Eu só preciso de um jeito pra contar.

1181 Words
Assim que ajeitei minha roupa e saí da sala, o celular vibrou no bolso. Liana. Suspirei antes mesmo de atender. — Aonde você está? Ja estou no buffet, Amor… a voz dela soou apressada, mas carregada de ansiedade. — Estamos só te esperando.. até meu pai está aqui. Revirei os olhos sozinho no corredor. Respirei fundo. — Liana… eu ainda estou na empresa. Você sabe que eu não entendo nada de flores ou ornamentação. escolha tudo, Vai ficar perfeito do jeito que você escolher. O silêncio dela do outro lado foi mais pesado do que qualquer resposta. Até que veio, baixa, quase triste: — Você anda tão distante… o que está acontecendo com você? Abri a porta do carro e deslizei para o banco do motorista. Passei a mão pela nuca, buscando paciência que não existia. — Só estou correndo contra o tempo, Liana. É isso. — Não, Edgar… o tom dela vacilou, parecia quebrar. — Não é só isso. Você não gosta de ficar na casa dos seus pais… desde que chegamos lá, você m*l me toca, foge de mim, é por isso? Está com raiva de mim também? Fechei os olhos por um segundo, sentindo a exaustão bater. — Não, não é isso. — Eu só quero que a gente fique bem… A voz dela ficou molhada de choro. — Seremos uma família agora. Tudo que sua mãe fez foi para que a gente pudesse estar junto. Nós vamos nos casar, amor. Por que você ainda a odeia tanto? Cada palavra dela latejou na minha cabeça. A velha ferida aberta. Respirei fundo, tentando não deixar a raiva transbordar. — Você tem coisas mais importantes com o que se preocupar agora. Minha voz saiu seca, quase cortante. Ela sentiu. Eu sabia. — Seu pai perguntou por você hoje… veio o golpe final, com aquele tom choroso, me culpando de um jeito que só ela conseguia. — Acaba com isso, Edgar. Antes do casamento, por favor… O clique frio do desligar me deixou sozinho com meu próprio peso. Me senti uma merda. Sempre que ela chorava, eu me sentia o vilão. E foi assim que cedi. Não por mim. Nunca por mim. Dirigi até a casa. Meu pai estava na varanda, sentado na poltrona, o olhar perdido em algum ponto que não existia. Parecia menor, mais velho. Mais frágil. Me sentei na poltrona ao lado. O silêncio se estendeu por longos segundos até que ele quebrou. — Você nunca vai me perdoar, Edgar? Olhei para frente, sem coragem de encará-lo. — Eu só espero ser um homem diferente do que você foi. Que não faça o mesmo com a Julien. minha voz saiu firme, mas carregada de rancor. — A sorte dela é não ser filha da minha mãe. Ele abaixou o rosto, e eu completei: — Só estou aqui porque Liana pediu. Um silêncio pesado se instalou de novo. Então percebi o tremor leve da mão dele. Ele tentou segurar firme, mas falhou. Colocou a outra por cima, como se tentasse conter a própria fragilidade. Parkinson. A imagem me cortou. A raiva que eu carregava desde sempre vacilou. Vi meu pai pequeno, vencido. Ele era meu exemplo, meu refúgio. Como tudo se acabou assim? — Eu sei o que fiz a você, sei que não cumpri o que prometi, mas eu tentei filho. Respirei fundo, minha garganta queimando. Eu sabia... Mas a cada dia que passava e eu não a encontrava, eu o culpava ainda mais. Era nele que eu jogava a frustração de ter perdido alguém por sua promessa. Mas sabia que sua intenção foi tão genuína como a minha foi na época. E agora.. eu já tinha encontrado ela de novo. A dor já não tinha mais o mesmo peso. — Eu te perdoo, pai. falei, quase sem acreditar. — Você foi tão vítima da minha mãe quanto eu. Ele ergueu os olhos marejados e, com a voz embargada, disse: — Liana é uma boa mulher. Vai ser uma boa esposa pra você. Não a magoe, filho… Mas já era tarde de mais para aquele pedido. .... ALGUMAS HORAS DEPOIS: Estava no quarto, tentando organizar a bagunça da minha cabeça, após um banho quente e trocar as roupas que carregavam o cheiro gostoso de Clarisse. quando ouvi Liana se aproximando, após entrar. Não fui a buffet nenhum, não era algo que sentiria prazer em fazer. Minha paciência estava se esgotando, a cada dia que passava mais certo do que eu queria, eu ficava. E eu precisava de um motivo pra que eu conseguisse sair disso. Não diria nada sobre a Clarisse, não deixaria isso recair sobre ela, quando o major culpado era eu. Porque não era liana que eu eu queria, era ela... Sempre foi ela e agora ela me deu um passe livre pra entrar de novo. E caramba, eu queria pra c*****o entrar nisso. Mesmo que fizesse as maiores atrocidades cometidas. — Edgar… ela chamou, a voz alterada, cheia de descontentamento. Não respondi. Eu ainda precisava de tempo pra colocar meus pensamentos em ordem. Ela entrou no closset me vendo ali. — porque você não foi? Estava te esperando, todo mundo te esperou. disse, com olhos intensos . — Desde que a gente vejo pra cá, tá… diferente. Como se eu fosse um peso, e não sua noiva. Ela olhou em volta e levou a mão a boca. — Que cheiro é nesse? Eu sabia que o perfume de Clarisse ainda estava ali, doce, intenso, sedutor. E agora, Liana sentiu. Franziu o cenho, com uma expressão que misturava irritação e curiosidade. — Que perfume é esse? ela perguntou, puxando a respiração como se fosse me acusar de algo. — Tá tentando me irritar? — Não… murmurei, incapaz de me explicar. Não queria discutir, mas ela não deixava, virei pra ela sério. — Não tenta me controlar liana, não gosto disso e você sabe muito bem. Ela se revoltou. Porque sabia que ela estava fazendo a mesma coisa que minha mãe fazia. Tentando me amarrar, fazer todos os seus caprichos com fragilidade barata. E eu fiz... Mas tudo tinha limite. — Não me olhe assim! ela continuou, a voz subindo. — Eu não estou te controlando, mas você não quer saber de nada desse casamento, falta dias Edgar, dias! eu não sei mais o que fazer com você! Respirei fundo, tentando não explodir, mas a tensão acumulada me corroía. — Não funciono sobre pressão liana, se está tão insatisfeita com esse casamento ou como reajo, o melhor seria adia-lo. falei firme, tentando conter a raiva. — Adiar? Edgar! Ela riu, mas era um riso seco, incrédula: — O que está acontecendo com você? Desde aquela despedida i****a do Edu, você está assim? E ele não me diz o que aconteceu lá! — Não aconteceu nada. tentei, mas não havia palavra que justificasse tudo. E então ela soltou a bomba: — Eu não sei o que eu fiz pra merecer isso... Porque você faz isso comigo? Suas mãos foi ao rosto, o choro.. há dr#ga, aquele maldito choro que me faz sentir o maior filho da p**a. ....
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