VERSÃO DE EDGAR:

1070 Words
NARRAÇÃO EDGAR STURDART: Eu nem devia estar ali. Sinceramente, se não fosse o Cadu me encher o saco, eu teria passado a noite no hotel. Ele disse que era só uma reunião de amigos, uma despedida simples, sem nada demais. E eu pensei, caramba… seria na casa dele, que m*l poderia acontecer? Mas olha o destino, sempre me fodendo. Eles armaram. E quando a vi… quando a p***a dos meus olhos reconheceram o impossível… lá estava ela. Clarisse... Minha Clarisse. Como ele a descobriu? Que brincadeira de m*l gosto era aquela? O sangue ferveu na mesma hora. Olhei pro Cadu como se fosse matá-lo. — Que p***a você fez? Ele piscou, rindo, sem entender nada. — Um presente pra você, gostou? Presente? Que tipo de merda passava na cabeça dele? — Como você achou ela? — Achei quem, p***a? ele gargalhou, mas a risada morreu quando percebeu a seriedade no meu rosto. — Tá maluco?você já tá bêbado? é sério? a gente m*l começou. Eu já tinha me levantado, tirando o casaco do corpo. Caminhei até ela, ignorando tudo ao redor. Estendi o tecido. — Veste isso. Cadu estava atrás de mim, logo perdeu o sorriso. — Espera aí, Edgar… o que tá acontecendo, irmão? — Para essa música. minha voz saiu dura, ríspida. Ele me encarou sem entender. Tocou no meu ombro. — Relaxa, cara… — Não me toca, p***a! explodi. O silêncio veio pesado quando a música foi cortada. O ar ficou denso, como se todos ali tivessem entendido que algo sério estava acontecendo. Ela, no entanto… só me olhou com aquele vazio que me destruiu. — Eu fui contratada. A voz dela foi como gelo rachando. — Vou ou não fazer o show? Aquilo me rasgou por dentro. Ela… falando assim comigo? Segurei o casaco mais firme, jogando ele contra o peito dela. — Veste. Seu corpo estava todo exposto. Ela só pegou de si e negou. — Eu não preciso disso. Cadu deu dois passos, ainda perdido. — Edgar, fala comigo, cara… — Tira eles daqui. Agora. meu tom foi de ordem. — Se ainda quer que eu considere essa amizade, leva todos eles daqui agora! Ele ergueu as mãos, nervoso. — Tá… tá bom, só relaxa. Era só uma brincadeira, eu vou tirar eles daqui. Aos poucos, os outros foram saindo, enquanto ela se afastava e pegava um sobretudo, cobrindo o corpo com uma calma que me matava mais do que qualquer grito. Quando a porta se fechou e ficamos só nós dois, ela me enfrentou. — Olha só, meu cachê já foi pago. Não existe devolução de dinheiro. Vocês desistiram, problema de vocês. Fiquei atônito. Cada palavra dela era uma porrada. — O que está fazendo, Clarisse? Ela não piscou. — Me chama de Bianca. Estou aqui contratada. Uma despedida de solteiro. Nada mais. Mas o dinheiro, não dá pra voltar, a desistência foi sua. — Que se dane o dinheiro! rosnei, a raiva transbordando. — Você é isso agora? Acompanhante de luxo? Meu peito se fechava, eu não entendia. Não podia ser real. — Onde você estava? Eu te procurei. procurei em todo lugar! E foi aí que os olhos dela mudaram. Um brilho de ódio, de dor reprimida. — Escuta. Eu não te conheço, você não me conhece. Deixa assim. Agora, se me der licença… Tentou passar, mas tudo em mim fervia, gritava enlouquecido. Bloqueei a porta com o corpo. — Eu voltei lá. Você não estava em lugar nenhum. Ela arqueou o queixo, venenosa. — É sério que quer fazer isso? Minha mandíbula travou. — O passado já morreu, Edgar. — Por que tá agindo assim? A gente precisa conversar. Ela deu uma risada seca, ácida. — Você vai casar e eu sou acompanhante de luxo. As palavras dela me cortaram. — Não é o suficiente? Neguei contrariado, mas ela não dava espaço. — Foi bom te ver de novo e bom casamento. completou, com aquele tom que só queria fugir. Fiquei parado, olhando a mulher que já tinha sido minha vida inteira me tratar como um estranho. Meu peito queimava, minha mente gritava. Depois de tudo… depois de tantos anos… é assim que acaba? Não. Eu não aceito. Eu não ia deixar ela sair. Não depois de tudo. Não depois de vê-la ali, tão perto, tão viva, mesmo que fria como nunca. — Eu não entendo… minha voz saiu mais baixa, rouca. — Por que você tá me tratando assim? Ela ergueu o rosto, impaciente, como se estivesse diante de qualquer estranho. — Olha pra mim, Clarisse. avancei um passo, meu peito queimando. — É só eu aqui. O mesmo cara. Fala comigo. Ela baixou os olhos, olhou o relógio com desdém. — Não posso perder tempo. Aquilo me feriu como lâmina. E rápido, antes que ela tentasse me contornar de novo, soltei: — Você ainda está nessa maldita despedida, não está? minha voz endureceu. — O horário foi pago, não foi? Então… você tem que ficar. Por um instante, vi o olhar dela vacilar. Mas logo ergueu o queixo, firme, inabalável. — E então? os lábios dela se curvaram num sorriso gelado. — O que quer que eu faça? Posso dançar, se quiser. Meu estômago embrulhou. — Como você chegou a isso? perguntei, incrédulo. Ela revirou os olhos com indiferença calculada. — Eu quero uma bebida. Posso? — Me responde! avancei mais um passo. — Eu não vim aqui pra responder. retrucou, fria, antes de caminhar até a mesa, pegar um copo e virar o líquido de uma vez, sem sequer desviar os olhos dos meus. Passei a mão na têmpora, tentando me segurar. Mas nada fazia sentido. Nada. A não ser aqueles infelizes... Foi eles? Eles armaram esse show? Mas como!? Olhei pra ela negando. — Eles te procuraram é isso? questionei, a voz já rasgando. — Quem contou pra eles sobre você? — Eu não sei do que você está falando. disse sem emoção, como se fosse uma mentira treinada. Neguei com a cabeça, raiva e desespero misturados. — Não é possível… não é possível que depois de tantos anos você apareça justamente aqui, no meio dessa brincadeira i****a deles… sem ser de propósito! Ela permaneceu em silêncio, bebendo outro gole, como se quisesse me torturar com a indiferença. Foi a gota. Avancei de vez, abrupto, o coração martelando. — Fala, Clarisse! minha voz quebrou, entre raiva e súplica. — Por que tá fazendo isso comigo?! ....
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