, ou ainda pior jogando vídeo game. Odiava a mania dela de ficar presa o dia todo dentro de casa jogando jogos de guerra.
— Boa tarde, flor. — Ashley sorriu fingindo não perceber a irritação de Angélica ao lhe ver. Realmente não entendia como alguém podia viver em uma casa como aquela tão escura e fechada. Bom, talvez combinasse com ela.
— Ótimo, entre, sente-se. — Angélica falou sem o mínimo de sinceridade, seu tom era irônico e voz áspera.
Ashley sentiu-se desconfortável, mesmo assim entrou e sentou de frente para ela. Tinha que dar o braço a torcer era uma bela casa espaçosa e requintada apesar de tudo.
— O que estava fazendo? — Tentava puxar assunto para quebrar o silêncio entre elas.
— Vendo um filme qualquer. — Angélica sabia o que ela fazia ali e a adorava por isso, mas nunca desejou que alguém se sacrificasse por ela. Era domingo e apostava que ela tinha mil coisas mais legais para fazer do que ficar ali com ela.
— Esta um lindo dia lá fora, podemos ir a praia, caminhar um pouco. O que acha? — Ashley falou empolgada, ainda guardava esperanças de retirar sua amiga da depressão em que se encontrava.
Sua amiga era tão linda, aqueles lindos olhos verdes água estavam amargurados e sem brilho, distantes, sua pele branca estava pálida pela falta de sol, até seu cabelo n***o como o carmim estava sem brilho. Era agressiva e arredia e apesar dos gestos frios e indelicados fora capaz de tudo para salvar sua vida e jamais esqueceria disto.
— Estou bem aqui, vai você. — Angélica revirou os olhos. Era tão difícil deixa-la sozinha assim e em paz.
— Tá bem então, mais um filme horroroso de guerra então?— Ashley esboçou um meio sorriso contrariado. Odiava aqueles filmes carregados de sangue e atrocidades, embora gostasse da temática segunda guerra mundial preferia mil vezes uma boa comédia a toda aquela violência.
— Você sabe que não precisa fazer isso. Sacrificar seu domingo ao lado de uma pessoa como eu. Vivo bem sozinha, gosto de ficar assim. — Angélica era sincera, embora a solidão a sufocasse em alguns dias.
— Sei, ninguém pode viver assim. — Ela entortou a boca e fez uma careta, não suportaria uma vida assim.
— Eu posso. — Angélica cruzou os braços decidida, mas nem ela acreditava nisso.
— Um dia vai ver quanto tempo perdeu com sua amargura, por hora vamos falar da única coisa que lhe mantem em pé: Trabalho. — Retirou uma pasta de sua bolsa. Quando tudo falhasse ela tentaria o que ela detestava, mesmo assim insistia em fazer. — Estas são as fotos de Andrei e Richard Litovick os comandantes da cidade e os assassinos de Sophie.— Colocou as fotos sobre a mesa de centro da sala.
Angélica ficou paralisada ao ver a foto de Richard era tão lindo que a deixou hipnotizada, ficou ali parada olhando a foto por alguns segundos sem poder se quer se mover. Seus olhos azuis eram tristes e grandes, sua pele era bronzeada, os cabelos pretos um pouco cumpridos e abundantes, o corpo duro e musculoso, ele era muito alto, exibia um olhar distante na foto que parecia ser tirada em uma praça qualquer, ele parecia um atleta qualquer e não um dos bandidos mais procurados do pais. Há muito não sentia desejo por alguém, mas sentiu por ele, incrível como ele a atraia, nunca sentira algo assim ao ver uma simples foto.
— Nossa Richard é lindo e tem um brilho nos olhos algo diferente não sei dizer o que, talvez pareça deslocado, angustiado, não sei, preso. — Angélica m*l conseguia soltar a foto.
— Bonito ele é mesmo. — A surpresa por ouvir o que ela tinha dito foi tamanha que por um momento esqueceu que era do assassino de sua irmã que elas estavam falando, quando voltou a si disse. — Não há nada de deslocado no homem que matou Sophie e jogo seu corpo no mar, sabe que nunca vou encontrar seu corpo.
— Sei. Vou prendê-lo, ele e seu pai, todos eles um a um. Acabarei com a festa deles. Não mataram mais ninguém, morreram em uma cela podre e fétida como eles. — Angélica já podia ver o dia em que tudo aquilo acabaria, mas sentiu algo muito r**m ao ver Richard preso sozinho definhando num presídio qualquer.
— Eles já mataram dois dos nossos.
— Não serei a terceira. Acabarei com eles. — Angélica engoliu em seco quando uma pequena lagrima brotou nos olhos de Ashley.
— Não tenho dúvidas disto. — Ashley sabia do Angélica era capaz, sentira na própria pele quando fora sua companheira de missão.
— Vingaremos sua irmã, ele pagara, tenha certeza. — Angélica assegurou, mesmo sabendo que vingança não leva a lugar algum, não diminui a dor e não trás ninguém de volta só aumenta a culpa.
— Sabe que o odeio pelo que fez a Sophie, ainda assim preferia que você não entrasse nessa missão. Não quero perder você. — Ashley olhou bem nos olhos dela e falou calmamente, embora tremesse por dentro.
— Não sou Sophie, não vou ser descoberta, vou acabar com eles e serei a melhor agente do FBI já teve. Serei tudo que sempre quis e terei tudo que...
— E do que isso tudo adiantará continuara sozinha e amarga. Precisa abrir seu coração amar e ser amada. Precisa ser feliz Angélica. — Ashley interrompeu irritada com tanta mentira. Não era nada do que sempre quis e ela mais ninguém o sabia.
— Eu não preciso disso, ao contrário do que você diz o amor não faz ninguém feliz só traz dor e sofrimento. O amor me transformou no que sou hoje. Goste você ou não.
— Correção a falta dele a deixou assim. É hora de virar a pagina e recomeçar. Vai ser melhor para você. — Ashley levantou-se e a encarou. Não desistiria dela assim tão fácil.
— Amor é para os fracos, fui fraca não sou mais. Não preciso dessas futilizas. — Nem ela acreditou em sou frase. Cruzou os braços e desviou o olhar de Ashley.
— Classificar o amor como fútil, isso sim é fraqueza. Tem medo de amar novamente, tem medo de sofrer. — Ashley aumentou seu tom de voz irritada com o caminho que ela decidiu trilhar.
— Não tenho medo de nada, essa sua adoração por amor me cansa. — Angélica repugnava essa mania dela em querer convencê-la a se machucar de novo, a sangrar e desejar morrer para não sentir mais aquela dor a lhe rasgar a alma.
— Um dia espero que você entenda que só o amor vale a pena em nossa vida. Não vale a pena viver sem amor.
— Discordo plenamente. — Mentiu sabendo que a única vez em que fora feliz, que sua vida valeu a pena foi quando tinha seu amor ao seu lado, mas isso fora há muito tempo.
— Querida vai me dar razão cedo ou tarde. — Ashley disse isso e saiu era tudo que podia fazer para não mata-la, já estava morta mesmo. Um mero corpo sem alma a vagar por ai.
Angélica fechou uma porta e voltou para uma sala a foto de Richard estava sobre uma mesa de centro. Segurando ela em suas mãos ficou ali a olhar o homem que lhe atraia, que provocava uma curiosidade nela que jamais havia sentido.
Quem seria esse homem? Por que ele lhe despertava esses sentimentos? E o mais importante como ele podia ser tão lindo?
Ela sentiu que já o conhecia, ele não parecia ser apenas um rosto lindo demais em uma foto em lugar qualquer. Richard parecia ser alguém que aquecia seu frio coração lembrando lhe como era sentir algo novamente.
Teve medo e soltou a foto, mas aquele olhar estava em sua mente. Durante os dias que se seguiram ele ficou ali e toda vez que fechava os olhos era o rosto de Richard que ela via. Angélica fez toda uma preparação para uma missão como se ele estivesse ali a observar. Era loucura demais e ela sabia, mas podia sentir ele mais perto dela a cada dia.
Angélica entraria na organização de Andrey disfarçada de ladra para isso ela executaria um grande roubo no maior banco de sua cidade. Andrey encararia aquilo como uma afronta a sua autoridade e ela seria seu mais novo alvo. Com sorte ele iria intrega-la a sua organização e com a azar sentencia-la a morte. Mas eles tinham que arriscar. Porque era uma forma única de atrair a atenção dele.
Andrey era conhecido por suas mãos de ferro para controlar seus negócios. Sua organização abrangência o país todo e fora dele. Andrey tinha todos os criminosos em suas mãos, nada acontecia sem sua permissão. Cada roubo, cada assassinato era liberado e comandado por ele. Os alvos eram seus e os objetivos sempre seriam do seu interesse. Por isso uma ladra que vem do nada e rouba o maior diamante dentro do banco mais seguro de sua cidade lhe chamaria tanto atenção. Era muita audácia em uma só pessoa e ela teria que pagar, ou trabalhar para ele.
E é aí que tudo começava.